Bojan Kkric sofreu com ansiedade e se aposentou aos 32 anos

Por Folhapress

ARACAJU, SE (UOL/FOLHAPRESS) - Bojan Krkic, atacante revelado pelo Barcelona, se aposentou do futebol aos 32 anos na semana passada. Seu último clube foi o Vissel Kobe, do Japão, onde atuou ao lado de Andrés Iniesta.

Bojan surgiu como o primeiro "novo Messi" e substituiu o craque argentino à época como o jogador mais novo a atuar pelo Barcelona.

O peso da comparação adoeceu Krkic, que passou a sofrer ataques de ansiedade.

Bojan contou os bastidores do seu silencioso calvário em entrevista ao jornal "The Guardian", da Inglaterra, em 2018.

O QUE ELE FALOU

'Novo Messi': "Tudo aconteceu muito rápido. Em termos futebolísticos, correu bem, mas pessoalmente não. Eu tive que viver com isso e as pessoas dizem que minha carreira não foi como o esperado. Quando eu surgi, era o 'novo Messi'. Bem, se você me comparar com Messi... mas que carreira você esperava?".

'O futebol não quer saber de ansiedade': "Há muitas coisas que as pessoas não sabiam. Não fui à Eurocopa [de 2008, vencida pela Espanha] por problemas de ansiedade, mas dissemos que eu ia sair de férias. Fui convocado para a Espanha contra a França, minha estreia pela seleção, e diziam que tive gastroenterite, quando tive uma crise de ansiedade. Mas ninguém quer falar sobre isso. O futebol não está interessado".

'Uma hora o corpo para': "Aos 17 anos, minha vida mudou completamente. Fui ao Mundial Sub-17 em julho e ninguém me conhecia; quando voltei, não conseguia nem andar pela estrada. Alguns dias depois, fiz minha estreia contra o Osasuna. Três ou quatro dias depois, jogo a Liga dos Campeões. Depois, marquei contra o Villarreal. Depois, a seleção da Espanha [em fevereiro de 2008]. E foi tudo de bom, mas a cabeça enche até que chega uma hora que o corpo fala: 'para'".

'Eu estava doente': "Eu estava assustado. Estava doente. Eu não sabia o que estava fazendo. Lembro-me de dar uma entrevista na TV do Barça dizendo que precisava de férias. Nessa idade, você não sabe e a bomba já explodiu. Apenas tentamos apagar o fogo. Eu senti que tinha que escapar, de qualquer maneira que pudesse. As pessoas lutam para admitir que as coisas não estão indo bem e o que importa para o futebol é que esteja tudo bem".

A CARREIRA DE BOJAN KIRKIC

Borjan Krkic subiu para o profissional do Barcelona na temporada 2007-08 e fez parte da era Guardiola. Ele ganhou o Campeonato Espanhol, a Copa do Rei, a Liga dos Campeões e o Mundial de Clubes. Ficou no clube catalão até 2011.

Depois, o atacante rodou por diversos clubes: Roma, Milan, Ajax, Mainz, Alavés, Montreal (Canadá) e Vissel Kobe (Japão).

Bojan marcou 85 gols em 451 jogos, segundo o site "O Gol". Ele disputou uma partida pela seleção espanhola.

CONFIRA OUTROS TRECHOS DA ENTREVISTA

As marcas da ansiedade: "A ansiedade afeta a todos de maneira diferente. Falei com alguém que sentiu como se seu coração batesse 1.000 vezes por minuto. Comigo era uma tontura, enjoo constante, 24 horas por dia. Havia uma pressão aqui, poderosa, que nunca ia embora. Eu estava bem quando entrei no vestiário para o jogo da França, mas comecei a sentir uma forte tontura, oprimido, em pânico, e eles me deitaram no banco da fisioterapia. Essa foi a primeira vez, mas eu tive episódios desagradáveis como esse novamente. Tem remédio, tratamento psicológico para superar as barreiras que você ergueu, o medo. Quando chegou a Euro, decidi que não podia ir, que tinha que me isolar".

A polêmica da Euro-2008: "Todos na Federação sabiam: Luis Aragonés [o gerente], Fernando Hierro [diretor esportivo]. Hierro me mandava mensagens todas as semanas para perguntar como eu estava e um dia antes do anúncio do elenco, eles ligaram. 'Bojan, vamos ligar para você.' Eu estava no carro, indo para o treino. Eu disse: 'Dói dizer isso, mas não posso'. Cheguei ao Camp Nou e Carles Puyol estava lá. Ele disse: 'Bojan, estarei ao seu lado o tempo todo, estarei ao seu lado'. Eu disse: 'Puyi, não posso. Estou tomando remédios, estou no limite'. E no dia seguinte vi uma manchete: 'A Espanha convoca Bojan, e Bojan diz que não'".

A manchete que machucou: "Essa manchete me matou, é como se eu não me importasse. Lembro-me de estar em Múrcia e as pessoas insultarem-me: eles não sabiam, só pensavam que não queria jogar. Isso foi difícil, embora naquele ponto eu realmente não me importasse com o que as pessoas diziam. O que doeu foi que a manchete veio da Federação. Eu me senti muito sozinho. Ainda há pessoas agora que me perguntam: 'Por que você não foi?'"

'A cicatriz': "Você fica com a cicatriz. Ela não abre, mas você pode senti-la puxar às vezes, um lembrete. Eu era jovem, você supera as coisas rápido, mas em termos de mídia, a forma como as pessoas veem você, isso me prejudicou."

'Sempre vou amar o futebol': "O mais importante não são os troféus, são as experiências, o que você viveu, o que está no seu coração, o que você sabe, o que você vive. Ninguém pode roubar isso de você. E aquelas pessoas que falaram mal de você vão esquecer. Se Víctor Valdés, o maior goleiro da história do Barcelona, foi esquecido, como não poderiam me esquecer? E depois serei só eu e o que restará será o orgulho, os momentos, momentos únicos que muitos jogadores nunca viveram. Eu amo futebol e ninguém nunca vai tirar isso de mim. Tenho orgulho da minha carreira, orgulho do que vivi, e mesmo que haja momentos difíceis, temos que ser fortes. Sempre vou amar o futebol".