A irracionalidade da paixão

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A irracionalidade da paix?o
Lucas Soares 21/07/2014

A irracionalidade da paixão

No último domingo, 20 de julho, Internacional e Flamengo se enfrentaram no Beira-Rio e a partida terminou com vitória de 4 a 0 para os gaúchos, mantendo os cariocas na lanterna do Campeonato Brasileiro e em uma crise que parece não ter fim. São oito jogos sem saber o que é vitória, crise financeira, lesões e falta de padrão tático que não coloca uma luz no já escuro túnel rubro-negro.

Mas o que realmente foi destaque aconteceu após o jogo. O lateral esquerdo do Flamengo, André Santos, foi agredido por membros de uma torcida organizada do rubro-negro ao tentar deixar o estádio mais cedo, justamente para fugir de possíveis problemas com a torcida - no dia em que o Flamengo embarcou rumo à Porto Alegre, estes mesmos torcedores ameaçaram alguns jogadores, incluindo André, e dirigentes. O tom do desabafo foi de "Se não ganhar lá (em Porto Alegre), nem volta para o Rio."

Chegamos ao ponto em que é o tema deste colunista: a irracionalidade de quem nutre uma paixão. Vimos a mídia, em sua maioria absoluta, condenando a atitude dos torcedores flamenguistas. Concordo que quem agrediu está totalmente errado, que este não é o caminho e que é inaceitável que tenham tomado tal atitude, afinal, todo mundo aprendeu que quando se parte para a agressão, perde-se a razão, conforme diziam nossos pais e avós.

No entanto, sejamos todos menos hipócritas e mais humanos, que é o que realmente somos. Aceitamos nossa natureza, nossa sociedade sem paciência e nossas imperfeições e defeitos. Dizem que nada explica uma agressão. Nada? Imagine nessa situação: você chega em casa, e dá de cara com sua mulher, ou seu marido, na cama com outra pessoa. O sangue vai ferver, você vai ter vontade de dar na cara de quem aparecer pela frente. Suponhamos que você parta pra cima do amante e seu/sua companheiro (a). Onde que essa violência doméstica é diferente de bater em um jogador de futebol? Ambos são crimes, independente de qual for o motivo.

Mas ah, vão dizer que o cara estava fazendo o trabalho dele. Estava? André Santos é um ex-jogador da Seleção Brasileira, ganha super bem e vem em atrito com a torcida do Flamengo há tempos, que pede a sua saída. Ele é pago para chegar no horário do treino durante a semana, controlar o peso e jogar bola, correndo durante os jogos. É o mínimo que se exige de um atleta profissional. Mas André se arrasta em campo, vive acima do peso, é um dos que menos corre no time que é lanterna da competição, já teve problemas extra-campo se envolvendo em acidentes pós-festa e, dizem, já chegou alcoolizado a uns treinamentos. Na época em que atuava pelo Arsenal, da Inglaterra, foi até preso. 

Faltou pulso do chefe que tinha que ter mandado esse péssimo profissional embora antes, ou nem contratado. Mas ninguém o fez, ninguém o tirou do time. E quem vai pagar o pato é o próprio chefe. Deveria ser só um esporte, algo puramente com intuito de entretenimento e sem problemas desse tipo. Mas sabemos que não é sempre assim. Ficou feio para a instituição Flamengo, que tem torcedores marginais que batem em um jogador que só quer o salário na conta no final do mês, sem fazer o mínimo do que se espera dele. Ficou muito feio, já que o indisciplinado, agora, se tornou vítima.

Há outra convenção social que diz que, para ser respeitado, é preciso mostrar respeito. Que o seu direito termina onde começa o meu. Quando há a invasão destes espaços, a razão sai de cena. Nunca precisei de violência pra resolver nada, mas não fiquei com um pingo de pena do André Santos. Deveria?