Dólar abre em alta e atinge marca dos R$ 5 nesta terça (23)

Por Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após um pregão de aversão a risco, o mercado financeiro abriu com uma leve alta nesta terça-feira (23), atingindo a marca psicológica dos R$ 5 para venda logo na abertura da sessão.

Às 9h03, o dólar subia 0,24%, cotado a R$ 5, com investidores monitorando com maior pessimismo a perspectiva fiscal do Brasil, de olho ainda nas expectativas sobre cortes de juros nos Estados Unidos.

Na segunda (22), investidores ficaram receosos com o plano do governo de Lula para impulsionar a indústria do país nos próximos dez anos. Serão R$ 300 bilhões via linhas de crédito, subsídios e exigências de conteúdo local, administrados em maior parte pelo BNDES, para fomentar empresas nacionais ?políticas já empregadas em gestões anteriores do PT e que se tornaram alvo de críticas de economistas.

Após o governo anunciar o pacote, o dólar acelerou a alta ante o real e fechou com ganhos de 1,20%, a R$ 4,9866, maior valor desde 31 de outubro, quando estava a R$ 5,04.

Na sessão, o real foi a moeda que mais se desvalorizou ante o dólar a nível global, em um pregão em que a moeda americana teve leve ganho de 0,05% ante as principais divisas, de acordo com dados da Bloomberg.

Já a Bolsa brasileira, que começou o dia estável, cedeu 0,81%, a 126.602 pontos.

"[O anúncio] traz uma preocupação com relação ao fiscal, é uma questão crônica das contas públicas. Um plano de financiamento de R$ 300 bilhões gera uma incerteza muito grande no curto prazo", diz Gustavo Bertotti, economista-chefe da Messem Investimentos.

Segundo o economista, há também uma preocupação com o impacto do fomento na inflação brasileira, o que poderia impactar o ciclo de redução da Selic. Economistas esperam que a taxa básica de juros caia a 9% ao fim deste ano, aponta a pesquisa Focus desta segunda. para o dólar, a previsão é que ele termine 2024 a R$ 4,92.

"O anúncio reforça as preocupações com o equilíbrio fiscal e mostra que o governo está disposto a gastar para sustentar o crescimento da economia", afirma Thiago Pedroso, responsável pela mesa de renda variável da Criteria.

Parte dos recursos será arrecadado via títulos de dívida dos bancos púbicos, algo que não entra na conta do arcabouço fiscal.

Mesmo assim, o projeto pode ser mais negativo que positivo ao Brasil, diz Gabriel Leal de Barros, sócio e economista-chefe da Ryo Asset e ex-diretor da Ifi (Instituição Fiscal Independente) do Senado.

"A literatura internacional e experiência empírica do país mostram que estes programas não funcionam na sua grande maioria, sendo útil revisitar o fracasso em termos de alocação de capital na indústria naval, por exemplo", afirma Leal de Barros.

O aumento da insegurança fez os contratos de juros futuros de longo prazo subirem. O contrato de DI para janeiro de 2026 foi de 9,8893% na sexta (19), para 9,9469% nesta segunda, segundo dados da Bloomberg. Já a precificação para o juro de 2030 foi de 10,5473% para 10,6113%.

"Há forte incerteza fiscal com relação à fonte de financiamento desse programa de governo, além das prováveis distorções futuras promovidas nos mercados afetados pela política industrial. A nova proposta parece uma reconfiguração da política falha dos ?Campeões Nacionais? feita no governo Dilma, onde o favorecimento de determinadas empresas reverberou em dinâmicas inflacionárias insustentáveis", afirma Yuri Alves, economista da Guide Investimentos.

Investidores também operaram à espera da decisão de política monetária do BCE (Banco Central Europeu), desta quinta-feira (25), e da divulgação de dados econômicos nos Estados Unidos antes da reunião do Fed (BC americano), no fim do mês. O principal deles é a inflação de dezembro, que sai nesta sexta (26).

Em meio a dados recentes mostrando uma economia americana robusta, agentes financeiros têm ajustados apostas sobre o começo e o tamanho de um bastante aguardado ciclo de cortes de juros pelo Fed. Muitos já avaliam que uma redução em março pode ser uma aposta muito otimista.

Há uma semana, 77% das apostas segundo a plataforma CME eram de um corte de 0,25 ponto percentual em março. Agora, elas são minoria, somando 40,5%.

O economista-chefe da Genial Investimentos, José Marcio Camargo, escreveu em relatório a clientes que a política monetária do Fed é "muito dependente dos dados e, desta forma, gera grande volatilidade nos preços dos ativos financeiros" conforme novas informações são divulgadas.

Isso tem afetado particularmente mercados emergentes, como o Brasil, que tendem a se beneficiar de perspectivas de juros mais baixos em economias como os Estados Unidos. Até sexta, o índice MSCI para mercado emergentes acumulava uma queda de 5,16% no mês.

Em Wall Street, os principais índices acionários subiram nesta segunda impulsionados pela corrida da IA (inteligência artificial) nas big techs e renovam suas pontuações máximas. O S&P 500 teve alta de 0,22% e o Dow Jones, de 0,36%, ambos renovando suas pontuações recordes. Já o Nasdaq subiu 0,32%, mas sem superar o seu pico de 2021.