Lira demonstra apoio e deputado tenta viabilizar CPI das apostas esportivas

Por DEMÉTRIO VECCHIOLI

SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Mais de três anos depois da última vez que a Câmara dos Deputados instaurou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), a Casa pode se debruçar sobre as acusações de manipulação de resultados em eventos esportivos para beneficiar apostadores.

O requerimento para a criação da CPI das Apostas Esportivas, iniciativa do deputado federal Felipe Carreras (PSB-PE), já recebeu mais de cem assinaturas e o apoio informal do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). É necessário o endosso de 171 deputados para uma CPI ser instaurada.

O QUE ACONTECEU?

A proposta surgiu depois da operação "Penalidade Máxima", deflagrada pelo MP-GO, que investiga a manipulação de três jogos da última rodada da Série B do ano passado. Um apostador, Bruno Lopez de Moura, teria cooptado jogadores de três times ?Vila Nova, Sampaio Corrêa e Tombense- para cometerem pênalti no primeiro tempo de seus jogos.

A denúncia partiu da diretoria do Vila Nova, que revelou ao MP que Romário, ex-jogador do clube, teria tentado convencer colegas a cometer o pênalti. Bruno pagaria R$ 150 mil por isso. Romário inicialmente seria o responsável pela fraude, mas ele não foi relacionado para a partida. O apostador perdeu a aposta, apesar dos pênaltis cometidos por Matheusinho, do Sampaio, e Joseph, do Tombense.

O QUE SERIA INVESTIGADO

Carreras diz que a informação que circula entre deputados ligados a clubes de divisões inferiores do futebol brasileiro é a de que as tentativas de manipulação de jogos têm sido recorrentes. O STJD do futebol investiga mais três jogos da Série B de 2022, um da Série C e outro da Série D.

No mês passado, o Iranduba foi rebaixado no Campeonato Amazonense depois que um relatório da CBF apontou a possibilidade de envolvimento do clube na manipulação do jogo contra o Amazonas FC, vencido pelo rival por 7 a 0. Em 2022, um funcionário do Santos procurou uma jogadora do Red Bull Bragantino para que o time facilitasse que as santistas marcassem gols. Ela relatou o caso à diretoria.

Exceto pelo caso do Iranduba, não há indícios de envolvimento de dirigentes de clubes ou de federações com as manipulações de resultados. Da mesma forma, não há indício de participação das casas de apostas, que, até onde se sabe, são vítimas dos golpes ?são elas, afinal, que pagam os prêmios aos apostadores que fraudam resultados. Uma eventual CPI poderia ir mais a fundo e buscar peixes maiores.

APOIO DE LIRA

Carreras, que é líder da bancada do PSB na Câmara, esteve com Lira na semana passada e ouviu do presidente da Câmara que teria seu apoio para recolher as 171 assinaturas necessárias para a abertura da CPI. Até então, a CPI era só uma ideia verbalizada pelo deputado pernambucano. Agora, é uma iniciativa prática.

A CPI também é bem vista pelo governo, uma vez que ajudaria na desarticulação de uma CPMI, CPI mista entre Câmara e Senado, para investigar os atos golpistas de 8 de janeiro. A comissão, articulada pela oposição, vem sendo proposta como forma de investigar as responsabilidades do governo federal.