Fórum de Coletivos e Mulheres Feministas de Juiz de Fora realiza marcha e festival cultural em 8 de março
Atividades marcam o Dia Internacional das Mulheres; concentração acontece a partir das 17h, no Parque Halfeld
O Fórum de Coletivos e Mulheres Feministas de Juiz de Fora (Fórum 8M-JF) realiza na próxima quarta-feira (08) uma marcha e um festival cultural para marcar o Dia Internacional das Mulheres. Com o tema “Pela vida das mulheres, em defesa da democracia, dos direitos e contra a fome! Sem anistia!", as atividades começam às 17h, no Parque Halfeld.
Após a concentração, terá início a marcha que percorrerá diversas vias do Centro de Juiz de Fora (MG). Partindo da Avenida Rio Branco, seguirá pela Rua Mister Moore, Avenida Getúlio Vargas, Calçadão da Rua Halfeld e, por fim, retornará ao Parque Halfeld, local onde acontecerão as manifestações culturais. Dentre as atrações culturais, já estão confirmadas as presenças do Coletivo Resistência Puri, dos grupos Muvuka, Ingoma, XotaEfe e Charmosas do Tamborim, além das artistas Sandra Portela e Ciça Liberdade, Mc,s e poetas Sophia Bispo, Joyce Mirella e Nalu
As ações visam alertar a sociedade juiz-forana, em especial as mulheres trabalhadoras, sobre o cenário de violências e a necessidade de organização coletiva para transformar essa conjuntura.
Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontam que Juiz de Fora é a segunda cidade do Estado com mais casos de violência contra a mulher. Em 2022, no Brasil, ao menos quatro mulheres foram mortas por dia. Na maioria dos casos, os agressores foram os maridos, namorados ou ex-companheiros. Do total de vítimas de feminicídios registrados no ano passado, 62% eram mulheres negras.
Os números alarmantes não param por aqui. O Brasil também é o país do mundo com mais mortes de mulheres trans e travestis. As mulheres com deficiência estão mais sujeitas a sofrerem violências psicológicas e as mulheres indígenas, com gestações e saúde sob risco devido ao avanço do garimpo. Somam-se a isso a menor remuneração no mercado de trabalho, mesmo quando desempenhando as mesmas atribuições de trabalhadores homens, além de toda a exaustão promovida pela jornada dupla, às vezes tripla, com o trabalho doméstico, os cuidados com crianças e idosos.
“Pela vida das mulheres”
O tema das atividades deste ano do Fórum 8M-JF - “Pela vida das mulheres, em defesa da democracia, dos direitos e contra a fome! Sem anistia!" - foi definido coletivamente, por mulheres trabalhadoras, representantes de mais de 50 organizações.
“O mote partiu da análise que as organizações e mulheres presentes nas reuniões abertas unificadas fizeram da conjuntura. A primeira coisa que a gente procura sempre é nos situar dentro do que está acontecendo para organizar a bandeira que mais pode aglutinar mulheres em torno do 8 de março”, ressalta a militante do “Coletivo Pretxs em Movimento” e Fórum 8M-JF, doutoranda em Serviço Social na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Lucimara Reis.
O Fórum 8M-JF valoriza o olhar, a fala e a escuta das mulheres trabalhadoras pertencentes às organizações feministas, aos sindicatos e, também, das mulheres independentes presentes nas reuniões. “Foi um chamado aberto, para que todas as mulheres que tivessem interesse em construir essa luta por direitos, contra o capitalismo, antirracista, estivessem presentes nessa construção. O mote foi uma decisão coletiva. Há nele abertura para conversas sobre várias opressões e explorações que o sistema coloca sobre as mulheres. É um mote que se abre em vários leques. Cada mulher trouxe um pouco da sua vivência e, desse modo, o mote contempla um pouco de cada experiência do que é ser mulher no Brasil hoje”, acrescenta Lucimara.
