Desafio da Argentina para o tetra é tapar buraco aberto por Messi

Por LUÍS CURRO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Argentina tricampeã mundial de futebol tem motivo de sobra para festejar por vários dias.

A conquista de uma Copa do Mundo veio depois de uma espera "interminável" de 36 anos e meio.

Veio depois de uma campanha que começou trágica, com uma derrota para a inexpressiva Arábia Saudita, que tornou a Copa do Qatar um mata-mata imediato para a equipe.

Veio depois de partidas em que teve a vitória nas mãos, construindo vantagem de 2 a 0 e permitindo a reação do adversário, casos da Holanda nas quartas de final e da França na final, tendo que decidir a sorte nos pênaltis.

Mas, primordialmente, veio depois de atuações marcantes, memoráveis, de seu principal jogador, Lionel Messi, dono de sete Bolas de Ouro, seis vezes eleito o melhor do mundo da Fifa, o melhor jogador deste século -Cristiano Ronaldo ficou para trás.

Jogador esse que, com 35 anos, definiu que não esticará sua carreira na seleção até o próximo Mundial, que será em três países (EUA, Canadá e México), em 2026.

Então, passada a festa, todo um país, incluindo Lionel Scaloni, o competente treinador da Argentina (inclusive por ter sido o único que conduziu Messi a títulos com a seleção principal, de Copa América e de Copa do Mundo), se perguntará: "E agora? Como faremos sem Messi para conquistar o tetra?".

A situação não é animadora e tem tendência à orfandade.

Mesmo levando muito tempo para triunfar com seu maior ídolo desde que Maradona saiu da seleção, em 1994 -na verdade foi saído, devido a caso de doping-, a Argentina passou a viver uma "messidependência".

O atleta nascido em Rosário é o que mais vezes vestiu a camisa da seleção alviceleste (172) e seu maior artilheiro (98 gols).

Há quase 15 anos, os argentinos estão acostumados a ter Messi e mais dez no time. Esses dez invariavelmente o procuram, dão a bola para ele, pois ele resolve. E, quando não resolve, dá de bandeja para alguém resolver -passes açucarados na boca do gol.

Vai haver crise de abstinência. Não existe atualmente, nem de perto nem de longe, alguém que possa preencher minimamente a lacuna que será aberta por Messi.

O camisa 10 avisou depois da conquista no Qatar que pretende permanecer ainda por um tempo vestindo a camisa da seleção -talvez se despeça na Copa América de 2024. É esse o tempo que Scaloni e seu estafe têm para forjar uma alternativa crível.

Hoje não há. Messi nunca teve um reserva na seleção. Ele jogou, joga e jogará (se quiser) sempre.

Paulo Dybala. Lautaro Martínez. Ángel Correa. Todos eles estiveram nesta Copa do Mundo. Mal jogaram, e Lautaro se notabilizou por perder gols. Dá para ficar otimista com um deles no lugar de Messi?

No cenário atual, para os fãs da Argentina é o caso de torcer para que o ídolo mude de ideia e decida adiar a aposentadoria da seleção para depois do Mundial norte-americano.

Mesmo aos 39 anos, é capaz de um Messi em forma, com sua genialidade, brilhar em mais uma Copa.