Sexo Seguro
Por que os casados "também" devem praticar o |
Não existe o grupo, mas sim, o comportamento de risco
Sabe-se que conter uma epidemia é um problema de grande proporção. Já a transmissão do vírus HIV é um problema ainda de maior grau, pois sua principal via de contágio é um assunto delicado para a maioria da população: a sexualidade do indivíduo. "Além de ser uma epidemia recente, o problema de saúde pública que se tornou a AIDS choca-se com o caráter comportamental de risco", explica a coordenadora do Centro de Orientação e Apoio Sorológico (COAS/JF), Maria Luiza Stheling. Para ela, a grande dificuldade está em lidar com os tabus, valores pessoais, familiares, ético-morais de cada indivíduo a apresentar o comportamento de risco.
"Sim, comportamento de risco, porque não se pode falar em grupos, já que todas as categorias sexuais estão expostas à transmissão da doença",explica Stheling rechaçando a expressão muito utilizada anteriormente "grupo de risco". Nos centros de apoio ao paciente soropositivo, é trabalhado o conceito de que risco é risco e que ele precisa ser graduado. "Ninguém quer desestimular as relações, mas pôr fim ao contato de líquido com líquido", fala a coordenadora do COAS/JF sobre o papel fundamental dos preservativos no trabalho de contenção da epidemia. "Fazer sexo sem preservativo é um comportamento de risco gravíssimo", finaliza.
dentro de casa
Em 1985, para cada 99 homens infectados, havia uma mulher contaminada. Passada uma década, essa relação caiu para uma mulher infectada para cada 4 homens, em média. Estes números não se restringem ao Brasil, mas aos demais países tidos como "em desenvolvimento". Mas, afinal, quem está levando a AIDS para dentro de casa?
Para as ONGs/AIDS do país, a culpa não é só do "marido infiel" como deixa suspeitar a recente campanha nacional do Governo. No site www.aids.org.br, o Fórum de ONGs do Estado de São Paulo, que congrega mais de 50 grupos, mantém uma página-protesto contra as campanhas publicitárias do Ministério da Saúde. De acordo com o que foi escrito na carta, a campanha Não leve a AIDS para casa é machista porque considera que a população feminina é incapaz de adotar medidas de sexo seguro.
A coordenadora do Centro de Orientação e Apoio Sorológico (COAS/JF), Maria Luiza Stheling, fala que tratar da possibilidade de AIDS dentro de uma relacionamento estável, seja em um casamento ou namoro, onde normalmente são abertas concessões deste nível, é caminhar em um campo minado, onde várias questões estarão em jogo. "Primeiramente, a auto-estima do casal, depois a confiança mútua posta em xeque, o problema da auto preservação, passando pelo constrangimento da desconfiança, quando se pede para o parceiro usar preservativos ou fazer o teste de HIV", enumera Maria Luiza.
Lidar com a traição é o principal problema
entre casais em exposição ao HIV
Por que é ainda tão difícil convencer casais de que eles devem praticar o sexo seguro? "Por estarmos lidando com a possibilidade de um terceiro na relação", responde a coordenadora do Centro de Orientação e Apoio Sorológico, Maria Luiza Stheling. Mas se é impossível prever que um encontro amoroso extraconjugal aconteça durante uma relação estável, a prevenção continua sendo a melhor saída para os casais que vivem esta situação.
"O que dificulta é que normalmente o auto cuidado bate com o impulso, pois a sexualidade nem sempre é racional. Não são planejados, nem podem ser previstos os encontros amorosos. Somando o fato de que, a sedução, desejo e excitação fazem baixar o nível de consciência", analisa a Coordenadora que ainda adverte sobre o preconceito de que "o sexo seguro é considerado mecanicista e higiênico, algo que bate com o animalesco do desejo".
Diálogo ainda é a melhor forma de prevenção
A maior arma de quem trabalha com indivíduos expostos ao risco de contaminação da AIDS e outras DSTs é o diálogo. No Centro de Apoio e Orientação Sorológico, os casais são convidados a assitir palestras dentro de um trabalho educativo. As mulheres são aconselhadas a praticar sexo com preservativos e pedir aos parceiros que realizem o teste.
A realidade através dos números
De 75% a 85% das infecções se devem a relações sem proteção e quase três quartos dessas infecções são produto de relações heterossexuais. Muitas mulheres foram infectadas por maridos que não praticaram sexo seguro fora do casamento (e nem dentro).
Segundo o Ministério da Saúde, o número de casos de AIDS femininos acumulados no Brasil, entre 1995 e 1996, era de 1.978 - destes, 1.002 através de relações sexuais não protegidas.
Peste gay agora também é problema de marido e mulher
Descoberta em 1981, a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) ganhou as manchetes dos jornais sob o rótulo de peste gay. Entre 1980 e 1988, a participação proporcional das categorias de exposição homo e bissexuais era de 53,8%, passando, em 1990, para 26%.
Já a transmissão nas relações heterossexuais que representavam 3,1% dos casos notificados em meados da década de 80, em 1994, salta para 27%. Em Juiz de Fora, em 1987, para um caso feminino notificado, exitiam 7 masculinos. Dez anos depois, eram 94 casos masculinos de AIDS no município contra 48 femininos.
Outras informações no:
Centro de Apoio e Orientação Sorológica (COAS/JF)
Instituto das Clínicas
Rua Marechal Deodoro, 496 - 7º andar - Centro
Telefone: (32) 3690-7484.
Atendimento
De segunda-feira à sexta-feira, de 8h às 12h e de 13h30 às 17h30.
Obs.: Na segunda-feira, o COAS fica aberto até as 18h.