Investir o 13º é oportunidade para quem tem um bom planejamento financeiro

Por JÚLIA MOURA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A conta mais recheada no final de ano com o 13º pode ser uma armadilha para quem não consegue segurar os gastos no Natal. Mas, para quem tem um bom planejamento financeiro, essa pode ser uma excelente oportunidade para investir, dizem especialistas.

Para quem não tem dívidas e já garantiu a reserva de emergência, pelo menos uma parcela do benefício deve ser alocada em ativos de renda fixa ou variável, sempre obedecendo às regras de ouro para investir: adequar a carteira ao seu perfil de risco e diversificar ao máximo os ativos que a compõem.

"Para quem quer alcançar uma liberdade financeira mais rapidamente, é preciso controlar o bolso e investir. Quanto mais cedo conseguir fazer o dinheiro trabalhar por você, melhor", diz Heitor Martins, estrategista de investimentos e sócio da Nexgen Capital.

Apesar de a Selic estar em queda, os juros reais (acima da inflação) ainda estão atrativos, dizem analistas. Uma boa forma de aproveitá-los é investindo em títulos do Tesouro Direto e em CDBs de bancos menores.

"No atual ciclo de queda de juros, é importante ter uma parte dos investimentos em títulos prefixados. Dentro da classe de renda fixa, o crédito privado também pode ser uma alternativa, especialmente os isentos de Imposto de Renda, como debêntures incentivadas, CRI e CRA", afirma Erica Santos, coordenadora da Nova Futura Private.

Segundo cálculos do C6 Bank, o Tesouro Selic oferece atualmente uma rentabilidade anual líquida (descontando o IR) de 8,79%. Já um CDB a 105% do CDI paga 9,19% líquidos, e um CDB prefixado, que não tem liquidez diária, paga, em média, 10,60%.

Considerando a inflação prevista de 4,53% em 2023 e de 3,91% em 2024, há um juro real de mais de 4% nesses instrumentos de renda fixa mais conservadores.

Por enquanto, os títulos atrelados à inflação do Tesouro pagam ainda mais. O IPCA+ para 2029 está com uma remuneração real de 5,44%.

"Com a queda da Selic, orientamos os investidores a desconcentrar as aplicações em CDI e ampliar a diversificação em outras modalidades, como títulos prefixados ou os IPCA+", diz Denys Wiese, estrategista de investimentos e cofundador da EQI Investimentos

O Tesouro Prefixado com vencimento em 2026 está com um juro anual de 9,93%, enquanto o para 2029 rende 10,52%.

Wiese recomenda que os investidores que aceitam mais risco, como os moderados e arrojados, adicionem mais risco à carteira para não perder rentabilidade com a queda da Selic a 9,25% no próximo ano.

"Com a queda de juros, a renda variável tende a se beneficiar até a inflação e a Selic voltarem a subir."

Segundo Lucas Serra, analista da Toro Investimentos, o Ibovespa está barato. O indicador P/L (preço sobre lucro) do principal índice da Bolsa de Valores está em 7,9, o que significa que, apenas com a distribuição do lucro das empresas que compõem o indicador, o investimento se paga em quase oito anos. Esse é o menor P/L desde 2001, bem abaixo da média histórica de 12,8 e da média atual de países emergentes, de 12,3.

Além de ações, Wiese, da EQI, também recomenda fundos multimercados e imobiliários ligados de tijolo (ligados a aluguéis e vendas de imóveis), além de investimentos no exterior ou atrelados ao dólar. "O câmbio está em um patamar atrativo. A renda fixa americana é a melhor opção no momento", diz Wiese.

A taxa de juros nos EUA está na faixa de 5,25% a 5,50%, maior patamar desde 2001. O mercado projeta que ela deva começar a cair no ritmo de 0,25 ponto porcentual ao mês a partir de maio. Hoje, o brasileiro consegue acessar títulos de renda fixa americanos na B3 via BDRs (recibos depositários de ativos negociados no exterior.

"O objetivo de longo prazo é construir capital financeiro e imobiliário que te traga independência financeira no futuro. Se você não consegue poupar, é indisciplinado, aí talvez seja melhor fazer uma previdência privada com débito em conta todo mês", afirma Wiese.

Segundo a simulação do C6 Bank, a rentabilidade média líquida de um fundo de previdência privada mais agressivo, que investe em dívidas de empresas, é de 9,96% ao ano.