Copa fecha 1ª rodada sem gols de fora da área e bate recorde de 0 a 0

Por DEMÉTRIO VECCHIOLI E THIAGO ARANTES

SÃO PAULO, SP (UOL - FOLHAPRESS) - Passados 16 jogos da primeira fase, o equivalente a um quarto do total de partidas da competição, a Copa do Qatar já apresenta tendências que a tornam única. Com a rodada inicial terminada e as estreias das 32 participantes, o Mundial coleciona recorde de jogos terminados em 0 a 0: são quatro. Nunca, desde a criação do torneio em 1930, uma rodada havia tido tantos jogos sem gols.

Outro dado pouco comum, igualmente relacionado à falta de bola na rede: dos 41 gols marcados, nenhum foi feito de fora da área. O uruguaio Federico Valverde e os brasileiros Alex Sandro e Casemiro tentaram quebrar essa escrita nesta quinta-feira (24), último dia da jornada inicial, mas pararam na trave.

Segundo dados da Opta, a edição de 2022 no Qatar é até o momento a Copa com menor porcentagem de finalizações de fora da área (34%), com índice pior que o de 2018, na Rússia, que foi de 42,5%, o recorde anterior ?os números foram compilados de 1966 até hoje.

Outra estatística relevante é que antes da Copa no Qatar, o registro mais baixo de gols de fora da área era do Mundial do Brasil, em 2014, com 19 gols de fora da área e 152 de dentro da área, ou seja, uma porcentagem de 11,1%. Agora no Qatar, são 41 gols de dentro da área e nenhum de fora, mas como o torneio ainda está em andamento, os números podem mudar.

O acúmulo de duelos sem gols nesta primeira rodada colaborou para outra marca histórica: nunca na história das Copas do Mundo tantas equipes passaram em branco nos seus jogos de estreia: foram 14. Além dos quatro empates sem gols, outras seis equipes perderam sem balançar as redes: Qatar, Senegal, Costa Rica, Canadá, Camarões e Sérvia, que fechou a rodada caindo diante do Brasil.

Desde que a Fifa ampliou o número de participantes de cada edição da Copa para 32, a partir de 1998, o máximo de empates sem gols em uma rodada inicial havia sido dois. Nas últimas duas Copas, juntas, só um jogo de primeira rodada (Irã x Nigéria, em 2014) terminou empatado por 0 a 0.

Isso deixou o torcedor desacostumado com a possibilidade de ligar a televisão para ver um bom jogo de Copa do Mundo e topar com um zero a zero. No Qatar, a lista de duelos que terminaram sem gols já tem Dinamarca x Tunísia, México x Polônia, Marrocos x Croácia e Uruguai x Coreia do Sul.

O recorde anterior para uma rodada pertencia à primeira da Copa de 1982, quando três partidas terminaram em 0 a 0. Exceto ela, nenhuma outra rodada teve mais do que dois jogos sem gol, metade do novo recorde. No total, o recorde para um Mundial inteiro é de sete placares de 0 a 0. Com uma rodada, a Copa do Qatar já passou da metade disso. No início dos Mundiais, os jogos sem gols eram ainda mais raros. Tanto que o primeiro 0 a 0 da história só foi registrado na sexta edição, em 1958, entre Brasil e Inglaterra, na fase de grupos.

GOLS ACIMA DA MÉDIA, MAS SÓ NA ÁREA

A falta de gols nesses jogos só não derrubou a média da competição porque Inglaterra, França e Espanha, sozinhas, foram 17 vezes às redes. Assim, o Mundial chegou a 41 gols na primeira rodada, o terceiro melhor índice desde 1998. De lá para cá, a média de gols por jogos de primeira rodada é 2,40. No Qatar, a média ficou em 2,56 ao final da rodada inicial.

Esta é a primeira Copa do Mundo com cinco substituições permitidas por equipes, que levou a um aumento na duração das partidas. Por orientação da Fifa, os árbitros têm dado acréscimos mais longos, especialmente na segunda metade do confronto, quando mais substituições são realizadas. Eles também estão orientados a alongar os jogos por mais tempo devido a lesões, uso do VAR e se notarem que os jogadores estão "fazendo cera".

O aumento do número de substituições também fez aumentar a proporção de gols na segunda etapa. Dos 41 gols marcados na primeira rodada do Mundial, 26 foram no segundo tempo, e 15 no primeiro. Isso significa que 63% dos gols aconteceram na etapa final, algo inédito de 1998 para cá. Até então, a melhor marca era da primeira rodada da Copa de 2002, quando foram marcados no segundo tempo 28 dos 46 gols.

O que nem as substituições extras, nem os minutos a mais conseguiram mudar foi a falta de pontaria dos jogadores de longa distância. Em 16 jogos, com as 32 seleções em campo, ninguém marcou um gol de fora da área. Desde que a Copa passou a adotar o formato atual, em 1998, é a primeira vez que isso acontece.

Na Rússia, em 2018, foram 8 gols marcados de longa distância na primeira rodada da fase de grupos; na Copa de 2014, no Brasil, foram 7 (incluindo dois do Brasil na estreia, de Neymar e Oscar). A Copa da África do Sul foi mais econômica: só 2 gols marcados de fora da área nos primeiros 16 jogos.

CEM MINUTOS

Logo no segundo dia de disputa no Qatar, o jogo entre Inglaterra e Irã teve os dois mais longos acréscimos da história das Copas. Já era um reflexo da orientação da Fifa para os árbitros compensarem o tempo de bola rolando perdido por substituições, comemorações e paradas para o VAR, entre outras interrupções.

Mas já em Qatar x Equador, partida de abertura do Mundial, o jogo teve mais de 100 minutos. Mais exatamente 100 minutos e 31 segundos. Depois, isso se repetiu na maioria dos jogos. Em Inglaterra x Irã, a partida teve quase duas horas de duração: 1h57min20 (ou 117 minutos e 20 segundos). O árbitro do jogo foi o brasileiro Raphael Claus.

Os jogos mais longos ainda assustam nesse início de competição, mas devem ser frequentes no torneio. O objetivo da Fifa e da Ifab (International Board), o órgão que regula o futebol, é de nos próximos anos encontrar meios de ter jogos com mais bola rolando..

No total, só quatro jogos não chegaram aos 100 minutos: os empates sem gols entre México x Polônia, Marrocos x Croácia, e Uruguai x Sérvia, além de Suíça x Camarões, jogo com apenas um gol.

SUBSTITUIÇÕES NÃO SÃO USADAS

Novidade nesta Copa do Mundo, a opção de realizar cinco substituições foi rejeitada por quase metade dos treinadores. Das 32 seleções, só 17 fizeram, em suas estreias, as cinco alterações ? no caso do Irã, seis, porque uma delas conta como exceção, uma vez que foi causada por concussão no goleiro.

Três técnicos ?de México, Polônia e Coreia do Sul? só fizeram três alterações durante a partida, não utilizando nenhuma das mudanças extras que passaram a vigorar no futebol durante a pandemia de covid-19 e foram mantidas para o futuro. O Qatar só usou duas substituições.