BC promoveu redução de inflação com custo social 'bastante baixo', defende Campos Neto
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, respondeu nesta quinta-feira (28) às críticas do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, e afirmou que é importante promover a redução da inflação porque o aumento de preços afeta mais os mais pobres.
Um dia antes, Marinho afirmou que o Banco Central precisa estudar melhor os fundamentos da economia e afirmou que aumentar juros é a "forma burra" de se controlar a inflação. "Está faltando estudar um pouco fundamentos da economia", disse o ministro.
Nesta quinta, Campos Neto afirmou que "entende todas as críticas", mas fez a ressalva de que trazer a inflação para a meta é a missão do Banco Central. "Essa missão é estabelecida dessa forma e com grande sucesso não só no Brasil como no resto do mundo porque a inflação alta é uma coisa que gera um grande desequilíbrio muito grande de renda e é uma coisa que afeta muito mais a camada da população mais carente", disse.
"A gente tem países, Argentina, Turquia, vários exemplos, onde a inflação alta gerou uma desigualdade muito grande afetando quem mais precisava."
Campos Neto lembrou ainda que a meta é determinada pelo governo, não pelo banco, em reunião do CMN (Conselho Monetário Nacional) e que o objetivo é atingi-la "com o mínimo de custo para a sociedade possível", diminuindo os impactos no crescimento econômico, desemprego e retração de crédito.
"Ainda que essa última milha seja um pouco mais dolorida, como está sendo em vários países do mundo, o Banco Central trouxe a inflação, ou pelo menos promoveu um processo de convergência, com um custo bastante baixo. O crescimento surpreendeu para cima, o desemprego surpreendeu para baixo", disse.
Em entrevista a jornalistas, Campos Neto também respondeu aos comentários feitos pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a autonomia financeira da instituição. PEC que tramita no Congresso, defendida por Campos Neto, propõe transformar o BC em uma empresa pública com autonomia fiscal e orçamentária. À CNN, Haddad afirmou que Campos Neto não procurou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para debater a PEC sobre o tema.
Nesta quinta, Campos Neto afirmou que havia combinado com Haddad que "esse é um tema que não é pra ser tratado na mídia", por ser "bastante técnico", mas defendeu a proposta como uma modernização da instituição.
"Um Banco Central mais moderno, que faz inovação, precisava também ter uma inovação administrativa", afirmou, ressaltando que não se trata somente de aumentar a remuneração dos funcionários, tema defendido sob o argumento de que há uma defasagem em relação ao que é praticado pelo mercado.
"A gente tem hoje um orçamento para projetos que é um quarto do que era quatro anos atrás em valor nominal, se a gente pensar todas as inovações que o Banco Central fez, claramente você vê que não é suficiente", disse, defendendo que 90% dos bancos centrais do mundo que têm autonomia operacional também gozam de autonomia financeira.
Campos Neto afirmou que a PEC é um projeto do Legislativo e que o BC acompanha as discussões, como sempre faz em temas pertinentes à instituição. "O que a gente está tentando fazer é uma aproximação do legislativo com o governo", afirmou. "O legislativo está disposto a ceder, como os senadores falaram, em vários temas. Estão esperando o governo para conversar sobre isso."
O presidente do BC falou com jornalistas após a divulgação do último relatório trimestral de inflação (TRI), que melhorou a previsão da instituição para aumento do crédito e para crescimento econômico no ano.
No relatório, o BC prevê um crescimento do crédito no país de 9,4% este ano, ante estimativa de 8,8% feita em dezembro. Agora, a expectativa é que o crédito às famílias suba 10,2% em 2024, contra expectativa anterior de 9,4%. Para as empresas, a alta foi calculada em 8,0%, ante 7,7% no último relatório.
Em relação ao PIB (Produto Interno Bruto), a autoridade financeira espera agora que o país cresça 1,9% neste ano, contra patamar de 1,7% estimado em dezembro,
Por outro lado, o BC disse que a inflação cheia e a média dos núcleos que medem o aumento de preços subiram para patamares que superam a meta de inflação.
"Essa surpresa de alta se deveu aos segmentos de preços administrados e alimentação no domicílio", afirmou o BC, destacando que houve surpresa para cima no componente subjacente (que exclui itens voláteis) do segmento de serviços.
De acordo com a autoridade monetária, foi mantida em 19% a probabilidade de a inflação ultrapassar os limites do intervalo de tolerância da meta neste ano.
A meta de inflação para este ano é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos.
No relatório, o BC decompôs os principais fatores que influenciaram a alta de preços e concluiu que medidas tributárias, principalmente a reoneração dos impostos federais e o aumento do ICMS (estadual) sobre combustíveis, foram os fatores que apresentaram a principal contribuição para o desvio da inflação em relação à meta, de 1,26 ponto percentual.
De acordo com o BC, também contribuíram, em menor magnitude, as expectativas para a evolução dos preços à frente (+0,69 ponto percentual) e a inércia da inflação do ano anterior (+0,61 ponto percentual).
Em sentido contrário, a chamada inflação importada, que inclui preços de commodities e variação cambial, contribuiu para uma redução de preços (-0,91 ponto). Também houve influência da ociosidade da economia (-0,37 ponto).
Em relação à política monetária, o BC reiterou mensagem da ata do Copom (Comitê de Política Monetária) de que sua diretoria antevê novo corte de 0,50 ponto percentual na taxa básica de juros na próxima reunião, em maio.