Tite muda estratégia e desiste de falso 9 na seleção
SÃO PAULO, SP, E RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) - No campinho tático pregado na parede da sala de Tite na sede da CBF já está tudo bem desenhado: o jeito como a seleção brasileira arma suas jogadas e ataca os adversários tem em Neymar uma figura fundamental. Mas a variação já testada pelo treinador de usar seu camisa 10 como um atacante mais adiantado está fora dos planos para a Copa do Mundo 2022.
Ao longo das Eliminatórias Sul-Americanas, Tite testou uma formação que tinha Neymar e Lucas Paquetá na faixa central do ataque. Neymar, às vezes, virava o jogador mais adiantado do time, fazendo a função de falso 9 e alternando essa condição com Paquetá. Por muito tempo, pareceu a escalação que seria usada no Qatar. Assim mesmo, sem um centroavante de ofício.
Mas a comissão técnica chegou à conclusão de que essa não é a melhor estratégia de jogo para a seleção. O motivo é que Tite teme que o camisa 10 vire "presa fácil" para a marcação.
A proposta para o ataque do Brasil -o que Tite chama de "organização ofensiva"- passa muito por ter como centroavante algum jogador de características mais próximas com a ideia de dar profundidade ao time. Ou seja, empurrar o adversário para sua própria área, e assim proporcionar liberdade criativa e espaço para os jogadores mais técnicos, como Raphinha, Vini Jr, Antony, Rodrygo e o próprio Neymar.
Usando o tal quadro tático que tem na parede de sua sala na CBF, Tite apontou para o botão desse jogador mais adiantado na área e explicou à reportagem a razão de não querer Neymar ali.
"Aqui, não. Porque aqui eu o prejudico, não tiro dele o que ele tem de melhor. [Como falso 9] Ele não vai ser o penúltimo [jogador mais avançado], ele vai ser só o último. Aqui [numa função mais recuada], ele é último ou penúltimo. Às vezes, está fazendo isso [deslocamentos laterais] e ampliando a área de ação para que não seja presa fácil para o adversário", disse.
Essa perspectiva é importante para entender como Tite vai montar a convocação final. De um lado, isso é boa notícia para quem é camisa 9 de ofício, como Richarlison, Gabriel Jesus e Pedro. Roberto Firmino também pode sonhar. Por outro lado, os meias ficam com lugar mais restrito. Isso faz com que a disputa entre Everton Ribeiro e Philippe Coutinho fique mais acirrada, já que Paquetá -se estiver bem fisicamente- é nome certo e titular provável.
Nas duas Copas do Mundo que disputou, Neymar tinha como posição dominante a ponta-esquerda, embora Tite, já na Rússia 2018, tenha o puxado em alguns momentos para a faixa central, fazendo um 4-4-2.
Nesse ciclo, o ajuste no papel de Neymar se consolidou, inclusive no Paris Saint-Germain. Ele pode ser "arco ou flecha", em uma figura de linguagem que Tite emprestou do narrador Gustavo Villani. Ou seja, constrói mais e dá passes, mas sem perder o status de maior artilheiro da seleção desde Pelé.
O deslocamento de Neymar para um papel mais construtor facilitou a chegada de pontas jovens, rápidos, agudos e dribladores, como Vini Jr, Raphinha e Antony. Tite não quer abdicar do potencial dessas combinações durante a Copa do Qatar.
"Ele [Neymar] por aqui [centro], tendo dois pontas abertos? Tem dois caras que são agudos para caramba e daqui a pouco, sem olhar, ele vai deixar um desses batido", prevê o treinador.
Tite convocará a seleção brasileira para a Copa do Mundo na segunda-feira (7), às 13h (de Brasília). O grupo se apresenta uma semana depois para treinos em Turim, na Itália, e viaja no dia 19 para Doha, no Qatar. A estreia do Brasil na Copa do Mundo será em 24 de novembro, contra a Sérvia.