Tupi, o ?derrubador de prognósticos?. Mas, precisamos entender o jornalismo

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Tupi, o ?derrubador de progn?sticos?. Mas, precisamos entender o jornalismo

Tupi, o “derrubador de prognósticos”. Todavia, precisamos entender o trabalho jornalístico

 Matheus Brum 23/08/2017

Antes do início da Série C do Campeonato Brasileiro, em várias projeções realizadas nos jornais, rádios, sites e programas de TV, o Tupi aparecia como uma das equipes que iria lutar contra o rebaixamento. Para muitos torcedores, a imagem que fica deste período é uma arte do globoesporte.com que aparece o selo “briga para não cair”.

Pois bem, três meses depois, o jogo virou. E muito. O Carijó é vice-líder, com “um pé e meio” na classificação para o mata-mata decisivo do torneio. Entretanto, este prognóstico inicial tem voltado à tona, principalmente nas redes sociais. A situação, no meu ponto de vista, tomou proporções maiores depois das falas de Marcel e Ailton Ferraz, após a vitória sobre o Mogi Mirim, por 1 a 0, no último final de semana.

Para entender, precisamos voltar um pouco no tempo, mais precisamente no dia 20 de maio, data em que pela segunda rodada, o Tupi foi derrotado no Estádio Municipal Radialista Mário Helênio pelo Ypiranga-RS, por 2 a 0. Apenas 586 pessoas acompanharam aquela partida, sendo 306 pagantes. Ali, “choveram” críticas. A sensação era que de fato o time não conseguiria almejar grandes coisas no torneio. Na coletiva pós-jogo, Ailton destacou que o time precisava se impor mais dentro de casa e que a luta não seria fácil (acompanhe a partir de 9m30s).

Por conta deste início ruim, muitos “abandonaram” o time, deixando até mesmo de ir ao estádio. Chegamos ao ponto de ter menos de 200 pagantes em partidas do Tupi. Parecia, de fato, que as previsões estavam corretas. Se você, que está lendo, acreditava, racionalmente, que o elenco era qualificado para estar no topo da tabela, pode fechar esta aba e continuar com seus afazeres. O texto, não é para você.

Por méritos totais dos jogadores e da comissão técnica, o cenário mudou, o time progrediu, encorpou, desenvolveu padrão tático, individualidades apareceram, e o resto, é história. Atualmente, o “Fantasma do Mineirão” é o vice-líder do Grupo B.

Só que, ao invés de comemorar a reviravolta, alguns torcedores, principalmente através das redes sociais, começaram a atacar os jornalistas, que no início diziam que a equipe brigaria para não cair. Usaram a arte feita pelo globoesporte.com (citada no início deste texto), como forma de descredibilizar o trabalho, muito bem feito por sinal, de alguns colegas.

E pior, o brado é seguido por jogadores, e, para minha estupefação, pelo treinador.

Ao final do confronto contra o Mogi, tanto Marcel, quanto Ailton (que elogiei na semana passada), “jogaram na cara” de nós, jornalistas, que não acreditávamos neles. E de fato, era para sonhar? Depois de um péssimo Campeonato Mineiro, um desmonte no elenco, contratações a atacado e início ruim no Brasileiro? Será que eles mesmo sabiam do sucesso que iam alcançar?

O pior de tudo é que esquecem das centenas de elogios que têm recebido desta mesma imprensa que, na teoria, não acreditava. Ailton mudou completamente o discurso feito no início do torneio, quando falava que a briga era para não ser rebaixado. Contra o Macaé, criticou fortemente os atletas, pedindo uma mudança de atitude.

“O sinal de alerta está totalmente ligado. Estou preocupado. Se a gente não procurar uma mudança de atitude, a gente pode ficar no meio da estrada. Esta é a grande realidade”, disse na ocasião.

Depois de tomar sufoco do Mogi Mirim, mas conseguir a vitória, uma semana depois, o tom foi completamente oposto. As críticas, ao invés do futebol praticado, vieram para a imprensa, que durante toda a semana alertou sobre os perigos de um confronto contra uma equipe como a paulista.

“Gostei da entrega. Vocês sabem que não temos um super time, temos um time de operários. É que não posso falar o real das coisas. Ao começar o campeonato tinha um carimbo grande “time que ia descer”. E muitos de vocês pensavam desta forma, não tenho dúvidas. E pra frisar bem, Macaé tava lá em baixo, vocês sabem, 3 a 2 em cima do Botafogo-SP. Então, será que a gente está no caminho errado? De respeitar estas equipes? Então é uma coisa que vocês (jornalistas) têm que rever, torcida tem que rever, por que estamos jogando com inteligência”, afirmou no último sábado.

Em nenhum momento, algum jornalista levantou a possibilidade de desrespeitar algum time. Sempre lidamos, nos jornais, internet e programas de rádio e TV, com a expectativa de serem confrontos difíceis. Contudo, com o futebol apresentado dentro de campo e por estar em casa, o Tupi era favorito. Alguns torcedores, pela paixão, levantaram a bola dizendo, por exemplo, que contra o Mogi era obrigado golear. No entanto, tal afirmação nunca foi divulgada em nenhum veículo de comunicação da cidade.

Sobre jogar com inteligência, parte da visão de futebol de cada um. Particularmente, diante do Mogi, não teria chamado a equipe deles para o campo defensivo. Aumentaria o número de jogadores no meio de campo e trocaria passes. Recuar com 1 a 0 no placar é perigoso. Um empate, contra os alvirrubros, seria desastroso.

