Associação de investidores vê ruídos na gestão da Petrobras e cobra CVM
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O presidente da Amec (Associação de Investidores no Mercado de Capitais), Fabio Coelho, afirmou nesta quinta-feira (14) ver "grave ruído" entre a Petrobras e o governo e cobrou ação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
Na sexta (8), o valor de mercado da estatal caiu após anúncio da retenção dos dividendos extraordinários sobre o lucro de 2023, o segundo maior da história da companhia.
A decisão foi tomada pelo governo, segundo afirmou o próprio presidente da estatal, Jean Paul Prates.
O executivo voltou a se manifestar nesta quinta e defendeu que ele tem "todo o direito de conversar com o presidente da República e de receber ministros", já que o Estado brasileiro é acionista majoritário da companhia.
Em nota, o presidente da Amec diz que "estamos em um momento bastante sensível da companhia, no qual o noticiário mostra um grave ruído na comunicação entre a empresa e seus acionistas privados, e entre a empresa e o próprio acionista controlador".
Segundo ele, a sensação é que os canais institucionais da empresa não estão sendo respeitados, já que ministros e o próprio presidente "têm se manifestado sobre a companhia e, portanto, influenciando a leitura dos investidores sobre o cumprimento dos seus planos de investimento, sobre a estratégia da empresa, entre outros".
"Isso influencia o mercado de maneira negativa, trazendo volatilidade absolutamente desnecessária", afirma. "Mas, não bastasse, também vemos o distanciamento da empresa para com seus acionistas privados, que representam quase 50% da base acionária."
Coelho ressalta que, como acionista majoritário, "é óbvio" que o governo deve ter sua opinião respeitada. "Mas é importante que a forma de condução dos temas também seja considerada. Ou seja, que as discussões sejam feitas dentro do conselho de administração."
Na segunda-feira (11), após reunião em Brasília entre o governo e a diretoria da estatal, os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Fazenda, Fernando Haddad, deram entrevista explicando as decisões do conselho na semana anterior. Depois, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, também falou no tema.
"A gente aguarda até uma certa manifestação da própria área técnica da CVM cobrando postura dessas partes interessadas que estão se manifestando em nome da companhia. Isso não pode acontecer, sob pena de sanção", cobra o presidente da Amec.
A associação realizou nesta quinta uma reunião de investidores para se preparar para a assembleia de acionistas da Petrobras, marcada para abril, que aprovará a questão dos dividendos e renovará o conselho de administração da estatal.
Nas últimas assembleias, investidores minoritários conseguiram roubar duas vagas do governo, que tradicionalmente tinha 8 dos 11 assentos no colegiado, forçando a eleição por voto múltiplo, que elege os conselheiros individualmente e não em chapas.
A ideia é tentar manter os quatro assentos, como forma de tentar compensar ao menos parcialmente a forte influência do governo federal.
Três dos representantes dos minoritários atuais devem tentar reeleição: Juca Abdalla, Marcelo Gasparino e Francisco Petros.
Um deles, Marcelo Mesquita, não pode mais se reeleger. Outros dois nomes já foram oficialmente indicados pelas gestoras Templeton e Opportunity: Jerônimo Antunes e Aristóteles Nogueira.
O governo apresentou inicialmente à Petrobras uma lista de oito nomes, com seis que já ocupam cargos no conselho e dois novos. Mas o Ministério da Fazenda vai ganhar uma vaga, com a indicação de Rafael Dubeux, que é secretário-executivo-adjunto da pasta, o que levará a mudanças na lista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"O que os investidores estão fazendo agora é se organizando entre si para avaliar bons nomes entre os candidatos disponíveis", escreveu o presidente da Amec. "O noticiário recente mostra o contexto de um distanciamento entre as partes, o que exige bastante atenção dos acionistas."
Em publicação na rede X nesta quinta, Prates defendeu que o presidente Lula "compreende perfeitamente a governança da Petrobras e sabe que o Estado Brasileiro exerce seu controle por meio da orientação aos seus representantes no CA [conselho de administração]".
"Foi simplesmente o que ocorreu", afirmou.