Planejamento do IBGE sob Pochmann prevê programa na TV Brasil e 'cultura de lives'
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O plano de trabalho do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para 2024 prevê ações como a criação de um programa televisivo em parceria com a TV Brasil, a realização de lives e o lançamento de um robô de inteligência artificial.
O documento de 94 páginas foi construído a partir de diálogos com servidores da casa, segundo a gestão do economista Marcio Pochmann, que assumiu a presidência da instituição em meio a contestações em agosto de 2023.
Pochmann apresentou o plano à ministra Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) no final de janeiro. O IBGE está vinculado à pasta comandada por Tebet no governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O plano traz projetos para as diferentes estruturas que compõem o instituto. A criação de um programa em parceria com a TV Brasil, por exemplo, abrange o CDDI (Centro de Documentação e Disseminação de Informações), responsável pela divulgação de materiais do IBGE.
Conforme o documento, a atração televisiva seria semanal, mostrando "o que é produzido, debatido e o que está em produção pelo Brasil e no mundo". A ideia é reunir técnicos, autoridades e outros representantes da sociedade.
A EBC (Empresa Brasil de Comunicação), porém, afirmou à Folha que o seu plano de trabalho para 2024, aprovado pelo conselho de administração da estatal, não prevê a produção ou a veiculação de programa em parceria com o IBGE na grade da TV Brasil neste período. A EBC é responsável pela emissora.
Ainda no âmbito do CDDI, o plano do instituto projeta a criação de contas no WhatsApp e no Telegram e a formação de uma "cultura de lives".
"O objetivo é criar canais diretos neste formato mais acessado e com características de compartilhamento, para os interessados em receber as informações em geral do IBGE. Em especial, com a transmissão em lives das redes sociais e apps", aponta o planejamento.
Após assumir a presidência do instituto, Pochmann se envolveu em uma polêmica ao declarar em outubro que a comunicação adotada pelo IBGE era "do passado".
O economista se referia ao modelo de entrevistas coletivas, que segue em vigor para a divulgação de pesquisas e que permite à imprensa questionar os técnicos responsáveis pelos dados.
O plano para 2024 também prevê a criação do "robô de inteligência artificial do IBGE" a partir de um concurso nacional de robótica e IA, que deve ser lançado no aniversário do órgão, em maio.
O objetivo, segundo o documento, é que o robô possa ser usado como recepcionista em eventos e superintendências do instituto.
Procurado pela Folha, o IBGE não se manifestou sobre as ideias contidas no plano. No documento, o instituto diz que o trabalho representa "uma prestação de contas e informação à sociedade a respeito do que faz e pretende fazer o IBGE".
O texto de apresentação do plano é assinado por Pochmann. Um dos trechos afirma que, em período recente, a instituição "vivenciou significativo desmonte físico, pessoal e orçamentário, que ocasionou um dos piores retrocessos em sua atuação em quase 90 anos de existência".
Outra parte do texto aponta que o conjunto de estatísticas, geociências e dados oficiais do Brasil se encontra exposto a "gravíssimas vulnerabilidades que precisam ser urgentemente enfrentadas".
Uma delas estaria associada ao suposto "comprometimento da soberania dos dados imposto pela revolução informacional, conduzida desregradamente por corporações".
"O avanço do processo de datificação tem favorecido a formação de quase monopólio privado, cuja concentração econômica impacta o controle direto do conteúdo e do conjunto de dados e sua distribuição", diz o texto.
Outra vulnerabilidade apontada é a "enorme e crescente fragmentação federal" de bancos de estatísticas, registros administrativos e pesquisas.
Diante disso, o texto defende a formação do Singed (Sistema Nacional Soberano de Geociência, Estatísticas e Dados), que seria centralizado no que o documento chama de "novo IBGE".
Pochmann já havia afirmado que o mundo passa por uma revolução informacional, destacando a existência de grandes empresas de tecnologia e redes sociais. Na visão dele, o instituto acaba competindo com essas companhias.
"Essa mudança de época faz com que o IBGE não esteja mais sozinho. Ele faz parte de uma competição de empresas e instituições, muitas delas estrangeiras, que dominam os dados e que permitem inclusive conhecer mais do Brasil do que o próprio IBGE", afirmou o economista em novembro.
Durante o governo Jair Bolsonaro (PL), o órgão enfrentou dificuldades para realizar o Censo Demográfico, o principal trabalho da casa. Um dos entraves foi a restrição de verba para a contagem da população.
O levantamento foi a campo em agosto de 2022, após dois anos de atraso, e a coleta dos números só foi concluída no primeiro semestre de 2023. As divulgações dos resultados começaram no ano passado e seguem ao longo de 2024.
A próxima apresentação deve trazer informações sobre características dos domicílios brasileiros, incluindo abastecimento de água, destino do lixo, tipo de esgotamento sanitário e existência de banheiros. A publicação está agendada para 23 de fevereiro.