Um estranho artilheiro
Um estranho artilheiro
H? muito tempo, no campo da Curva do Lacet (um espa?o que vai desaparecer, por conta da especula??o imobili?ria e do tal progresso), quando um jogo entre SBF e Rubro acabou (um a um no tempo normal), t?o logo o juiz trilou o apito, duas outras equipes que estavam ? beira do campo entraram na cancha e come?aram a bater bola. S? que ainda faltava a decis?o por penais da partida anterior. O ?rbitro e o representante da Liga foram l? e pediram, educadamente, que os apressadinhos sa?ssem de campo. Foram atendidos sem problemas, mas com um pouco de decep??o pelo atraso.
O fato lembrou-me uma quest?o sempre discutida com meus colegas de time, quando ainda jogava bola como um razo?vel zagueiro, antes da miopia, da cerveja, das noitadas e do cigarro: qual a diferen?a entre o futebol e a bola? Ou seja, quem realmente gosta de futebol, do esporte, ou quem prefere apenas bater bola, sem compromisso?
No meu time jogava um centroavante espetacular. Certa vez ele marcou cinco gols em uma ?nica partida. Um deles id?ntico aquele que Pel? N?O fez contra o Uruguai na Copa de 70, pegando de primeira o tiro de meta batido pelo goleiro. No entanto, ele n?o sabia dizer e nem lhe interessava, por exemplo, quantas vezes o Brasil foi campe?o mundial. Esse atleta, que gostava de bola e detestava futebol, dizia sempre que "N?o h? emo??o maior que marcar um gol"
- frase usada tamb?m pelo ex-
presidente Jo?o Batista Figueiredo, que, acredito, nunca tenha marcado um.
Pois bem, o resto do time "deixava" que ele fosse assim, t?o desligado do futebol em geral, desde que continuasse a marcar os gols e salvar nossa equipe dos empates, a cada domingo.
Por?m, aquilo me incomodava. Como ele poderia jogar t?o bem se nunca tinha visto Reinaldo, Zico e Roberto Dinamite? Ele respondia que Tost?o e Raul, centroavante e goleiro do Cruzeiro, tamb?m detestavam futebol - o que era, hoje eu sei, mentira. Tost?o parou de jogar futebol aos 27 anos, v?tima de um problema na vista e foi exercer a medicina. Se fez tal declara??o, talvez quisesse ser esquecido pela imprensa, que queria dele opini?es at? sobre Mamor? x Caldense. Hoje, dando um tempo na carreira de m?dico, escreve cr?nicas brilhantes, sobre futebol, em v?rios jornais do pa?s. O suposto desgosto de Raul com o futebol tamb?m n?o fazia sentido e at? hoje o ex-goleiro est? ligado ao esporte, comentando jogos para a TV ou como t?cnico.
Um dia, veio a minha vingan?a: falta para o nosso time, ajeitei a bola e bati por baixo da barreira, quando os advers?rios pularam para evitar o perigo a?reo. Goleiro surpreendido... e gol. Quando o rapaz que detestava ver futebol veio me cumprimentar, perguntou: Onde voc? aprendeu esse truque? Vendo Roberto Dinamite bater faltas, respondi. Ent?o assistir a tanto futebol serve para alguma coisa, ele concluiu.
A constata??o dele, no entanto, n?o teve nenhuma conseq??ncia. Continuou fazendo gols de todas as formas poss?veis, mas acredito que at? hoje ele n?o sabe quem o Brasil derrotou na final da Copa do Mundo de 2002.
Al?m de inexor?vel, o tempo ? uma bobagem. De que adiantou contar as horas e os segundos para a batalha pacifica do Mineir?o se em apenas tr?s minutos de jogo j? perd?amos para o Galo da capital? Mas...apesar disso, da perda da lideran?a e do craque atleticano Marques, faltam seis jogos e 41 dias para o Tupi ser campe?o mineiro.
Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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