Gabigol é denunciado por 'fugir' de antidoping e pode pegar gancho pesado

Por DEMÉTRIO VECCHIOLI

SÃO PAULO, SP (UOL-FOLHAPRESS) - A procuradoria do Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem denunciou nesta quinta-feira (21) o atacante Gabriel Barbosa, o Gabigol, por tentar fraudar um exame antidoping surpresa realizado em abril no Ninho do Urubu, antes da final do Campeonato Carioca. Se condenado, pode ser suspenso por até quatro anos.

O caso foi revelado pelo Globo Esporte e confirmado pelo Olhar Olímpico junto a fontes com conhecimento do caso, que é considerado complexo. Gabigol passou pelo exame, mas muito tempo depois do programado, e isso faz toda a diferença para a detecção de determinadas substâncias.

É o caso, por exemplo, do hormônio do crescimento, que só é identificado quando o exame é feito logo pela manhã. É recorrente no meio do antidoping a história de Fernando Reis Saraiva, halterofilista brasileiro, que foi flagrado com o hormônio proibido quando os testes foram realizados às 6h da manhã. Dois exames nesse horário deram dois testes positivos.

No caso do Flamengo, o teste surpresa também foi um pedido da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD), algo raro no futebol. Normalmente é a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) que acompanha os times e está entre as entidades do mundo todo, incluindo federações internacionais grandes, que mais realiza testes.

Pelo que apurou o Olhar Olímpico, a equipe de testagem chegou ao Ninho do Urubu antes das 9h do dia 8 de abril, com orientação para testar determinados jogadores, escolhidos pela ABCD, antes do início do treino, às 10h. Gabigol não aceitou fazer o teste de urina, e foi direto para o gramado.

Os oficiais têm autoridade para impedir o treinamento, mas não fizeram isso, e aguardaram o fim da atividade. Gabigol mais uma vez os ignorou, e foi para o refeitório, almoçar. Mais tarde, pegou o vaso coletor e foi sozinho ao banheiro para urinar nele, devolvendo o frasco aberto.

Para a procuradoria do TJD-AD, isso é equivalente a não realizar o teste, já que, por iniciativa de Gabigol, os procedimentos obrigatórios não foram seguidos ?e, o exame, assim, invalidado.

PRÓXIMOS PASSOS

Ainda que o caso tenha ocorrido em abril, a denúncia só foi apresentada ontem (21), depois de passar pelas mãos de pelo menos um outro procurador. O Flamengo foi notificado ainda em maio, fez uma defesa prévia, e contratou o escritório do advogado Bichara Neto para defender Gabigol.

Agora, com a denúncia formalizada, Gabigol deve apresentar sua defesa. Ele pode fazer isso desde já, ou esperar o recesso do TJD-AD, o que adiaria também o julgamento, que será realizado pelo Pleno do TJD-AD, em data a ser marcada.

Como o atacante é entendido como um jogador de nível internacional, o caso dele pode pular a primeira instância, com o que os advogados dele concordaram. Desta forma, em caso de suspensão, ele poderia recorrer rapidamente à Corte Arbitral do Esporte (CAS).

O Pleno do TJD-AD costuma ser mais rígido do que as turmas de primeira instância. Este mês, por exemplo, o Pleno ampliou para dois anos a suspensão inicialmente de oito meses aplicada ao pivô Lucas Mariano, que já estava contratado pelo Flamengo para estrear em fevereiro. Com o aumento da punição, o acordo deverá ser rompido.

OUTRO LADO

Em nota, o Flamengo disse que: "ainda não foi intimado do oferecimento da denúncia esportiva feita pela Procuradoria e, tão logo seja intimado, atuará na defesa do atleta. Não obstante, pode adiantar que não houve qualquer conduta intencional ou tentativa do atleta para afetar ou impossibilitar o controle de dopagem. O Flamengo confia na justiça desportiva e entende que os fatos narrados não configuram uma falta típica, sendo não mais que um mal entendido."

Procurado, o advogado Bichara Neto, que defende Gabigol, informou que o único pronunciamento seria este do Flamengo. A assessoria do jogador enviou uma nota ao UOL dizendo que: "O jogador do Flamengo vem a público confirmar que o exame foi realizado e o resultado apurado já deu negativo. Diante de tal informação, não há nada que possa ferir ou infringir as normas protocolares. Reiteramos que, em nenhum momento, o atleta tentou fraudar o exame."