Alckmin diz que integração se dá 'em avanços pontuais' em meio à 'fragmentação das relações internacionais'

Por CAMILA ZARUR

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin (PSB), afirmou em discurso na Cúpula do Mercosul que, em um momento da "fragmentação das relações internacionais", a integração se dá "no dia a dia com avanços pontuais".

A fala foi feita nesta quarta-feira (5), durante a reunião do Conselho do Mercado Comum do bloco, na qual Alckmin participa como representante brasileiro junto com os ministros das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e do Planejamento, Simone Tebet (MDB).

A declaração do vice-presidente é feita em um momento de esfriamento das negociações para fechar o acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia. Havia a expectativa de que o pacto fosse anunciado ao fim da cúpula, mas o Brasil já descarta que isso aconteça.

No último sábado (2), o presidente da França, Emmanuel Macron, contrário ao pacto, afirmou que os termos estão "antiquados".

"Entendemos que no momento de aparente fragmentação das relações internacionais, o caminho da integração continua a ser relevante e pode dar resultados concretos. A integração não se faz apenas com grandes gestos e grandes acordos. Faz-se também no dia a dia com avanços pontuais que destravam barreiras e criam oportunidades", discursou Alckmin.

A fala do vice-presidente, sobre uma eventual fragilização das relações entre os países, também encontram eco nas dúvidas do bloco de como se posicionará o novo governo argentino a respeito do Mercosul.

O presidente eleito, Javier Milei, que toma posse neste domingo (10), fez críticas ao bloco durante a campanha argentina. E a delegação do país chegou esvaziada à cúpula, sem a presença do ministro da Economia, Sergio Massa, derrotado na eleição, e do chanceler Santiago Cafiero. Os dois eram previstos para a reunião de hoje, mas desmarcaram sua participação.

Alckimin, no entanto, mostrou-se otimista no discurso sobre as negociações do acordo Mercosul-União Europeia. Ele afirmou que houve "avanços importantes" nas conversas entre os líderes dos blocos.

"Destaco os compromissos de ambos os lados em prol de um entendimento equilibrado no futuro próximo e a partir das bases sólidas que construímos nos últimos meses de engajamento intenso", disse.

Durante a cúpula, que termina nesta quinta-feira (7), haveria uma reunião presencial entre os membros do Mercosul para discutir sobre o acordo com o bloco europeu. No entanto, com o esfriamento das negociações, o encontro foi desmarcado e será feito virtualmente. Representantes dos países sul-americanos preferem aguardar qual será a posição do governo Milei. A futura chanceler argentina, Diana Mondino, afirmou que pretende fechar o acordo "algum dia".

Mesmo sem o anúncio do pacto com a União Europeia, o vice-presidente prometeu resultados concretos durante a Cúpula do Mercosul, que acontece no Rio de Janeiro. Como exemplo, ele citou a assinatura do acordo do bloco sul-americano com a Singapura, o primeiro em 12 anos com um país fora do bloco.

"Teremos a assinatura do acordo de livre-comércio com Singapura, que envolve não apenas mercadorias, mas favorece investimentos, fluxos de tecnologia, serviços, movimento de pessoas e segurança jurídica. Porta de entrada para a Ásia e para a ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático). Este será o primeiro acordo de livre-comércio do Mercosul em mais de 10 anos e o primeiro com o país asiático", afirmou.

Por fim, Alckmin também defendeu o aumento do comércio entre os países do Mercosul e afirmou que o bloco tem potencial para se tornar uma potência na área energética e na agenda do comércio sustentável.

"No Mercosul, [a densidade do comércio intrabloco é de] apenas 10%. O comércio intrabloco tem crescido, mas precisamos mudar esse quadro. O Mercosul é importante para o Brasil, nosso quarto maior parceiro comercial. Além disso, cerca de 80% da pauta comercial é de produtos manufaturados e semimanufaturados. Nossos parceiros do bloco são essenciais no projeto de neoindustrialização".

O vice-presidente completou: "Somos certamente uma potência na área energética e podemos dar um salto na exploração, transporte e agregação de valor dos nossos recursos naturais. É fundamental avançar na agenda do comércio com sustentabilidade".