US$ 100 mil ou ver Messi na final da Copa? Um argentino sabe a resposta
DOHA, QATAR (FOLHAPRESS) - Um boato de que seriam colocados à venda nesta sexta-feira 10 mil ingressos para a final encheu muitos argentinos de esperança.
Na noite desta quinta-feira (15), centenas deles foram protestar na porta do Jassim Tower, hotel onde está hospedado o presidente da AFA (Associação de Futebol Argentino), Claudio "Chiqui" Tápia.
As entradas não foram disponibilizadas. A Fifa não confirma a existência delas.
Em grupos de WhatsApp, quem está em Doha se mobiliza na busca por um bilhete para entrar no estádio de Lusail, neste domingo (18), para ver a última partida de Lionel Messi em uma Copa do Mundo: a decisão contra a França.
Walter Abalde, 36, apenas acompanha as discussões. Estava com a paz de espírito de quem tem seu lugar garantido. Sorteado pela Fifa no primeiro lote de ingressos vendidos, ele não considera revendê-lo. Nem mesmo por uma soma astronômica, que poderia mudar sua vida.
"Já me ofereceram US$ 100 mil [R$ 528 mil]. Não vendo em hipótese nenhuma. Por dinheiro nenhum. Esta entrada não tem preço. É a final da Copa do Mundo e Lionel Messi pode fazer a Argentina ser campeã. Esquece. Não vendo", disse.
Pelo mercado oficial, feito pela Fifa, o ingresso mais barato para a partida saiu por US$ 19 (R$ 100). O mais caro, US$ 1.600 (R$ 8.400).
Fanático por Messi, Abalde tem uma tatuagem com o número 10 e o nome do ídolo na panturrilha. Carregava nesta sexta, pelo centro de Doha, uma camiseta com as cores alviceleste e mensagem de agradecimento para Célia e Jorge, os pais do capitão da seleção.
Não há um número confiável de quantos torcedores estão no Qatar sem entradas para a final. Mas quanto mais se aproxima o jogo, mais os preços devem subir.
Segundo relatos da imprensa argentina, no mercado paralelo os bilhetes têm sido vendidos por US$ 5.000 (R$ 26,4 mil). Mas para quem está em Doha, este valor já está muito defasado.
"Isso foi o que paguei na terça-feira (13), dia da semifinal contra a Croácia. Agora não está mais este valor de jeito nenhum", diz Diego Bianco, 42.
Ele só não quer que ninguém de sua família em Buenos Aires saiba que ele gastou este dinheiro todo para ver uma partida de futebol. Pouco importa que seja a final da Copa do Mundo.
"Minha irmã me mata se souber!", completou.
O relato dele e de outras pessoas que procuram ingressos é que há cambistas pedindo US$ 16.000 (R$ 84,4 mil).
Antes do Mundial, a estimativa do governo argentino foi que cerca de 40 mil cidadãos do país viajaram ao Qatar. Existe a expectativa que mais gente chegue até domingo, mas não está claro quantos estarão com ingressos.
A Aerolíneas Argentinas, companhia aérea estatal do país, postou vídeo em sua conta no Twitter de um avião lotado de torcedores rumo ao Qatar.
"Toda Copa do Mundo é a mesma coisa. Há os ingressos para patrocinadores, para dirigentes, para os locais, mas para quem quer torcer mesmo, não há. Isso sem falar em agências de turismo que ficam com as entradas para depois revendê-las mais caras", reclama Jeronimo Mendéz, 34, que afirma ter visto o mesmo fenômeno em 2014, quando a seleção fez a final da Copa contra a Alemanha, no Rio de Janeiro.
No dia da decisão, há oito anos, milhares de argentinos rondaram o Maracanã nas horas que antecederam o apito inicial em busca desesperada por um ingresso. A cena pode se repetir neste domingo.
"Nós compramos pelo site da Fifa e demos sorte. Tem muita gente de mãos vazias, muita gente mesmo. Não sei como vai ser", constata Andreas Brolanigo. 32.
Ao lado do irmão Leonardo, ele chegou a Doha depois da estreia contra a Arábia Saudita, a derrota por 2 a 1. Depois disso, a seleção venceu quatro partidas e empatou uma. Esta que terminou em igualdade foi pelas quartas de final diante da Holanda. A Argentina avançou nos pênaltis.
"Está provado que não somos mufa", completou, citando a expressão usada na Argentina para "pé-frio."