As Pedras e a Ponte
As Pedras e a Ponte
Essa resposta fez o imperador pensar bastante. Depois de um tempo de silêncio, disse que, neste caso, não existe motivo para falar das pedras, porque é o arco que interessa. Marco Polo, então, arrematou: "Sem pedras o arco não existe."
Com este breve diálogo, o escritor Calvino representou uma questão bastante instigante: a relação das partes com o todo. A ponte é um arco de pedras, em sua unidade ela é este arco. Mas o arco é uma "unidade imaginária", porque tem suas divisões, as pedras, e sem qualquer uma delas, o arco já não pode ser o mesmo, se é que pode permanecer existindo.
Habituamo-nos, às vezes, a considerar as coisas da forma como o imperador Kublai Khan viu a ponte: como algo único e independente de suas partes. Em alguns casos, mesmo fazendo parte de uma estrutura, enxergamo-la como uma unidade com existência própria, sem nos darmos conta da nossa fundamental participação.
Esperar que outro faça o que só você pode fazer é esquecer que, para a existência do conjunto, cada um tem um papel que é seu, e que não pode ser dado a mais ninguém. Pesar responsabilidades, reconhecer o que é da sua alçada, agir e participar é afirmar-se como unidade fundamental do conjunto. Unidade sem a qual o conjunto não existe.
Ivan Bilheiro é professor de Filosofia e Sociologia. Licenciado em História pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (CES/JF), bacharel e licenciado em Filosofia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), instituição na qual cursa o Mestrado em Ciência da Religião. É, também, especialista em Filosofia pela Universidade Gama Filho (UGF) e em Ciência da Religião pela UFJF.