Mulheres chegam é terceira idade com vaidade e disposi??o

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Mulheres chegam ? terceira idade com vaidade e disposi??o

Mulheres chegam à terceira idade com vaidade e disposição

Mudança de comportamento tem sido observada desde os anos 50. Pedagoga destaca que atualmente existe um novo perfil de idosos

Jorge Júnior
Repórter
2/4/2012

"Sempre que chego a algum lugar, as pessoas dizem que eu estou bem arrumada e que eu sou vaidosa. Ao acordar pela manhã, meu filho já sente o cheiro do meu perfume", são com essas palavras que a aposentada de 72 anos, Amarillis do Nascimento (foto ao lado, à direita), descreve alguns momentos da sua vida.

Aproveitando intensamente a terceira idade, ou a melhor idade, como ela define o momento atual, Amarillis revela que sempre se preocupou com a beleza. "Sempre fui assim. Eu gosto de ficar em frente ao espelho, me maquiando e passando creme. Dizem que eu sou igual a minha mãe", orgulha-se.

A dedicação com a aparência também é descrita pela aposentada Vilca Moreira de Oliveira (foto acima, à esquerda), 77 anos e oito meses, como ela mesma faz questão de destacar. "Faço 78 no próximo dia 27 de agosto." Segundo a jovem senhora, a vaidade também é herança da mãe. "Desde os 14 anos já usava os cremes dela, então, eu mantive os costumes." A aposentada diz que, ao acordar, já toma banho e se arruma para sair. "Se eu ficar em casa eu fico arrumada, se eu for sair eu já estou pronta", conta bem-humorada.

Além disso, Vilca declara que quando vai dormir, ela segue os mesmos critérios. "Sempre durmo de camisola longa ou pijama de seda. Dizem que demoro uma hora me preparando para dormir. Eu passo creme nas mãos e no rosto. Esses costumes me fazem bem e eu gosto. Outra coisa que eu sempre fico atenta é para não manter a mesma aparência. Eu gosto sempre de mudar o visual", diz.

A aposentada afirma que quando ninguém a elogia, ela se sente mal. "Minha neta fala que eu sou uma árvore de Natal." Apesar disso, Vilca ressalta que nunca quis fazer plástica e tem orgulho de dizer a sua idade. "Eu não escondo, pelo contrário, eu gosto de falar, porque as pessoas sempre se espantam quando eu revelo", acrescenta Vilca, que tem quatro netos e um bisneto.

Sobre a idade, Amarillis também conta que não esconde. "Não tenho problemas em dizer, eu tenho é orgulho de estar bem", enfatiza a avó de dois netos.

Mudança desde os anos 50

A doutora em Ciências Sociais e professora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Elisabeth Murilho da Silva, explica que desde os anos 50 a juventude passou a ser algo mais valorizado e isso teve impacto nas novas gerações. "Após a década de 1970, todas as gerações passaram a se guiar por um princípio de valorização da juventude e, de outra parte, a melhora nas condições de vida na maioria das sociedades ocidentais aumentou a longevidade. Nesse sentido, todas as faixas etárias foram, aos poucos, rejuvenescendo e, com isso, ganhando novos papéis na sociedade."

Para a professora doutora do Instituto de Artes e Design da UFJF, Isabela Monken, a partir dos anos 60, com os movimentos da contracultura e com o advento da moda jovem, a juventude aderiu-se de forma perpétua ao universo da moda e de sua história. "Quanto à moda contemporânea, cabe destacar que se caracteriza pela inexistência de um centro irradiador capaz de gerar nítidos modelos visuais, estéticos e comportamentais — fenômeno acirrado, entre outros fatores, pela globalização, pela difusão das redes sociais e pelo hibridismo midiático, problematizando também a discussão sobre as tendências. Nesse sentindo, na contemporaneidade, não dispomos de modelos estéticos nitidamente pré-definidos, havendo espaço para a ocorrência concomitante de múltiplos estilos, oriundos das mais diversas fontes estéticas, formando um caleidoscópio variado que irá compor o polimorfismo da moda atual."

Além disso, Isabela destaca que certas premissas ainda se mantêm como o apelo à juventude, ao corpo perfeito, saudável e vigoroso. "Com o avanço tecnológico e científico, assistimos hoje a um aumento da expectativa de vida, o que permite ao indivíduo prolongar a existência e torná-la melhor. Nesse sentido, a população de idosos tem crescido significativamente, inclusive como importante mercado consumidor também no mundo da moda."

Segundo a professora, o apelo estético tem se difundido nas mais diversas áreas e todos se sentem, na atualidade, convocados a viver a beleza e o estilo, ainda que tenham de ser construídos pelas intervenções estéticas ou estilísticas individuais. "A beleza física deixou de ser algo nato e passou a ser considerada uma opção do indivíduo. No imaginário contemporâneo, a beleza aparente é vista sob a ótica do esforço/recompensa. Seguindo-se essa ótica, admira-se o indivíduo que sabe administrar sua visualidade por suas escolhas estéticas, suas ações, seu comportamento, seu desejo de manutenção da vitalidade. Nesse contexto, ter estilo tornou-se uma exigência maior que a ostentação de marcas ou a exibição de uma beleza física puramente congênita. Expostos a esse contexto, as pessoas de idades mais avançadas utilizam-se dos mais variados recursos para viver o espírito de seu tempo e as solicitações comportamentais que o caracterizam."

Não é só beleza

Além da estética, Amarillis e Vilca garatem que vivem cada momento. "Além de estar aposentada, não tenho preocupação em criar meus filhos, netos e nem cuidar do marido", diz Vilca. "Não tenho hora certa. Antes, eu trabalhava como doméstica e, no meu emprego, eu tinha hora para chegar, mas nunca para sair. Além disso, também criei meu filho e netos", reafirma Amarillis.

De acordo com Vilca, há dez anos ela participa das atividades do Centro de Convivência do Idoso da Associação Municipal de Apoio Comunitário (Amac). "Eu sou doida com baile e adoro dançar. Na Amac, eu cuido da minha saúde física e mental. Já sai com destaque do Carnaval, fui rainha da primavera e ganhei o concurso de beleza na categoria da minha idade", conta envaidecida.

Quem também participa das atividades, é Amarillis, que atua no grupo há seis anos. "Eu já desfilava no Carnaval e participava de alguns encontros do grupo, porém, depois de um tempo, comecei a atuar no encontro diariamente. Continuo desfilando no Carnaval, com a fantasia de baiana."

Idoso deve participar

Para as amantes da vida, todos os idosos deveriam participar de alguma atividade. "Procuro me manter em contato com outras pessoas para não ficar reclamando dos problemas da vida", conta Vilca. "Os idosos têm que largar as muletas e vir dançar. A gente não pode ficar pensando no envelhecimento, senão é pior", completa Amarillis. "Isso aqui é só sorriso e alegria, é muito bom", rebate Vilca.

Para a pedagoga da Amac Helaine Simões Soares, atualmente existe um novo perfil de idoso. "Os idosos não têm mais aquele perfil de ficarem sentados na cadeira de balanço, fazendo tricô e crochê. Percebemos uma preocupação visível com o intelectual, o físico e bem-estar. Cada vez mais, os idosos estão procurando uma qualidade de vida melhor."

A especialista destaca também que, com as atividades que os idosos praticam em grupo, eles também visam a questão da autoestima. "Eles sentem a necessidade de se sentirem aprovados pelo outro, por meio da beleza."

Os textos são revisados por Mariana Benicá