Como inesquecíveis, também, são as histórias engraçadas. “Pô, a gente estava fazendo uma preliminar no Maracanã, o jogo começava às 7h15 da noite, a galera só chegava no intervalo, vinha do trabalho. O estádio quase vazio, acho que foi contra o Campo Grande, sei lá. Mas o Luís Paulo fez o gol e saiu com o bocão aberto, gritando. Aí a perereca ( prótese dentária móvel) pulou. A galera na geral gritou na hora: 'olha a perereca'. A gente caiu em cima dele pra festejar, e ele pedia pra gente se afastar, para não quebrar a perereca. Acabou achando. Outra aconteceu comigo, num Flamengo x Vasco. Estava chovendo e numa disputa de bola com o Orlando a minha aliança caiu. Era um clássico, não tinha como eu ficar procurando durante o jogo, ainda mais ali ao lado da pequena área. Quando a partida acabou, eu procurei o pessoal do Maracanã e pedi para procurarem. Lembro que não apagaram os refletores, nem ligaram o sistema de irrigação. Na quarta-feira, no jogo seguinte, me devolveram no vestiário”.
Zico nunca foi de brigar em campo, apesar de ter sofrido algumas jogadas violentas. “O Edinho, um dia, me deu uma cotovelada que arrancou um dente. O Guina me deu um pontapé na barriga, fui reclamar e o [árbitro] Wright me expulsou. Fazer o quê, né?”. Mas foi numa pelada, no interior de Minas Gerais, que o craque do Flamengo perdeu a linha. “Eu fui com o Juventude, de Quintino, participar de uma pelada em Leopoldina, campinho de terra. A gente sempre fazia esses jogos nas férias. No meio do campo do time deles tinha um cara com um braço só, que jogava pra cacete. Driblava todo mundo, tinha habilidade. Estava deitando! Veio pra cima de mim e cheguei junto, dei uma porrada nele, caímos um para cada lado”, conta às gargalhadas. “Ele levantou me xingando, me mandando tomar naquele lugar, mas o mais engraçado é que, mesmo com apenas uma mão, ele fazia o gesto. Primeiro, com a mão aberta, gesticulava para baixo. E depois, com a mão fechada, para cima. Ninguém acredita nessa história, mas é verdade”, assegura sem conter o riso.
A conversa vai chegando ao fim. Zico lembra que, no passado, deixou de fazer muita coisa por causa da fama. “Não podia ir com meus filhos ao teatro infantil, ao parque de diversões. Agora estou tentando fazer isso com os netos”. De arrependimento, apenas um projeto, o filme “Uma aventura do Zico”, de 1999. “Não gostei, só aceitei porque foi um pedido do amigo Luís Carlos Barreto. Não foi bem elaborado, não era aquilo que eu queria. Se houvesse algo que eu pudesse trocar na minha vida, eu certamente não teria feito aquele filme”, lamenta.
E como o Zico gosta de ser chamado?
“Em casa a Sandra me chama de 'filho'. Meus amigos me chamam de Galo, Galinho. Engraçado que, na rua, o cara passa por mim, nunca me viu e bate no ombro: 'e aí, Galo?', na maior intimidade. O Zico parece que ficou mais com o torcedor mesmo. Mas quer saber? Eu adorava o apelido que o Celso Garcia colocou em mim: Alegria da Gávea. Uma pena que não pegou, ficou mais o Galinho de Quintino”.
Entenderam, agora, o motivo do título? E cá entre nós, Alegria da Gávea tem tudo a ver com o Zico.
* Sergio du Bocage é apresentador do programa No Mundo da Bola, da TV Brasil