Brasileiros relatam como é escapar da morte em local onde surfista morreu

Por Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os brasileiros Maya Gabeira e Pedro Scooby estão entre os surfistas que já sobreviveram a quedas nas ondas grandes de Nazaré, em Portugal.

Nesta quinta-feira (5), o também brasileiro Márcio Freire morreu enquanto surfava no mar da cidade portuguesa.

Maya Gabeira sofreu grave acidente após a queda em uma onda gigante em 2013, perdeu a consciência e precisou ser reanimada.

"Quando tomei a segunda onda na cabeça, ainda perdi meu colete salva-vidas. Aí tomei algumas ondas pesadas na cabeça e tudo ficou preto, fiquei sem ar e comecei a pensar que ia morrer... O cenário era o pior possível", disse Maya em 2021, em entrevista ao jornalista Graham Bensinger.

Maya culpou o ex-mentor Carlos Burle pelo acidente. Na entrevista, a surfista disse que foi pressionada por ele a surfar a onda na qual sofreu a queda. Ela ainda criticou o resgate do parceiro.

"Depois de mais ou menos um minuto, eu o vi vindo em minha direção. Então ele fez uma aproximação terrível achando que eu estaria bem, e hoje tenho certeza que ele aprendeu que depois de dez minutos sem ver um corpo, naquelas condições, eu não estaria bem", disse Maya.

"Ele se aproximou pela primeira vez e jogou o 'sled' [tipo de trenó para reboque] para eu segurar, nem me deu a mão nem nada... Eu basicamente estava apagada naquele momento, não estava vendo, estava com muitas limitações... A única sensação que ainda tinha era ouvir, pois essa é a última que você perde antes de morrer. Então ele se aproximou de novo e gritou 'Maya, segura a cordinha', e eu, mesmo inconsciente, consegui pegar a cordinha e ele me levou pra mais perto da praia. Então ele conseguiu pular na água e me carregar para fora da água. Tudo ficou preto, não sei se era o 'outro lado'."

Já Pedro Scooby sofreu grave acidente em Nazaré em 2019. Ele precisou tomar pontos na cabeça.

"Pense em uma meia dentro da máquina de lavar, girando, girando, se perdendo numa imensidão de água, espuma e movimento. Foi assim que eu me senti naquela manhã em Nazaré", disse ele ao UOL Esporte.

"Fiquei mais de um minuto na água. Enquanto eu brigava para retornar, a equipe de socorro tentava me achar no meio do caos marítimo. Era como achar um grão de areia na piscina. Mas eu nunca pensei em desistir", prosseguiu.

"Naquele momento, era difícil pensar em qualquer coisa. Eu estava prestes a desmaiar, mas aquele não era um bom dia para morrer. No último segundo possível, eu finalmente cheguei à superfície. E logo voltei a escutar vozes humanas", complementou Pedro Scooby