Sala com 75 analistas controla todos os estádios do Qatar

Por IGOR SIQUEIRA

DOHA, QATAR (UOL/FOLHAPRESS) - Se o Emir estiver com calor durante Qatar e Equador deste domingo (20), que abre a Copa do Mundo de 2022, eles conseguem reforçar o ar-condicionado. Se uma porta estiver travada, eles vão saber e se mobilizar para consertar. Se algum torcedor aprontar alguma coisa na arquibancada, em instantes é possível ter o rosto dele estampado em um dos grandes telões de uma sala com 75 analistas de múltiplas nacionalidades. Esse é o time escalado para trabalhar no Centro de Comando e Controle Aspire, o "cérebro" do Mundial do Qatar.

A convite da organização, o UOL Esporte visitou a instalação localizada no amplo complexo esportivo que abriga centros de treinamento, hotéis e áreas de desenvolvimento tecnológico do país que sedia o Mundial. Os computadores são conectados a um único sistema, batizado de Unistad.

O telão que vai de uma ponta da parede à outra pode exibir imagens de 15 mil câmeras, distribuídas pelos oito estádios da Copa. O servidor é tão poderoso que consegue armazenar 120 dias de conteúdo. Tudo isso pilotado pela equipe de analistas" contratada pelo Qatar.

É possível também ter rápido acesso a plantas em 3D de todas as instalações, acionar de forma rápida qualquer força de segurança e controlar toda a automação, como a irrigação dos campos, abertura dos portões e controlar a temperatura na arquibancada. Os estádios, inclusive, têm um mapa de calor detalhado para cada setor. É possível perceber se uma parte está mais quente e fazer a distribuição em diferentes proporções para cada espaço no estádio.

"É uma mistura de gestão da instalação, segurança e tecnologia da informação. Essa é a singularidade desse centro de comando. Não é só um lugar para gerir a instalação, cuidar da segurança ou da TI. É tudo combinado", disse Niyas Abdulrahiaman, diretor executivo do centro de controle.

A montagem da estrutura foi pensada para resolver problemas inerentes a uma Copa do Mundo compacta, com vários processos acontecendo simultaneamente. Os estádios recebem jogos dia sim, dia não. Nesse intervalo, é preciso fazer andar toda a parte operacional, de limpeza, eventual manutenção, cuidados com gramado e outras áreas internas. A Copa Árabe, em dezembro de 2021, serviu de teste para todo esse aparato.

Se um profissional de qualquer setor do estádio identificar algum problema técnico ou operacional, ele abre um chamado e, como tudo é automatizado e interligado, o pessoal do centro de controle recebe uma notificação de que é preciso agir. Ao mesmo tempo, se algo fora do script (uma confusão) surge em algum setor do estádio, o centro de controle consegue direcionar e localizar os funcionários mais próximos para resolver.

"Isso é alcançado por uma integração muito complexa entre os sistemas. A plataforma coloca os estádios sob um único guarda-chuva. Estabelecemos um novo parâmetro para gestão dos estádios", afirma Abdulrahiaman.

A organização não vê problema em fazer a operação de quatro partidas por dia, sem contar os cuidados com os outros quatro estádios preparados para a rodada do dia seguinte. "Sabemos quantas pessoas estão faltando no estádio, por exemplo, três horas antes do jogo. É em tempo real", diz o diretor do centro.

Para que tudo isso não tenha problema, a cibersegurança é parte fundamental do evento. A organização do Qatar sabe que os ataques estão ficando mais sofisticados e podem impactar na organização.

Por isso, foi desenvolvido um sistema de auto reabilitação, que tem uma inteligência artificial para afastar qualquer ameaça, sem que necessariamente um operador humano inicie manualmente o procedimento de defesa. Se houver uma brecha em alguma das estações de trabalho, o sistema já vai atuar e interromper.

"Mudamos de um sistema reativo para um proativo", avisa Abdulrahiaman.