Campeão no tatame e na vida

Conheça a história de Eduardo Valente, campeão Pan-Americano e Sul-Americano de jiu jitsu em 2022 e detentor de mais de mil medalhas no esporte

Por Isabella Oliveira

Professor se dedica às artes marciais há

Antes de se entender como gente, Eduardo já lutava. Aos cinco anos começou a competir na luta. "Quando eu era criança a escola que eu estudava tinha judô e jiu jitsu na educação física e era em tempo integral. Então com 5 anos comecei a lutar. Competi pela primeira vez na escola, nos jogos internos", inicia Eduardo. 

Depois de adulto a vida veio e ele precisou se adaptar a todo os percalços dela. Sobre sua rotina, Eduardo relata. "Acordo entre 5h30, 6h da manhã, vou para a faculdade, faço Fisioterapia no Centro Universitário Estácio Juiz de Fora e depois que saio da faculdade dou aula (de jiu-jitsu) e trabalho também como massoterapeuta e treino jiu-jitsu competitivo, faço musculação e a noite também atendo e estudo", explica. 

Eduardo escolheu a Fisioterapia por um motivo. "Escolhi a fisioterapia, pois o jiu-jitsu é um esporte de contato que gera muitas lesões, no ombro, joelho, braço, tornozelo, região lombar, coluna, pois o treino é muito pesado. Por já ter tido algumas dessas lesões e meus amigos também, preciso fazer muita fisioterapia. Foi aí que pensei "tenho que fazer fisioterapia" e entrei na graduação do curso para completar esse meu currículo e para ajudar tanto a mim quanto aos meus amigos lá na frente".

Sobre sua rotina ele relata. "Estudo, trabalho e treino não é fácil. Tenho prova, dar aula, chegar em casa, tomar banho, estudar mais um pouco, não é fácil mesmo. Você tem que ser guerreiro, ter muita disposição, pois as vezes da vontade de desistir de tudo porque é pesado, não é brincadeira não, é um desafio. Me coloco sempre em desafio e estou correndo atrás de mais um sonho que é me formar em fisioterapia, tem dia que a gente acorda desmotivado, mas temos que levantar a cabeça, batalhar e correr atrás, é um dia após o outro, não tem jeito".

Cada um procura uma forma de se libertar e procuramos naquilo que nos faz bem, a satisfação da vida. O tatame é isso para Eduardo. Sobre a importância desse momento ele explica. " É libertador subir no tatame, pois você treina muito, é exaustivo, cansativo e você coloca em jogo o que treinou para uma competição, por exemplo. É libertador pela forma que, depois da luta, ganhando ou perdendo, você sente aquele prazer de ter feito o que era pra ser feito, é libertador, como já disse"

Eduardo é detentor de mais de mil medalhas. Isso mesmo que você leu, MIL medalhas. Ele conta quais são as mais importantes pra ele. "Já lutei mundial e ganhei, brasileiro e ganhei, Pan-Americano, Sul-Americano, já lutei fora do país, todas as competições são importantes e não consigo falar qual foi a mais importante, pois todas são. As vezes um campeonato pequeno se torna mais importante pra você, porque você acaba lutando com uma pessoa que conhece ou já tem uma rivalidade. É muito difícil falar sobe qual foi a mais importante, estou olhando as medalhas pra falar qual foi a mais importante e olhando aqui o carioca de 2022 que foi a minha última conquista, portanto a mais importante no momento". 

Já imaginou ter um lugar para guardar 500 medalhas? Difícil né? e 1000? Mais difícil ainda! Eduardo é detentor desse número, mais de mil medalhas e de títulos importantes são 609, um número invejável para qualquer atleta e para chegar nesse resultado mágico, o caminho foi tortuoso. Sobre as dificuldades, Eduardo comenta. "São vários momentos difíceis, o atleta hoje em dia não é muito valorizado, então passamos por vários momentos complicados como lesões e deslocamento para competições. Gastamos muito dinheiro para se deslocar, a verdade é essa. Cada competição é um problema bem grande pra chegar. Você gasta dinheiro com alimentação, suplementação, deslocamento, aí tem que comprar um kimono, pagar a inscrição, se vai de carro pagar combustível pra ir e voltar mais a hospedagem. Uma luta o Rio de Janeiro, por exemplo, não sai por menos de mil reais. Então a gente faz porque amamos mesmo, pois não tem retorno financeiro quase nenhum" desabafa Eduardo. 

Para seguir é preciso motivação e perseverança. É preciso acreditar nos seus sonhos e onde você quer chegar. O caminho para o sucesso é complicado, doloroso, mas Eduardo segue sem desistir. Sobre sua inspiração ele conta. "Minha maior inspiração é a dificuldade do dia a dia, ter que estudar, trabalhar, treinar em 24h você não consegue fazer isso tudo, então a minha inspiração acaba sendo eu mesmo, pois tenho que brigar por mim, com o meu corpo. Ás vezes da vontade de desistir é bem pesada a vida de atleta hoje". 

Sobre seu maior objetivo na carreira Eduardo conta. "Meu maior objetivo na carreira é sempre estar competindo essas competições maiores e ficar entre os três primeiros, vou sempre tentar ganhar, mas nem sempre é assim, então tento estar entre os três primeiro colocados. Esse é o meu maior objetivo na carreira. Já tenho muitas lutas, já conquistei praticamente tudo que eu queria, tenho outras coisas para conquistar, mas basicamente é isso, e poder passar adiante, para os meus alunos o que eu aprendi durante esse período que venho lutando, que são praticamente 30 anos de jiu-jitsu é sensacional". 

Vida de atleta não é fácil e sem patrocínio então é pior ainda. A correria é tripla para conseguir alcançar os objetivos. Sobre essa dificuldade Eduardo conta. "Eu não tenho patrocinador. Venho de uma cidade pequena, humilde, então é muito difícil conseguir alguém para te patrocinar. Essas competições que eu vou tirei tudo do meu bolso, se eu não tenho condições financeiras para pagar eu não vou. Se eu pudesse lutaria todo final de semana, pois a paixão da minha da vida é estar lá no meio competindo e lutando, mas infelizmente não posso".

Ele procura um patrocinador, alguém que acredite no esporte, dê visibilidade e entenda que o esporte salva vidas. "Procuro um patrocinador que queira ajudar. O atleta não ser valorizado é uma luta danada. A gente se machuca, vive com dor o resto da vida e vai se adaptando. Treino para sentir menos dor, mas não é fácil. O município podia ajudar mais o atleta, dar mais condições pra ele não só no jiu-jitsu, mas em outras modalidades também. Juiz de Fora é um ninho que cria vários bons atletas de todas as modalidades e deveria ter mais apoio sabe? Canais melhores, mais divulgações e dar mais visibilidade pra gente, isso nos motiva. Ter apoio é a melhor coisa que tem". 

 A luta de Eduardo também é a luta de vários atletas pelo Brasil e a esperança dele é mostrar para todos que o esporte além de salvar vidas engrandece. Ainda vamos ouvir o nome de Eduardo ecoar pelos quatro cantos do mundo e pensar "que orgulho para Juiz de Fora".