Instituto Vianna Jínior

Se o leitor sabe quem é Gore Vidal, pode saltar este primeiro parágrafo. Se não sabe, digo: é um dos mais lidos romancistas americanos, com alguns livros já traduzidos no Brasil, dos quais não li nenhum. E fala o que quer. À maneira dos escritores do resto do mundo, nada sabe sobre o nosso país e já nos referiu, em entrevistas, de modo revelador desse desconhecimento. No dia 1? deste mês, a "Folha de São Paulo" publicou breve entrevista sua, a propósito do lançamento do sétimo romance ? The Golden Age ? último de uma série que tem por tema a construção do império americano.

Nessa entrevista, Gore Vidal diz coisas contundentes para o comum das pessoas que ficam ao Sul do Equador. Mas quem vem acompanhando a marcha da História não se assusta muito. Começa o escritor por dizer que entre os anos 40 e 50 "Franklin Roosevelt adquire a maior parte do mundo para os EUA". Com o desmoronamento da União Soviética, os Estados Unidos ficaram sozinhos como a maior potência militar e econômica do mundo de hoje. "Não há mais alternativa ao império americano ? diz Vidal. Não há sinal de outro poder que rivalize com o norte-americano. Os Estados Unidos são o único poder global". Isso desagrada ao escritor, mas é irremediável para quem afirma: "ao contrário do que diz nossa própria propaganda, somos detestados.". E dá uma forte razão para isso: "os EUA sempre agem de má fé com outros países. Sejam sempre cautelosos ao lidar conosco." Essa advertência é boa para os que, no Brasil, vivem se babando de amores pelos Estados Unidos, esquecidos da advertência de Foster Dulles no Rio de Janeiro, ao tempo de Juscelino Kubitschek: "os Estados Unidos não têm amigos, têm interesses a defender".

Nossa Tribuna publicou, no sábado, uma notícia sob esse título: "Vitória de Bush será melhor para o Brasil". É o pensamento de certos empresários. É o caso de sugerir: "será menos ruim para o Brasil". Sabe o leitor por quê? Por isso mesmo que o Gore Vidal, que é primo do adversário de Bush, disse na entrevista citada. É mais por isso, que também ele disse: "o país não é governado por presidentes, e sim pelas grandes corporações. Quem for presidente será pago por elas, e os presidentes vão fazer o que elas querem." E sabe o leitor que é que elas querem? Querem acabar com o Mercosul, substituindo-o pela ALCA, que será comandada pelos Estados Unidos em favor delas. Assim fizeram quando Juscelino Kubitschek armou um plano sul-americano de cooperação econômica. Por isso temos que nos preparar para aceitar a ALCA, pois o império vai impô-la a todos os países sul-americanos. Vale repetir Gore Vidal:" não há mais alternativa ao império americano. Não há sinal de outro poder que rivalize com o norte-americano." E ele mesmo diz ainda, na referida entrevista, que a cultura americana "é um grande produto de exportação". E nós a estamos vendo aí nessa música de quinta categoria, imitada por nossa juventude inadvertida, pela estranha e horrível comida dos Bob e McDonald, do cinema e da televisão, e, mais recentemente, do "Dia das Bruxas", que a cretinice imitadora de alguns está iniciando entre nós ? um país de folclore riquíssimo, que bem dispensa tal macaqueação. Desse material se faz o império.

Acabei fazendo uma salada? Não faz mal; o que eu queria dizer é que estamos já irremediavelmente sob um império, mais forte do que aquele que fez a civilização européia ? o de Roma. Ao menos, Roma legou ao mundo uma cultura espiritual. Essa, que já está aí, é do mais grosseiro materialismo.