Cedo demais para dar adeus

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Ailton Alves 5/4/2010

Cedo demais para dar adeus

 

Em “Butch Cassidy e Sundance Kid”, o faroeste de George Roy Hill, há uma cena primordial sobre a esperança. Os dois fora-da-lei estão cercados por um sem número de soldados do exército boliviano e não há saída. Mas eles se enganam, e um ao outro: “Contei cinco militares. Ainda bem. Por um momento achei que estivéssemos perdidos”, dizem, antes de saírem do esconderijo e serem massacrados por uma saraivada de balas e gritos.

Lembrei dessa cena (minha cultura é essencialmente cinematográfica) ao final do jogo de sábado, entre Ipatinga e Tupi, no Leste de Minas. O placar apontava 2 a 1 para o Tigre de Aço, fruto de uma então improvável virada, com o gol derradeiro aos 45 minutos do segundo tempo.

Poderíamos, então, nós, os Carijós, lançar mão do tema tabu - um assunto caro ao mundo do futebol. Lembrar e tecer longos comentários sobre o retorno dessa espécie de maldição, quando um time, por razões diversas – algumas sobrenaturais – não consegue vencer outro de maneira nenhuma. Porém, isso seria tão falso quanto uma nota de três reais. No meu tempo sim, era quase impossível bater o Ipatinga. Nos dias de hoje, porém, o dos jovens, não faz sentido. É sempre bom lembrar que o Galo vinha de três vitórias seguidas: aquela do gol de Allan, a outra graças a Luciano Mandi e a terceira bem recente, naquele jogo que impulsionou Ademilson para a artilharia do campeonato.

Portanto, é cedo, muito cedo, para dizer adeus. Principalmente porque no futebol e na vida só nos despedimos, só entramos no mundo da saudade quando é inevitável, quando não nos resta nem mesmo um fio de esperança. Assim como Cassidy e Sundance, os Carijós terão tempo e chance de recarregar armas, contar inimigos, rever estratégia e legitimamente achar que não, não estão perdidos.

Ademais, o tempo é uma ilusão. As coisas, nos dias de hoje, acontecem com uma velocidade espantosa. Quando escrevo, na segunda-feira pela manhã, ao final de um longuíssimo feriado, ninguém mais parece lembrar-se da Santa Ceia de quinta-feira, da Procissão do Senhor Morto ou do jogo de sábado – Tudo parece apenas vestígios de um dia qualquer. E antes que outra segunda-feira chegue o Tupi já terá jogado até mesmo a primeira partida da semifinal do campeonato, contra Cruzeiro ou Uberaba.

Antes dessa semifinal, então, temos o jogo de quinta-feira, o da volta, a revanche, aquela partida que vai definir o que realmente queremos da vida. Para chegar até ela, o Tupi impressionou boa parte de Minas, mas passou por muitos percalços e em alguns momentos parecia, sim, que tudo estava perdido. Nada, no entanto, comparado ao destino dos fora-da-lei do cinema. Paul Newman e Robert Redford já tinham aterrorizado os Estados Unidos, com o “Bando do Buraco na Parede” antes do momento de não terem chances diante de uma situação extremamente adversa.

Na quinta-feira, à noite, ainda no vestiário os jogadores do Galo não vão precisar se enganar, e muito menos à torcida. “Só precisamos de um gol. Ainda bem. Por um momento achamos que estávamos perdidos”, dirão, antes de saírem do túnel que dá acesso ao gramado e serem saudados por uma saraivada de fogos e gritos. De esperança.

 



Ailton Alves é jornalista e cronista esportivo 
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