Com nascimentos em baixa, China acelera queda da população

Por NELSON DE SÁ

TAIPÉ, TAIWAN (FOLHAPRESS) - Pelo segundo ano consecutivo, a China viu sua população diminuir em 2023 para 1,409 bilhão de pessoas, contra 1,411 bilhão no ano anterior, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas, em relatório divulgado na manhã de quarta-feira em Pequim (noite de terça em Brasília).

A queda foi o dobro da anterior ?que havia sido a primeira desde 1961. É resultado da diminuição nos nascimentos, que ficaram em 9,02 milhões em 2023, contra 9,56 milhões no ano anterior, e do aumento das mortes, que chegaram a 11,1 milhões, contra 10,4 milhões no ano anterior.

O ano apresentou a menor taxa de natalidade já registrada, com 6,39 nascimentos por mil pessoas. No ano anterior, foram 6,77 nascimentos.

A diminuição da população tem reflexo nas perspectivas para a economia, em aspectos como a demanda já frágil por imóveis e o consumo de maneira geral.

O informe sobre população foi divulgado junto com os dados econômicos do ano passado, como o crescimento de 5,2% do PIB, mas também a diminuição de 7,8% nos gastos com construção e decoração, parte da crise imobiliária chinesa.

Para Cecilia Machado, economista-chefe do Banco BoCom BBM, "os dados demográficos, com decréscimo populacional e um aumento da taxa de urbanização, confirmam a expectativa de que a urbanização e o crescimento populacional não devem ser capazes de sustentar o setor de 'housing' [habitação], que deve perder relevância ao longo do tempo".

O anúncio do relatório coincidiu com a proposta por demógrafos chineses, em mídia estatal, de ampliar as políticas públicas de apoio à natalidade. Seriam ações como subsidiar profissionais e parentes que cuidem de bebês e promover mais empregos para mulheres.

Também visando aliviar a ansiedade com o impacto financeiro e pessoal de ter filhos, é sugerido mais suporte financeiro a serviços de saúde, casamento e até de relacionamento, com a avaliação de que deve ser um programa persistente, de longo prazo.

Também foi divulgada pelo governo chinês uma nova diretriz, voltada à "economia de prata", como são qualificadas as atividades que envolvem produtos e serviços para os mais velhos. Em 2035, avalia o documento, o setor poderia estar valendo 30 trilhões de yuans (US$ 4,18 trilhões).

Entre as medidas, estabelecer parques industriais para "economia de prata", nas regiões de Pequim e Guandong-Hong Kong, e o apoio do governo central a novas estruturas para cuidados dos idosos.

A China não está sozinha, na Ásia, em queda de população. Entre outros, também Japão, Coreia do Sul e Taiwan enfrentam baixas taxas de natalidade, com reflexos econômicos e sociais, inclusive a falta de demanda pelas vagas no sistema educacional.