Onde os fracos não têm vez

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Onde os fracos n?o t?m vez

Ailton Alves 18/02/2008

Botafogo e Flamengo venceram Fluminense e Vasco e v?o decidir o primeiro turno do campeonato carioca. Digo isso e j? me corrijo, devido a inoportunidade da frase. Na verdade, tecnicamente, n?o houve um campeonato no Rio de Janeiro este ano. Inovadores - como sempre - os cartolas exageraram e marcaram todos os jogos dos "grandes" clubes para Maracan?, Engenh?o ou S?o Janu?rio. Criaram uma situa??o t?pica do faroeste dos irm?os Coen, onde os fracos n?o t?m vez.

Nelson Rodrigues, o mestre, s? n?o revirou no t?mulo porque morto n?o est?. Mas, em suas conversas com o "Sobrenatural de Almeida" tem deixado registrado todo o seu espanto. Ele e os torcedores de bom senso, de antes e de agora, sabem que um campeonato carioca s? tem valor, s? adquire legitimidade, s? ? respeitado pela bola se os "grandes" comerem poeira, passarem aperto nas ruas Bariri, Figueira de Melo e Teixeira de Castro da vida. S? ali (campos pequenos, gramados demarcados com cal, alambrados enferrujados) se forjam os verdadeiros campe?es.

Dir?o os pragm?ticos - homens de pouca f? e nenhum romantismo - que Olaria, S?o Crist?v?o e Bonsucesso n?o existem mais. Muito menos o Bangu do Est?dio Prolet?rio e a Portuguesa, da Ilha do Governador - com seu adicional de dificuldade: os fortes ventos. ? verdade, e ? pior para os fatos. Os clubes donos desses pequenos grandes est?dios foram substitu?dos por Cardoso Moreira, Duque de Caxias, Maca?, Mesquita e Resende - clubes-prefeituras, sucessores dos clubes-empresas que acabaram com o charme do nosso futebol. Mas ainda h? o Conselheiro Galv?o, andorinha s? que faria o ver?o, endere?o do glorioso Madureira, o tricolor suburbano.

Os novos pequenos, ent?o, aceitaram o papel de fracos - de esp?rito, principalmente - na esperan?a, talvez, de alguma migalha, um papel de simples coadjuvante, como na m?sica de Noel, sem saber com que roupas iriam ? festa para a qual algu?m os convidou. N?o deu. Foram goleados impiedosamente, sob os holofotes dos melhores palcos. Os "grandes" ficaram com as cartas marcadas e com o cinismo pr?prio daqueles sem nenhuma grandeza. E at? comemoraram as passagens para as semifinais, conseguidas sem nenhum suor ou l?grima. Menos mal que a bola ?, via de regra, soberana e caprichosa. N?o costuma respeitar quem subverte o seu destino talhado desde sempre: o de ser, como o sol, para todos. A vingan?a vir?.

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Se ainda escrevesse, Nelson Rodrigues diria que os tabus do futebol - aquelas situa?es onde, por raz?es diversas, algumas inexplic?veis, um time n?o costuma ganhar de outro - s?o coisa de fracos. O Tupi tinha, em seu imagin?rio, o Ipatinga como pedra no sapato. Em anos de hist?ria s? hav?amos conseguido vencer o Tigre de A?o duas vezes: em 2003, nos tempos do Bretas, por 2 a 1 (dois gols de Maur?cio), e no ano passado, 3 a 2, com aquele gol do Allan, debaixo de chuva, aos 47 minutos do segundo tempo.

Pois bem, agora todas as Minas Gerais sabem que o Galo est? forte depois da vit?ria de s?bado, por 1 a 0, em Ipatinga, gol de Luciano Mandi - o quarto triunfo em quatro jogos. Nem pisar em sagradas folhas secas ca?das de uma mangueira ou escorregar em cascas de banana jogadas pelos pessimistas, nem mesmo esbarrar em macumba nas esquinas da vida impedir? a consagra??o. Faltam 11 jogos e 76 dias para o Tupi ser campe?o mineiro.


Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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