Acredito que Ailton tenha feito tais declarações com o intuito de tirar o foco dos jogadores, após mais uma partida ruim. Mesmo assim, foi infeliz ao tentar jogar o torcedor contra os jornalistas que, na coletiva, perguntavam sobre a atuação abaixo da média.

Fui o repórter que iniciou a entrevista. Ao perguntar sobre o sufoco, o comandante começou a responder com uma pergunta: “todos aqui entendem de futebol, não é?”. Posso não entender como ele, mas, rebato com outro questionamento: “entende de jornalismo? ”.

E isso vale para todos os torcedores que têm usado as redes sociais para criticar nosso trabalho. Se Ailton não pode jogar o “real” dos acontecimentos do Tupi, eu posso falar a realidade da imprensa juiz-forana. Se a pauta é “vocês não estão do lado de cá para entender”, vou falar como as coisas andam do nosso lado.

Talvez muitos não entendam como é difícil trabalhar com o esporte em Juiz de Fora. Em todos os veículos de comunicação, sem exceções, a editoria esportiva é a primeira a sofrer cortes, em casos de redução de gastos. Falo isso por fazer parte da equipe “Bola na Rede”, da Catedral FM, que tenta colocar mais uma rádio ao lado do desporto local.

Não fazem ideia de como é difícil correr atrás de patrocinadores. Muitos usam o argumento da crise financeira para não patrocinar, outros falam que transmissão de futebol não traz retorno, alguns não pagam, e muitos, a grande maioria, não aceitam nem conversar. Talvez não saibam de como é preciso, muitas vezes, “bater de frente” com a direção do veículo para conseguir autorização para viajar e de como é caro pegar a licença para estar dentro do campo, levando todos os detalhes das partidas.

Fazemos isso não apenas por ser nossa profissão, mas sim por ser nossa paixão. Em alguns momentos, pagamos para poder estar acompanhando e levando a informação para você, torcedor. Não quero aqui dizer que somos perfeitos. Sim, cometemos erros. Mas, nunca, de características éticas.

Faltam, para muitos, o entendimento do que significa o trabalho jornalístico. Não temos como obrigação falar bem ou mal de algo. Temos o compromisso de levar a informação. Alguns, me coloco no meio, são acusados de jogar contra o clube. Por quê? Por divulgar salários atrasados, processos na justiça, falta de estrutura, falta de transparência, atuações ruins, marketing inexpressivo, entre outras pautas. Alguém acompanha noticiário de outras cidades? Se sim, verão que fazemos da mesma forma. Mas, ao invés de usarem as informações para pedir uma instituição melhor, resolvem nos xingar. É “chato” pra cá; “mala” pra lá; “quer aparecer”, pra cá”, “chupa” pra lá (não colocarei os piores por motivos óbvios). Pior, sem nenhum argumento.

Defendo a ideia de que a relação esporte-imprensa é uma dupla troca. Sem os clubes, sem as competições, não existiria jornalismo esportivo. Sem a gente, o alcance das notícias sobre as instituições seria praticamente nula. E é isso que você, torcedor, precisa entender. Nenhum de nós jogamos contra A ou B, contra Tupi ou Tupynambás, contra JF Vôlei ou ADJF.

Não existe, dentro do código de ética do jornalista, algo que fala sobre o “momento” de divulgar algo. Informação é informação. Ponto final. Entendo que a profissão passa por um momento muito grave, de descredibilidade, mas, acreditem, não são todos. Os daqui, tanto no esporte, quanto em outras áreas, fazem um trabalho sério. E, podem ter certeza, dão muito duro para apurar as informações e levarem até você.

Não é um texto de crítica ou de ataque. É apenas uma forma de usar o espaço que tenho para explicar algo que, particularmente, me incomoda a muito tempo. Aceitamos críticas, mas, procurem, por favor, entender o trabalho jornalístico antes, justamente para que não sejam levianos e oportunistas (como as críticas à arte do ge.com). Que procurem saber como são as redações; o preconceito que existe, dentro da profissão, àqueles que gostam do esporte; de como sofremos com a modinha “entretenimento” nos programas esportivos; dos custos para viajar atrás de uma equipe; da dificuldade de estabelecer um grande veículo comunicacional, etc.

No fim, nosso compromisso é sempre com você, torcedor, que nos honra com sua audiência. Torcedores, jogadores, diretores e membros da comissão técnica, podem ter certeza, estamos todos caminhando do mesmo lado. Porém, temos compromisso com a informação. Não criticamos por criticar. Falamos, porque sabemos que podem ser melhores.

Ailton e Marcel, e todos os outros, parabéns pelo excelente trabalho. Isso mostra o quanto orgulham a todos que gostam do Tupi. Só que sabemos que podem mais. Já vimos dentro de campo atuações melhores. Não nos “culpem” por algum fracasso.

Em tempos, se analisarmos o prognóstico do GE, veremos que dos 20 clubes, eles acertaram, até agora, a situação de 10, ou seja, 50%. Isso mostra o quanto podemos cometer falhas. E mais, aumenta, de forma estrondosa, os méritos do Tupi e de outras equipes. Que de desacreditados, brigam pela classificação, e, quem sabe, pelo acesso.

Que possamos ter empatia para entendermos os problemas um dos outros. Me coloco, mais uma vez a disposição para colaborar, seja com time, diretoria ou torcedor para um futebol melhor. Assim como espero a colaboração de todos para que possamos realizar um trabalho cada vez mais de excelência.

Saudações a todos.