A ínica e última chance de um grande time

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Ailton Alves 4/1/2010

A única e última chance de um grande time

Quando preparava a Copa de 1946 (aquela que ninguém viu porque simplesmente nunca aconteceu), Jules Rimet recebeu uma informação seguida de uma ameaça: “Qualquer campeonato mundial que não conte com a Itália (leia-se o fabuloso time do Torino) estará fadado ao fracasso”. Ele achou aquela profecia um pouco exagerada, mas, por via de dúvidas, marcou passagem para Turim, com o único intuito de ver de perto as maravilhas desse time tão famoso.

Ele não sabia, mas ao ver aquele jogo do Torino - e depois do que viu insistiu pela participação italiana numa Copa que nunca houve – estava prestando um grande favor ao mundo do futebol. Aquela Azurra, que tinha como base o time de Turim, pentacampeão italiano (1943/46/47/48/49), se apresentaria para o mundo apenas naquela oportunidade. O destino da equipe estava selado: no dia 4 de maio de 1949 todos os 18 jogadores morreriam num desastre aéreo, na Colina de Superga - entre eles o clássico e incansável Valentino Mazzola, meia-esquerda artilheiro e pai de Alessandro Mazzola, que enfrentou o Brasil naquela final de 1970.

Além da Itália, Argentina e Brasil posavam de favoritos para vencer a competição.

Mas, independente desses três casos especiais a Copa seguia seu curso de forma espetacular.

A bola começou a rolar na sexta-feira, dia 10 de junho, no Estádio Nacional de Lisboa, com o clássico da Península Ibérica. E só o clima de festa e a certeza da classificação fizeram a Espanha ganhar de apenas 2 a 1 – o time português era realmente muito fraco. Zarra saiu na frente na luta pela artilharia marcando os gols espanhóis.

Enquanto isso, no Estádio do Lima, na Cidade do Porto, quase na clandestinidade, Hungria e Noruega também faziam a sua estreia, e o elenco magiar, muito longe do time de 1954, ganhou com facilidade por 2 a 0.

No sábado, suíços e belgas empataram (1 a 1), mas os destaques foram as estréias de uruguaios e suecos.

O Uruguai arrasou o México por 4 a 0, demostrando que além de toda a mística da Celeste, o time era muito bom.

Foi o primeiro jogo em Copas de Obdúlio Jacinto Varela, chamado de “El Negro Jefe”. Estranhamente o capitão da equipe não havia participado da fictícia Copa de 42, embora já vestisse a camisa de seu país desde 1939. A explicação era simples: naquela época ele atuava pelo Wanderers e a seleção era dominada pelo Nacional.

Quatro anos depois, a realidade era diferente. O outro time de Montevidéu, o Peñarol, é que formava a base da Celeste, a começar do excepcional goleiro Roque Gastão Máspoli, que tomou a posição de Paz, e de Juan Alberto Schiaffino (para muitos o maior jogador uruguaio de todos os tempos). Do Nacional, como titular, apenas o indestrutível Gambetta.

Os trunfos da Suécia eram Nils Liedholn, Gunnar Gren e Gunnar Nordahl, que formavam o fantástico trio Gre-No-Li, que parecia eterno. Na faixa dos 24-25 anos ele jogaram juntos por 13 anos, na seleção e no Milan da Itália. Seriam campeões olímpicos, em 1948, e os dois primeiros vice-campeões mundiais, dez anos depois.

Estava claro que apenas suecos e uruguaios poderiam se alinhar ao lado do trio Itália-Argentina-Brasil numa futura semifinal.

E foram precisos dois jogos para se descobrir quem seria esse “intruso”.

Na primeira partida, no Campo do Lumiar, do Sporting Lisboa, a Suécia chegou a estar vencendo por 3 a 0 (dois gols de Nordahl – um deles cobrando falta – e o outro de Larsonn), mas a raça uruguaia entrou mais uma vez em campo e conseguiu o empate. Varela fez um de seus poucos gols na vida e Schiaffino o seu costumeiro. Como naquela época não havia disputa de pênaltis e muito menos morte súbita, uma nova partida teve que ser marcada para o domingo.

A reação espetacular do Uruguai no primeiro jogo, que poderia ser tranquilamente o componente decisivo na partida-desempate, desapareceu por completo com a contusão de Schiaffino. Ele passou 72 horas tratando o tornozelo inchado mas não reuniu condições para o jogo.

Na única partida de um domingo, com a presença de todos os adversários na Tribuna, a Celeste jogou muito bem no desempate, mas por uma estranha razão, estava predestinado a perder o jogo. A ausência de Schiaffino e a bola que teimava em não entrar, faziam crer nisso.

Dentro desse clima, não chegou a ser surpresa quando Gambetta avançou e errou o passe. Liedholm recolheu e lançou Gren. Este reuniu suas últimas forças (aos 35 minutos do segundo tempo) e correu com a pelota dominada até a entrada da área, onde rolou para Nordahl chutar seco e decretar a vitória sueca.



Ailton Alves é jornalista e cronista esportivo
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