Dia Internacional da Mulher: exemplos do valor feminino

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Dia Internacional da Mulher: exemplos do valor feminino

Dia Internacional da Mulher: exemplos do valor feminino

A ACESSA.com conta histórias de mulheres que são reconhecidas por superarem as barreiras físicas, sociais e até mesmo da idade

Angeliza Lopes
Repórter
8/03/2015

Em homenagem as mulheres de valor de Juiz de Fora, no Dia Internacional da Mulher, comemorado neste domingo, dia 8 de março, a ACESSA.com também conta histórias de exemplos que não estão nas TVs ou em cargos de reconhecimento público. Elas são vistas por superarem as barreiras físicas, sociais e até mesmo da idade, e estão espalhadas por todos os cantos da cidade, sendo encontradas dentro de nossas casas, faculdades, comércio ou em qualquer lugar com um suave perfume ou sorriso feminino. As experiências são de mulheres comuns e ao mesmo tempo impressionantes que superam, a cada dia, os desafios da diferença de gênero, o preconceito e dificuldades ainda existentes no Brasil e no mundo.

Aos 16 anos, a professora Rita Petronilho, 44 anos, sofreu um acidente que mudou sua vida. A partir daquele dia ela acordaria para um futuro diferente. Continuar seus dias sem o movimento das pernas. Precisou de parar tudo e começar de novo. Aos poucos foi se adaptando e aceitando a deficiência, mas outras barreiras apareceriam, que era a falta de ônibus adaptados e ruas sem adaptação para receber o cadeirante. "Cheguei a passar no vestibular para o curso de assistência social, na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), mas não pude entrar, pois não conseguiria chegar lá todos os dias. Foi frustrante", conta Rita. Mas, ela não desistiu e iniciou o curso de pedagogia no Granbery, aos 34 anos.

Além das dificuldades como cadeirante, Rita batalhou para pagar a faculdade, trabalhando como professora particular, profissão que exerceu por 20 anos. Ela explica que dava aulas para alunos do ensino fundamental e com deficit de aprendizado de manhã, tarde e noite, e quando começaram as aulas, só deixou os alunos do turno da noite. "Hoje sou uma das professoras da Faculdade para a Melhor Idade (Famidade), do Granbery, com aulas de leitura e gerontologia e políticas públicas. Também faço especialização em gerontologia e saúde do idoso e outra pós em psicopedagogia", lembra. Rita fala que não foi fácil, e que tinha dias que não queria continuar. Mas, a persistência foi maior. Por morar no bairro Eldorado, ela tinha que pegar dois ônibus e no período que fazia o curso só tinha uma linha para o Grambery, "às vezes eu tinha que ficar horas no ponto".

As redescobertas como mulher também foram muito importantes para autoestima da pedagoga. "Acordei um dia sem andar. Isso fez com que eu precisasse me adaptar a nova realidade. Por muito tempo eu não saí de casa sozinha. No entanto, reaprendi a me amar. Sou cadeirante mas não deixei de ser mulher, ter meus prazeres e ser feminina. Temos quebrar o paradigma de que ser deficiente é sinônimo de doença, mas esta desconstrução também é uma responsabilidade da própria pessoa. Muito me falam que eu não pareço ser cadeirante", ressalta a professora.

A idade não é o limite

Uma das alunas de Rita, Maria das Graças Queiroz, de 67 anos, desafia outro tabu entre as mulheres: a idade. Entrar no grupo da maior idade já não é mais motivo para parar a vida, mas apenas começá-la em um novo momento, segundo Maria das Graças. Ela conta que além de presidir a Associação dos Servidores Aposentados de Seguridade Social, cuida de casa e faz faculdade. "Temos que acabar com esta ideia que aposentou acabou a vida. Trabalhei desde os 14 anos, criei meus filhos e hoje sou mais ativa que nunca. Nosso corpo é como uma máquina, se parar acaba enferrujando. Não me acho velha e muito menos menor do que os outros por causa da minha idade", destaca Maria.

