Garis são respons?veis por serviço público essencial

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Garis são responsáveis por serviço público essencial Servidores são admitidos por concurso público e enfrentam sol e chuva para deixar a cidade limpa. Preconceito e remuneração ainda são problemas

Clecius Campos
Repórter
15/5/2010

A limpeza urbana é sem dúvida um serviço público essencial para o funcionamento da cidade. Em Juiz de Fora, 120 servidores responsáveis pela varrição fazem o trabalho em 12 bairros, além da região central, no esquema de varrição fixa. Os garis, como são conhecidos, comemoram neste domingo, 16 de maio, o dia destinado especialmente a eles.

Os profissionais são admitidos por meio de concurso público pelo Departamento Municipal de Limpeza Urbana (Demlurb). De acordo com o diretor-geral do órgão, Aristóteles Faria, ao ser aprovado, o gari passa por testes físicos e exames médicos, que os comprovam aptos ou não para a função. "Atualmente há um concurso válido, realizado em 2007, que tem convocado novos funcionários, aos poucos. No último mês, 32 novos varredores tomaram posse."

Depois de empossados, os servidores passam por diversos treinamentos. Eles conhecem os equipamentos com os quais irão trabalhar, tais como as luvas e os sapatos adequados, e a forma ideal de manuseá-los. "Dessa forma, eles aprendem a melhor maneira de utilizar a vassoura e os cuidados com a postura ao pegar o lixo do chão, por exemplo." Aulas de cuidados no trânsito também são ministradas. "Além disso, desde 2009, todos os uniformes têm tarjas refletivas que sinalizam a presença dos garis nas ruas."

Cada gari é responsável por varrer área aproximada de 500 a 800 metros quadrados. A dimensão depende da condição física do servidor e do local onde trabalha. "Um jovem que recém-contratado consegue limpar mais que uma senhora que tem 20 anos de casa. Limpar o calçadão da Halfeld é mais difícil que varrer a Rio Branco, por exemplo. Todas essas variáveis são levadas em conta na hora da divisão das áreas e tarefas."

Mesmo com sol ou chuva o trabalho não para. Gari há 16 anos, Maria José da Silva está acostumada com as intempéries do dia a dia. "Se chover demais, a gente espera passar e depois volta ao trabalho. Com o sol quente não tem jeito, tem que varrer assim mesmo." Segundo Faria, os trabalhadores usam capas de chuva em mau tempo. O serviço fica inviabilizado se a chuva estiver forte demais. "O mau tempo não pode prejudicar a saúde do trabalhador." Para enfrentar o sol, os trabalhadores usam protetor solar, fornecido pelo Demlurb, que tem ação repelente contra insetos.

Postura com população e preconceito

A postura que eles devem ter junto à sociedade também é doutrinada, periodicamente. "Este trabalho é contínuo. No próximo mês haverá outro treinamento nesse sentido com os servidores. Por isso eles estão sempre sorrindo e brincando com a população", afirma Faria. A varredora Creuza Penha de Paula é exemplo dessa boa convivência. Com 29 anos de experiência na profissão, ela não reclama do trato com o público. "O povo é excelente. Trata a gente com muito carinho e atenção. Os comerciantes oferecem água gelada e cafezinho. Se precisar ir ao banheiro, eles permitem também. Nunca tive problemas."

Já a servidora Maria de Lourdes Pereira sente que sofre preconceito. "Algumas pessoas acham que porque trabalhamos com a limpeza, estamos sujos. Nós usamos luvas e todo o equipamento necessário. Há uma certa falta de consideração." Ela pensa que uma boa campanha poderia melhorar a relação entre a comunidade e os trabalhadores. "Temos que lutar para que esse tipo de comportamento não prejudique nosso desempenho."

O presidente do Sindicato dos Servidores Públicos de Juiz de Fora (Sinserpu), Cosme Nogueira, acredita que o fim do preconceito passa pela terminologia do cargo. "Sou um funcionário oriundo do Demlurb e conheço o problema. O nome gari tem ligação com o trabalhador que coletava lixo na época do Império. A nomenclatura ideal para os coletores é agente ambiental. É preciso valorizar esse profissional que cuida diretamente da qualidade de vida da cidade."

Remuneração ainda é impasse

Atualmente, a remuneração paga ao gari em início de carreira é de um salário mínimo: R$ 510. No entanto, o valor expresso em contracheque, denominado salário-base é de apenas R$ 389,36. "O restante é uma compensação, já que nenhum trabalhador pode receber menos que o mínimo", explica Cosme Nogueira. A grande luta da categoria é incorporar essa complementação ao salário-base.

A ideia é compartilhada por Maria de Lourdes, classificada como varredora A, já que tem apenas três anos de casa. "No fim das contas, nós recebemos o mínimo, mas na hora de comprovar renda, temos que apresentar apenas os R$ 389. Isso nos prejudica bastante." A carga horária pode ser de seis horas corridas ou oito horas com intervalo de duas horas para o almoço.

Segundo o diretor-geral do Demlurb, com a nova negociação salarial, a expectativa é de que a remuneração desses servidores passe para R$ 610, além do adicional de 40% de insalubridade. Os garis recebem ainda os vales-transporte e um kit lanche diário, contendo pão com queijo, um pedaço de bolo, uma fruta e iogurte. Nas trocas de turno é oferecida uma sopa para todos.

Os textos são revisados por Madalena Fernandes