A euforia e a ressaca

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Ailton Alves 17/2/2010

A euforia e a ressaca

Na sexta-feira, de Carnaval, tudo era festa, uma euforia desmedida. As pessoas saiam do trabalho antes da hora ou, se no prazo regulamentar, atropelando aqueles que deixam a vida seguir seu curso normal. Nessas ocasiões, a palavra viajar tem muito mais peso que viver, como se fosse imperioso estar sobre quatro rodas ou respirar outros ares.

Sei que isso interessa a ninguém, mas nesse clima só consegui encontrar uma pessoa que tinha os mesmos interesses que eu: a brava Ana Carolina (que da outra Carolina, a do Chico, aquela que ficava observando da janela, não tem nada).  De passagem pelo bloco da imprensa falamos do Tupi e da dúvida que a afligia, sobre quem era melhor: Yan ou Robson. Dei minha modesta opinião de que Yan era ligeiramente superior, porém, como disse, não havia realmente clima para prosseguir o papo.

Mas... Yan não pode ser escalado (pertence ao América mineiro e não pode, por questões contratuais, atuar contra seu clube de origem). Jogou Robson, o centroavante vindo de Campos dos Goytacazes que conseguiu a proeza de ser vaiado num dia em que a torcida estava em lua-de-mel com o time – na goleada de 5 a 1 sobre a Caldense.

Então, por volta dos 43 minutos da etapa inicial Robson recolheu uma bola na intermediária do Mineirão. Avançou com a pelota dominada e pressentiu o goleiro adiantado. Chutou por cobertura, marcou um golaço (ainda que ninguém tenha garantias de que a bola ultrapassou a linha fatal) e colocou o Tupi na liderança do campeonato.

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Na quarta-feira pela manhã, na hora em que escrevo, tudo é Cinza, uma melancolia desmedida. As pessoas te olham como se fosse você o responsável pelo fim do Carnaval.

Sei que isso interessa a ninguém, mas a cara que exibo não tem nada a ver com o fim da Festa de Momo. Não obstante o fato de carregar o peso de ser da Galiléia (onde as pessoas geralmente não gostam de Carnaval e sim da Semana Santa e a Procissão do Senhor Morto é de uma beleza inimaginável) os dias de folia e o término da “alegria” não me impressionam. O que me deixa apreensivo, tenso até, é o jogo de logo mais, em Nova Lima.

Ressaca? Também a temos (como nos ensinou Marilyn Monroe, num filme que tem o nome original ligado a ônibus, nunca fomos santos), mas nada se compara à extraordinária expectativa acerca da partida Villa Nova x Tupi.

Da sexta-feira da euforia à hora da ressaca muita coisa aconteceu: o Democrata venceu o América do Norte mineiro, ali às margens da curva mais estrondosa do Rio Doce e voltou à liderança; a Caldense não quis vencer o Cruzeiro e até dois pênaltis perdeu; o Uberaba reagiu espetacularmente contra o Galo da capital, e, saindo das Gerais, tricolores e vascaínos precisaram de 11 penalidades para se conhecer um dos finalistas da Taça Guanabara (que é nada mais nada menos que o primeiro turno de um campeonato estranho, onde os grandes massacram os pequenos sem dó ou piedade, num regulamento confuso e preparado para a festa do “quarteto charmoso”).

Tudo isso, no entanto, perderá, hoje à noite, a importância. Sei, por ausência de ingenuidade, que de novo não encontrarei ninguém pelo caminho com os mesmos interesses. Mas... É a vida, que, às vezes, se resume de forma épica e sem ressentimos a um jogo do Tupi Futebol Clube.

 

 


Ailton Alves é jornalista e cronista esportivo
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