Dois terços dos brasileiros não têm nenhuma reserva financeira
Quase a metade da população com 16 anos ou mais também não contribui para a Previdência, o que sugere um futuro financeiro sombrio na velhice.
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A maioria dos brasileiros não tem guardado nenhum dinheiro como reserva para emergências ou em caso de perda de renda do trabalho. Quase a metade da população com 16 anos ou mais também não contribui para a Previdência, o que sugere um futuro financeiro sombrio na velhice.
Os dados constam de pesquisa nacional Datafolha realizada no dia 5 de dezembro em 135 municípios. Foram ouvidas 2.004 pessoas e a margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
Segundo o levantamento, 67% dos brasileiros (dois terços) não têm qualquer reserva financeira para atender contratempos maiores. Os que têm algum dinheiro guardado para manter o mesmo padrão de vida por um período menor que três meses também são poucos: 10%.
Apenas 6% consideram ter reservas para se manter entre seis meses e um ano. Outros 6% privilegiados afirmam que sua poupança poderia sustentá-los, sem rebaixar o padrão, por mais de um ano.
A pesquisa mostra também que apenas 52% dos brasileiros contribui para o sistema oficial do INSS. Por meio de contribuições mensais ao longo da vida ativa, a Previdência garante aposentadorias mensais entre R$ 1.320,00 e R$ 7.507,49.
Apenas uma parcela pequena (13%) declarou ter algum plano de previdência privada, normalmente contratado para reforçar os proventos da Previdência na hora de se aposentar.
Outro dado preocupante da pesquisa é que diminuiu de 12% para 8%, nos últimos cinco anos, o total de brasileiros que de alguma maneira se prepara para a aposentadoria.
Um atenuante nesse quadro é que mais de um terço dos brasileiros (36%) declaram aplicar dinheiro em caderneta de poupança ou em algum outro tipo de investimento.
Cálculos recentes do Centro de Estudos de Mercado de Capitais da Fundação Instituto de Pesquisa Econômica (Cemec/Fipe) mostraram que o nível de poupança das famílias brasileiras cresceu de 2019 a 2023.
A partir de estimativas de renda disponível para a pessoa física e do fluxo de poupança das famílias, com dados da caderneta de poupança e de outros ativos financeiros (como renda fixa e ações), o estudo mostrou que, no período, as famílias brasileiras acumularam R$ 760 bilhões.
Cerca de R$ 500 bilhões do total foram poupados entre 2020 e 2021, quando a pandemia reduziu a movimentação e o consumo das famílias; houve também a introdução do Auxílio Emergencial. No primeiro trimestre de 2021, o brasileiro chegou a economizar mais de R$ 19 para cada R$ 100 que recebia. Entre 2017 e 2019, essa proporção oscilou perto de zero.
Levando-se em conta os dados do Datafolha, no entanto, é possível inferir que o grosso dessa poupança acumulada pertence às famílias mais ricas, já que 67% declaram não ter reserva financeira alguma.
O Datafolha também questionou os brasileiros sobre o uso de alguns produtos financeiros e modalidades de financiamento.
Declararam ter cartão de crédito 56% dos entrevistados, um aumento substancial em relação aos 41% que o fizeram no final de 2015. Os que afirmam ter cartão de crédito e dívidas em atraso relacionadas ao instrumento são 10%.
O maior uso do cartão de crédito reflete o crescimento da bancarização da população brasileira, sobretudo por meio de instituições financeiras digitais. Segundo o Banco Central, cerca de 190 milhões de pessoas (82% da população) possuíam conta-corrente ao final de 2022. Cinco anos antes, eram 154 milhões (57%).
Segundo o Datafolha, outros 19% afirmaram ter recorrido a empréstimos bancários nos últimos seis meses, mas apenas 3% dizem estar com parcelas em atraso. Segundo a pesquisa, a grande maioria da população, contudo, não recorre a financiamentos para a compra de imóveis (93%) ou veículos (88%).
Mais do que prudência na hora de se endividar, os dados respaldam o alto nível de concentração de renda no Brasil. Segundo pesquisa recente do IBGE, enquanto a renda mensal média per capita do 1% mais rico no país foi de R$ 17.447 em 2022, a da metade mais pobre era de R$ 537 mensais, ou menos de R$ 18 ao dia.
Ainda em relação aos mais pobres, a pesquisa Datafolha também mostrou que um quarto da população (24%) recebe o Bolsa Família --percentual muito próximo ao de levantamentos em anos anteriores.