Adriana Samuel superou machismo e celebra protagonismo feminino no esporte
SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Pioneira no esporte olímpico brasileiro, Adriana Samuel, 56, enfrentou desconfiança e machismo no caminho até o inédito pódio no vôlei de praia nas Olimpíadas de Atlanta 1996. Em final 100% brasileira, Adriana e Mônica foram prata, enquanto Jacqueline e Sandra, ouro. São as primeiras medalhas femininas do Brasil na história dos Jogos.
A história, porém, tinha tudo para nem sequer ter acontecido. Quando criança, Adriana não contava com o incentivo dos pais quando o assunto era vôlei. Para eles, a menina deveria se dedicar aos estudos.
Você não tinha uma modalidade estruturada para que os pais incentivem e apoiem. Eu chegava da escola e ia jogar vôlei, e a minha mãe falava: 'vai estudar', porque realmente não tinha uma estrutura, um caminho para a gente seguir". Adriana Samuel, medalhista olímpica em Atlanta 1996 e Sydney 2000.
O machismo foi outra barreira para a então jovem carioca. Adriana conta que, no começo, jogava vôlei apenas com meninos, e ouvia diversas "piadinhas", mesmo sendo uma das melhores dentro de quadra.
"Era a única mulher no clube onde eu jogava, e ouvia várias piadinhas. Enfrentei tanta coisa, e isso nunca me abateu. Tinha dias que eu chegava em casa arrasada. Eu era uma das primeiras a ser escolhida no par ou ímpar, mas no meio do jogo era "isso é lugar de homem", é "menina macho". Ouvia tudo isso. Eu podia ter ficado traumatizada", afirma.
Adriana, porém, respondeu sendo uma das protagonistas do esporte olímpico brasileiro, e celebra que, quase 30 anos depois, muitas tenham surgido e inspirado novas gerações.
"A minha vida foi um exemplo de que a mulherada tem que praticar mais. Eu fico muito orgulhosa da gente. A geração da minha filha está crescendo vendo muitas mulheres conquistando títulos importantes. É um privilégio dessa geração poder acompanhar"
VÔLEI DE PRAIA ERA PARA MANTER O FÍSICO
Adriana começou a carreira na quadra e "surfou" a onda de investimentos na modalidade. Ela tinha um clube com patrocínio e carteira assinada, mas isso apenas até 1991.
"A gente recebeu a notícia que o nosso time de vôlei de quadra tinha perdido patrocínio, e ficamos no 'e agora?'. Nessa busca por patrocínio, a Mônica vira e fala 'vamos bater uma bola na praia?'. O objetivo era manter a forma física, e foi assim que a gente vivenciou o que aconteceu com o vôlei de praia. A gente não tinha estrutura nenhuma, chegava cedo para montar a nossa rede, eu treinava a Mônica e ela me treinava, porque não tinha recursos", diz Adriana.
A vivência no "privilegiado" vôlei de quadra serviu para Adriana buscar o mínimo de estrutura para a nova realidade. E, com muita ralação, o vôlei de praia começou a ganhar espaço e, poucos anos depois, estava nos Jogos Olímpicos, e com dobradinha brasileira.
"O que eu me lembro é que foi muita ralação, mas ao mesmo tempo eu vejo o quão grandioso foi, o quão incrível todas nós fomos. A gente começou sem saber o que aquilo ia dar. É muito bacana ver tudo o que foi construído".
DE OLHO NO ESPORTS
Mesmo fora das quadras, Adriana mantém vivo seu relacionamento com o esporte e, entre seus trabalhos está o Gaming Parque, voltado para jogos eletrônicos. Projeto este que a fez "queimar a língua" ao repreender o filho Tom pelo tempo gasto jogando.
"Muito parecido com o que a minha mãe fazia comigo. Hoje, o que muitas mães sonham é que a filha seja jogadora de vôlei, a minha mãe dizia 'larga isso'. Eu me peguei há cinco anos falando isso para o meu filho. 'para de jogar game. Isso não vai dar futuro'. Queimei a minha língua, mas ao mesmo tempo foi legal, porque abri a minha cabeça".
A iniciativa também levará os projetos de Adriana para fora do Rio de Janeiro pela primeira vez: "Entre abril e maio nós inauguraremos o segundo Gaming Parque, em Vitória, no Espírito Santo".