A jornalista Leiliane Germano, integrante do “Coletivo Subverta” e Fórum 8M-JF, destaca que a marcha e o festival cultural são oportunidades de enfrentamento aos inúmeros desafios impostos às mulheres trabalhadoras na conjuntura brasileira e juiz-forana. “A precarização do trabalho se intensificou na pandemia de Covid-19. Esse é um dos principais desafios encontrados pelas mulheres trabalhadoras na atualidade. Vejo isso como uma questão nacional. Estamos cada vez mais sobrecarregadas, com duplas e triplas jornadas, recebendo remuneração ainda inferior à remuneração da maioria dos homens e lidando com o desemprego que atinge em sua grande maioria mulheres negras da periferia. Precisamos romper com essa barreira que divide o mercado de trabalho de forma sexista e debater as diferenças de classe e a desigualdade social a partir de uma perspectiva de gênero também.”
As lutas diárias, das menores às maiores, devem e precisam ser feitas de forma coletiva. “Só existe luta e vitória social se a gente debate assim, principalmente quando estamos falando de trabalho e desigualdade social. Eu convido todas as mulheres a conhecerem as organizações sociais daqui da cidade. O Fórum 8M-JF, as associações de bairros, os sindicatos, que conheçam e somem nesses espaços. Quanto mais estivermos nos espaços de debate coletivo, mais pautas presentes na realidade das mulheres vamos conseguir discutir”, avalia Leiliane.
“Somos muitas e diversas”
As reuniões unificadas do Fórum 8M-JF para a organização da marcha e do festival cultural contaram com a presença de mulheres trabalhadoras de diferentes idades, profissões, raças e etnias, orientações afetivo-sexuais. É com respeito à diversidade que se faz a luta coletiva para transformar a conjuntura, conforme salienta a artista Adryana RyalPuri, integrante da diretoria da Associação de Produtores de Artes Cênicas de Juiz de Fora (APAC-JF), do Biné Instituto de Arte e Cultura e do Movimento de Retomada Puri Zona da Mata Mineira.
“Uma mulher indígena vive sob constante ataque de diversas formas. Quando você acha um coletivo das lutas feministas que te apoia e no qual você é vista não só como mulher, mas como mulher indígena, mulher Puri, e você tem o direito e o poder de falar e dar voz, é mais do que importante. É necessário para a sobrevivência humana. A mulher tem diversos papéis. Somos matriarcas, somos protetoras, somos cultivadoras. A caminhada não se constrói sozinha. Às vezes, você está sozinha numa caminhada, mas ela não se constrói sozinha. O caminho é lapidado dentro de um coletivo. O coletivo feminista faz isso, permite que a caminhada seja contínua”.
A avaliação sobre a importância da organização coletiva de mulheres trabalhadoras é compartilhada pela assessora de política para pessoa com deficiência e vice-presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Rita de Cássia Petronilho Barbosa. “É fundamental trazer as pautas das mulheres com deficiência para as discussões dos movimentos feministas, para que juntas possamos buscar e lutar por direitos, mostrando a condição na qual as mulheres com deficiência vivenciam as discriminações, os preconceitos, o capacitismo, que acha que somos incapazes de decidir por nós.”
Ainda conforme Rita, dentre as opressões sofridas por mulheres com deficiência, estão desde as violências que as impedem de estar nos espaços como as demais mulheres até as restrições à comunicação e compreensão.
”Vivenciamos até nas famílias que acham que mulheres, meninas e adolescentes com deficiência não podem decidir e ter acesso às mais diversas informações, estar nos espaços como as demais, lutar por seus direitos. São vários os tipos de violência, inclusive a violência de não poder denunciar a violência, quando há barreiras arquitetônicas; quando não há intérpretes da Libras, mas a principal barreira é atitudinal, quando a mulher com deficiência é desacreditada ao fazer uma denúncia, ao relatar determinada situação. Essas pautas precisam ser discutidas com as demais companheiras. A importância da nossa participação nos movimentos feministas é grande, é necessária para que a gente possa construir a inclusão e uma sociedade muito melhor para todas.”