Ela conta que passou sua infância e início de juventude morando na roça, próximo a Viçosa, e que 'naquele tempo' não era comum a mulher estudar. "Tive que desobedecer as ordens dos meus pais e começar a estudar. Comecei a trabalhar em escritório de contabilidade e depois para o sindicato rural. Casei e continuei a trabalhar. Morei no Rio de Janeiro e depois vimos para Juiz de Fora". Da mesma forma que precisou ajudar sua mãe, que perdeu o marido muito cedo sem deixar pensão, teve que assumir as responsabilidades da casa quando ficou viúva há sete anos. "Meus filhos estudavam ainda e tive que administrar tudo sozinha. Redescobri-me, enfrentei e amadureci. Não tenho medo do desafio. Entendo que temos que educar nossos filhos para entender que o envelhecimento não é ruim ou vergonhoso. Passei isso para os meus filhos e hoje os dois são meus amigos", reforça.

Empreender

Começar novas experiências profissionais está cada vez mais comum entre mulheres, que antes se dedicavam apenas ao lar. A futura empreendedora, Clarissa Bonoto, 60 anos, viveu por muitos anos cuidando de seus filhos e da casa, mas sempre fazendo cursos de capacitação culinária. Sempre com seus 'bicos' e encomendas particulares, decidiu, no ano passado, se profissionalizar pelo projeto da Secretaria de Desenvolvimento Social (SDS) da prefeitura, 'Com licença, vou a luta'. Hoje, ela e mais três amigas do projeto se uniram para abrir o próprio negócio. "Vamos produzir doces e salgados para buffet, com o preço mais acessível. Mas, antes de começar, esperamos o curso de capacitação que o Sebrae vai oferecer aqui no bairro para montarmos da melhor forma", explica Clarissa, lembrando que algumas das amigas tem como renda apenas a produção dos salgados, por isso entende como muito importante as capacitações. 'Somos moradoras dos bairros Olavo Costa, Furtado de Menezes e Vila Ozanan. Mesmo em lugares diferentes nos identificamos e vamos seguir com o projeto", conta.

Quebrar paradigmas

Exemplos como de Rita, Maria das Graças e Clarisse são exemplo da força feminina. A psicóloga clínica Vera Helena Barbosa brinca que sempre foi dito que o homem era o sexo forte, mas apenas para pegar peso. "Hoje, até as mulheres fazem este trabalho. A mulher é forte por conseguir superar barreiras diversas. Ao passar dos anos, mesmo conquistando espaço no mercado de trabalho, ela não deixou de exercer os outros papéis, que eram de cuidar da família, filhos e da casa. Ela acrescentou estas atividades no seu cotidiano e passaram a ser múltiplas", explica a psicóloga.

Ela ressalta que a única diferença entre o homem e a mulher é a maternidade, mas as diferenças permanecem no preconceito e machismo. Vera Helena destaca que muitos homens se sentem ameaçados pela competitividade em vários setores da sociedade, mas também se sentem a vontade quando as novas tarefas da mulher são favoráveis para eles. "Quando ela ajuda a pagar as contas de casa, sua tarefa é aceitável". Mas a acumulação de responsabilidades também tem resultado em um maior número de mulheres com problemas de estresses e cardíaco.

Dados da pesquisa Nacional de Saúde, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pelo Ministério da Saúde, em 2014, mostram que de 11 milhões de pessoas com depressão no Brasil. No levantamento com cerca de 60 mil pessoas, 10,9% são mulheres. Mais do que em homens, que chega a 3,9%. "Além do fator de acúmulo de funções, está o sentimento de solidão. Muitas mulheres donas de casa, quando seus filhos saem de casa, ficam sem perspectiva e entram em depressão. Por isso o melhor é não deixar que a idade influencie na disposição da mulher em sempre descobrir novas possibilidades", conclui.

Dados IBGE

Segundo do censo demográfico realizado em 2010, do IBGE, em dez anos, o nível de instrução das mulheres continuou mais elevado que o dos homens e elas ganharam mais espaço no mercado de trabalho. O nível de ocupação das mulheres de 10 anos ou mais de idade passou de 35,4% para 43,9% de 2000 para 2010, enquanto o dos homens foi de 61,1% para 63,3%. Na faixa etária de 25 anos ou mais, o percentual de homens com pelo menos o nível superior de graduação completo foi de 9,9%, e das mulheres, de 12,5%; percentuais que passavam para 11,5% e 19,2%, respectivamente, entre os ocupados. E a taxa de abandono escolar precoce (proporção de jovens entre 18 e 24 anos de idade que não haviam completado o ensino médio e não estavam estudando), que caiu de 48,0% para 36,5% de 2000 para 2010, era maior entre os homens (41,1%) que entre as mulheres (31,9%).