Organizadas de Cruzeiro e Palmeiras entram em conflito na Fernão Dias

Por FLAVIO LATIF E ADRIANO WIKSON

SÃO PAULO, SP (UOL-FOLHAPRESS) - O presidente da Mancha Verde, Jorge Luis, foi espancado por rivais da Máfia Azul nesta quarta-feira (28) no interior de Minas Gerais, quando as maiores organizadas de Palmeiras e Cruzeiro se encontraram na estrada. Imagens do principal líder palmeirense ensanguentado e submetido pelos cruzeirenses viralizaram em grupos e redes das torcidas, o que inflama o conflito, considerado um dos mais violentos do Brasil.

De acordo com informações preliminares da Polícia Rodoviária Federal, a briga generalizada na rodovia Fernão Dias, em Carmópolis de Minas, deixou vários feridos, inclusive quatro baleados. Os cruzeirenses se dirigiam a Campinas, onde o time enfrenta hoje a Ponte Preta, enquanto os palmeirenses iam a Belo Horizonte para partida contra o Atlético.

Nos vídeos compartilhados nas redes sociais, o presidente da Mancha Verde aparece sendo violentamente agredido. Ele teve seus documentos tomados pela torcida rival, que celebrou o feito como se um título de campeonato. Um dos cruzeirenses é visto com um facão perto do organizado palmeirense.

"Você vai voltar vivo porque nós temos ideologia", diz um membro da organizada do Cruzeiro enquanto filmava Jorge com a cabeça ensanguentada. "Porrada é massagem", diz outro cruzeirense celebrando a briga. "Os caras deu tiro, baleou dois de nós. Cinco deles [estão] judiados, ensanguentados, principalmente o presidente deles. A Máfia Azul varreu a Mancha Verde, não foi qualquer torcida."

A reportagem tenta confirmar com órgãos oficiais a quantidade de feridos, mas não conseguiu respostas até a publicação da matéria.

"Perdeu, Máfia Azul Noroeste, nós é o terror. Ficou no chão, quem resgatou foi nós, nós não deixamos morrer", diz um integrante da Máfia Azul em um vídeo segurando os documentos do presidente da Mancha Verde.

Em seu perfil oficial no Twitter, a Máfia Azul afirmou que seus membros agiram em legítima defesa contra uma emboscada da Mancha Verde. Segundo eles, os palmeirenses usaram armas e feriram torcedores da caravana.

O UOL Esporte entrou em contato com Paulo Serdan, presidente da escola de samba Mancha Verde e ex-presidente da torcida organizada, que afirmou que a princípio não há nenhum torcedor do Palmeiras em estado grave.

"Faz parte da vida de torcida, eles estavam monitorando o ônibus da Mancha, a Mancha foi em dois ônibus a caminho do jogo contra o Atlético-MG, e eles estavam em seis ônibus para vir para Campinas e foi isso. Se encontraram na estrada, brigaram e aconteceu isso aí. Por enquanto a informação é de que não tem ninguém em estado mais grave", disse.

Em outros áudios compartilhados nos grupos, torcedores da Mancha prometem vingança, o que aumenta os riscos nas partidas desta noite. Não é comum um presidente de torcida organizada ser tão exposto como foi o palmeirense nas imagens compartilhadas.

A Mancha é tradicional aliada da Galoucura, principal organizada do Atlético-MG e rival da Máfia Azul, que por sua vez é aliada da Independente, do São Paulo, também rival da Mancha.

O conflito acirrado entre Máfia e Mancha remonta aos anos 80, quando as duas torcidas se enfrentaram na esteira do assassinato de Cléo Sóstenes, presidente palmeirense morto a tiros em 1988. No jogo seguinte, um Palmeiras x Cruzeiro, Cléo foi homenageado, e a torcidas cruzeirense entoou cânticos contra a vítima, o que desencadeou uma briga generalizada no Parque Antártica.

A história é contada em "Sobre meninos e porcos", a terceira temporada do podcast "UOL Esporte Histórias", que narra a fundação e os primeiros anos da Mancha Verde.