O homem de duas Copas do Mundo
O homem de duas Copas do Mundo Fot?grafo juizforano Benito Madalena conta suas hist?rias quando cobriu as competi?es na Argentina, em 1978, e na It?lia, em 1990
Rep?rter
abril/2006
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Ele tem no curr?culo duas Copas do Mundo, tr?s Copas Am?rica, um Torneio
Internacional da Fran?a, dezenas de Campeonatos Brasileiros e Ta?as
Libertadores da Am?rica. N?o ? t?cnico e nem jogador de futebol. Benito
Madalena nunca foi convocado. Ele mesmo se convocou. Fot?grafo
profissional, o juizforano se orgulha de ter colocado em sua cabe?a que iria
cobrir o maior torneio de futebol do mundo e, mais do que isso, ter
conseguido realizar seu sonho. A hist?ria de Benito Madalena com o esporte come?ou em 1977. Antes, desde
os 17 anos de idade ele j? fotografava. Primeiro as paisagens, fotos de
fam?lia, at? que naquele ano ele entrou em campo pela primeira vez. Foi para
cobrir a partida entre Serrano e Fluminense, em Petr?polis, v?lido pelo
Campeonato Estadual do Rio de Janeiro. Benito ? Fluminense, mas estava l?
para cobrir especificamente a participa??o de um jogador do Serrano.
Edu, criado em Juiz de Fora, amigo do fot?grafo e antigo jogador do
Sport, pediu que ele fizesse algumas fotos daquele momento de sua carreira.
Benito come?ou a trabalhar pr?ximo do futebol e n?o parou mais. Um ano depois, o sonho de cobrir uma Copa do Mundo come?ava a ficar mais
forte. A disputa do torneio mundial era na Argentina, pa?s vizinho e um dos mais pr?ximos. Benito
avaliou que, podendo at? mesmo ir de ?nibus para aquela Copa, era
sua chance de ouro. Assim ele fez. Com 1.200 d?lares ele embarcou para
Buenos Aires, credenciado pela revista Raz?es, antiga publica??o de Juiz de
Fora. Durante a competi??o na terra de nossos "hermanos", que ali?s foram os
campe?es naquele ano, Benito fazia suas fotos, vendia nas ruas das
cidades argentinas e com isso ia recuperando parte do investimento. Chegou a
lucrar, um pouco, mas n?o muito. Mas ganhou o direito de dizer: eu j? estive
em uma Copa do Mundo. Em 1990 ele p?de dizer mais. Foi quando viveu o grande momento de sua
carreira e, porque n?o, da sua vida. Filho de pais italianos, tendo falado
italiano dentro de casa e sempre lido muito sobre a hist?ria daquele povo
europeu, Benito via na Copa disputada no pa?s de origem de seus
antepassados como a grande oportunidade de realizar de fato um grande
sonho. "Eu queria conhecer a It?lia e queria ter experi?ncia internacional tendo feito
uma Copa do Mundo na Europa", conta Madalena, que foi patrocinado por uma
empresa de turismo. Mas o dinheiro era s? para a viagem, nas antigas Linhas
A?reas Paraguaias, que nem existem mais. Para ficar na It?lia ele
praticamente n?o tinha dinheiro. "Levei fotos, trabalhos que eu fiz aqui no Brasil, como paisagens do
pa?s, fotos do carnaval, do futebol. Tinha fotos do Flamengo, do Fluminense,
o pessoal comprava e eu ia me virando. N?o me arrependo. Passei um sufoco
danado, dificuldades para arranjar um lugar para dormir, pois estava sem
dinheiro como sempre, mas valeu muito ? pena", conta Benito, que
fala razoavelmente o italiano aprendido em casa. O fot?grafo juizforano foi para a It?lia e realizou seu sonho. Mas quando
desembarcou n?o tinha conseguido o mais importante ainda: o credenciamento.
Ele at? havia tentado, no Rio de Janeiro, junto a Carlos Alberto
Pinheiro, assessor da Fifa no Brasil, e homem ligado diretamente a Jo?o
Havelange, que era presidente da entidade na ?poca. Mas na ocasi?o, o
dirigente disse que n?o poderia fazer nada por ele. S? que Benito foi para a It?lia assim mesmo. Chegando em Torino,
disseram que ele deveria ir tentar o credenciamento em Roma. E foi l? que
ele reencontrou Carlos Alberto Pinheiro. "Quando ele me viu, ficou impressionado com minha determina??o e com
minha perseveran?a. Ele n?o teve como negar e me credenciou. Parabenizou e
depois daquilo as portas come?aram a se abrir para mim", conta o fot?grafo,
que s? assim teve a oportunidade de viver um grande momento da sua vida. "Era um sonho. Eu me emocionei muito. Estar no meio daquele batalh?o de
jornalistas e fot?grafos do mundo todo. Gente do New York Times, France
Press, e eu l? no meio, com minha m?quina 200mm e mais duas ou tr?s c?meras
mais ou menos", conta o fot?grafo, que mais uma vez montou pain?is nas ruas
da It?lia para vender aos torcedores. "Eu revelava l? mesmo e ia vender. O pessoal no exterior d? muito mais
valor aos fot?grafos brasileiros do que aqui", explica Benito. A ?nica frustra??o do fot?grafo de Juiz de Fora foi n?o ter visto o
Brasil vencer aquela Copa do Mundo. Na derrota para a Argentina, de
Maradona e Caniggia, ele estava no campo, triste, ao lado do
ent?o rep?rter da TV Globo, Pedro Bial. Junto deles, centenas de
jornalistas que viram uma das p?ginas tristes da hist?ria de nosso
futebol. "O Brasil desperta um encantamento e por isso parece que fica todo mundo
torcendo para o Brasil ser campe?o. O est?dio ficou em sil?ncio e s? os
argentinos comemoraram. E fiquei triste tamb?m porque a It?lia n?o venceu. A
It?lia ? minha segunda p?tria e perdeu para a Argentina em um jogo em
N?poles. O Maradona era endeusado em N?poles porque deu o t?tulo daquele ano
ao N?poli. E a torcida napolitana torceu contra a It?lia naquele dia. Eles
s?o discriminados pelos outros italianos e por isso naquele dia torceram
contra o pa?s, e pelo Maradona", recorda-se Benito, que j? cobriu
outros eventos importantes em todas as ?reas mas deixa claro que sua paix?o
? o futebol. A visita do Papa Jo?o Paulo II, duas edi?es do Rock in Rio,
posse dos presidentes Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso e Lula,
al?m de shows diversos de artistas internacionais como Madonna, ou nacionais
como Chico Buarque. Mas nada disso foi mais marcante do que estar no centro
do mundo, como na Copa. "As pessoas n?o podem deixar de tentar. N?o h? pre?o, n?o h? dinheiro que
pague conseguir um sonho almejado", encerra Benito, que ainda n?o
desistiu de ir na Copa do Mundo deste ano, mesmo sem credenciamento."Eu n?o
desisti. Sou teimoso, n?o desisto f?cil".Com a cara e a coragem