Bolsa tem forte queda e dólar sobe a R$ 4,92 com menor otimismo sobre queda de juros

Por Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Bolsa brasileira começou o dia em queda, acompanhando os índices do exterior, e o dólar subia nesta terça-feira (16), com investidores mais cautelosos em relação ao início do ciclo de queda de juros nos Estados Unidos. A escalada da tensão no Oriente Médio também preocupa o mercado.

"Manhã negativa para as Bolsas, em meio à indigestão com o ataque do Irã às redondezas do consulado americano no Iraque, além da alta de juros globais, após falas conservadoras de diretores do BCE [Banco Central Europeu], com os índices americanos perdendo a sequência de seis altas seguidas", diz Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos.

A situação piorou após o diretor do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) ter afirmado que a autoridade monetária não deve se apressar em cortar sua taxa básica de juros até que esteja claro que a baixa da inflação será sustentada.

Às 17h06, o Ibovespa recuava 1,49%, aos 129.558 pontos, e o dólar subiu 1,20%, terminando o dia cotado a R$ 4,924.

Nos Estados Unidos, os principais índices de ações operavam em baixa, puxando os ativos locais. O Dow Jones, o S&P 500 e o Nasdaq recuavam 0,76%, 0,55% e 0,53%, respectivamente.

"Os mercados estão avaliando quando é que o Fed começa a cortar juros e qual será a velocidade desse corte. Hoje, o mercado está fazendo essa avaliação e colocando isso de volta nos preços. É fundamentalmente isso. Nenhuma grande mudança. É um desconforto do mercado, já que no final do ano a alta foi rápida e agora o mercado está refazendo as contas", afirma Luís Moran, head da EQI Research.

Mais cedo, o chefe do banco central português, Mario Centeno, disse que um corte na taxa de juros deve fazer parte da discussão e que nenhuma opção deve ser retirada da mesa.

"Quando chegar a hora, discutiremos os cortes nas taxas", disse Centeno à Reuters. "Se você me perguntar se este é o momento, acho que precisamos estar preparados para discutir todos os tópicos, e ser dependente de dados significa levar todos os dados em consideração."

Seus comentários foram feitos depois que uma série de conservadores, incluindo Isabel Schnabel, membro do conselho do BCE, e Joachim Nagel, chefe do banco central alemão, disseram que era muito cedo para ter essa conversa.

A manutenção de juros altos por mais tempo nas economias avançadas tende a prejudicar a atratividade de divisas emergentes, como o real, uma vez que deixa moedas como o dólar e o euro ?já preferidas por serem extremamente seguras? mais rentáveis para investidores estrangeiros.

O índice do dólar contra seis moedas rivais avançava 0,95% por volta das 15h (de Brasília), em linha com salto nos rendimentos dos títulos do Tesouro americano, os chamados "treasuries".

"A gente vê um estresse na curva de juros americana, indicando que isso, de alguma forma, é também uma espécie de fuga para o seguro; o mercado, não só aqui no Brasil, mas no mundo inteiro, está comprando dólar para se proteger, eventualmente, de um aumento nas tensões no Oriente Médio", disse Thiago Lourenço, operador da Manchester Investimentos.

A Guarda Revolucionária do Irã disse ter atacado a sede de espionagem de Israel na região semi-autônoma do Curdistão iraquiano, informou a mídia estatal na noite de segunda-feira, em uma área residencial próxima ao consulado dos EUA.

Os ataques ocorrem em meio a preocupações sobre a escalada de um conflito que se espalhou pelo Oriente Médio desde que a guerra entre Israel e o grupo islâmico palestino Hamas começou, em 7 de outubro.

JUROS FUTUROS PRESSIONAM IBOVESPA

No cenário local, o dia é de forte alta nos mercado de juros futuros brasileiros. Os contratos com vencimento em janeiro de 2025 saíam de 10,06% para 10,12%, enquanto os para 2027 saíam de 9,76% para 9,93%.

Com isso, todas as empresas do Ibovespa operavam em queda, com as maiores perdas sendo de Raízen, Azul e Gol, que caíam cerca de 6%.

As empresas de maior volume, no entanto, eram as que faziam maior pressão no índice. Vale e Petrobras, as duas de maior peso do Ibovespa, caíam 1,64% e 1,01%, respectivamente, e eram as mais negociadas da sessão.