O continente obscuro

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Jussara Hadadd 16/6/2010

O continente obscuro

O apetite sexual é nato em cada um de nós, fazendo parte da característica de nossa personalidade, podendo ser desenvolvido ou reprimido dependendo do ambiente de criação.

Na relação sexual, chegar ao orgasmo ainda é muito difícil para boa parte das mulheres. A Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo mostra que 18,2% das brasileiras são diagnosticadas anorgásmicas (ausência de orgasmo) e 5,2% tem algum tipo de inibição sexual, que aponta para problemas de excitação durante as relações sexuais

Por que chegar ao clímax é assim tão difícil? O Psicológico é considerado o fator preponderante. A grande maioria dos diagnósticos de distúrbios sexuais é de natureza psicológica, social ou cultural. Somente 13% das pacientes têm problemas de natureza orgânica, como alterações hormonais ou distúrbios originados por alguma doença.

O orgasmo é uma experiência ao mesmo tempo psicológica e orgânica que dura entre 2 a 10 segundos dependendo da qualidade da relação e variando de mulher para mulher. Durante um orgasmo a respiração fica mais rápida percebendo-se ainda um aumento dos batimentos cardíacos, possível aumento da pressão arterial e perda dos sentidos.

Em Freud, vimos que o orgasmo clitoriano categorizava a mulher imatura, e o vaginal a elevava à plenitude feminina. Se antes a mulher desconhecia a possibilidade do orgasmo, não tê-lo agora significava problema. Enquanto Freud se concentrava nos estudos do orgasmo, ponderando os méritos do gozo através do clitóris contra o vaginal, quantas anônimas não estariam chegando ao clímax, sem em nada pensar, simplesmente porque a fisiologia feminina e o cérebro, o núcleo do orgasmo de ambos os modos, funciona de forma muito singular? A mulher e seu corpo há muito desmentem versões estereotipadas sobre a sexualidade e contradizem as regras ditadas por estudiosos sobre o assunto.

Finalmente, há cerca de vinte anos pesquisadores têm confirmado que a estimulação sexual feminina pode ter várias vertentes. E, acompanhada ou sozinha, a mulher pode incrementar sua vida sexual permitindo que as sensações de seu corpo a guiem em direção a esses caminhos que levam ao prazer e, consequentemente ao orgasmo. Ela fantasia e vibra com muita intensidade.

Simplificando, a verdade é que o instrumento importa pouco. Se a mulher não estiver a fim... Nada feito. O homem pode morder, pode lamber, pode bater e penetrar até morrer, que nada a fará se “desmanchar” perante ele. Na maioria das vezes, ela não chega ao orgasmo porque não tem vontade alguma de fazer sexo.  A mulher que gosta de sexo pensa em sexo e está sempre pronta para ele. O Prioriza e cuida para que ele aconteça. É aquela mulher que está sempre buscando maneiras de se agradar e agradar o parceiro. “Só pensa naquilo.” Mas tem mulher assim? Claro e muitas. Algumas assumidas, outras não. As não assumidas, lotam os consultórios especializados.

O que distingue o orgasmo feminino do masculino? A mulher com sua capacidade de ter vários orgasmos vivem-os de forma mais interessante. O homem vive a sua sexualidade de um modo mais linear, rápido, como se atingir o orgasmo fosse o prêmio de consolação. Os mais curiosos e interessados em expandir esta deliciosa experiência, transcendem e buscam em outras culturas maneiras de sair da mesmice ocidental.

A mulher orgástica não depende de um parceiro para se realizar sexualmente, mas é obvio que se encontrar alguém de qualidade para dividir com ela esses momentos, ele será muito apreciado e até exaltado. Será bem cuidado, amado e ela não abrirá mão dele facilmente. A mulher bem resolvida conhece como ninguém a expressão popular que diz: “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”, e na maioria das vezes, sabe distinguir sexo de amor. Assim como a maioria dos homens, ela não se entrega diante da impossibilidade de compartilhar em sexo com alguém e não permite que suas energias se esvaneçam em meio à procura pelo parceiro ideal.

A apreciação da mulher pelo próprio corpo, sua busca pelas sensações, as auto carícias e a masturbação são excelentes recursos para que ela se conheça e numa relação a dois, possa sinalizar para ele como gosta de ser tocada, beijada, penetrada e assim, diminuir a clássica ansiedade que a maioria dos homens tem em ver suas amantes gozarem, iludidos em serem os únicos responsáveis pelo seu clímax. Nada como um bom e experiente amante, isto é inegável, porém está implícita ao bom amante a delicadeza em descobrir o que mais agrada o outro na cama. A regra, neste caso, serve para ambos.

Para os homens que se sentem totalmente responsáveis pelo prazer de sua mulher, uma dica importante: Nem sempre as mulheres manifestam o orgasmo com gritos, grunhidos e unhadas ou qualquer tipo de representação mais exacerbada. Existem mulheres que sentem prazer extremo e extenso e preferem expressa-lo suavemente. Sabemos de mulheres que atingem orgasmos múltiplos e não promovem tipo algum de escândalo. Algumas se satisfazem com um orgasmo leve ou intenso e todo o prazer que a relação proporciona. Outras são capazes de somarem meia dúzia deles em um único encontro.

Somos únicos e o que o parceiro, ele ou ela, pode fazer para viver melhor a relação é dar-se ao trabalho de conhecer um pouquinho das preferências e das reações do outro. Isso de achar que é o “Rei da cocada branca” e que vai levar à loucura todas as mulheres que passarem pelas suas mãos pode ser uma grande cilada para o garanhão mal antenado. Muitas mulheres fingem o ápice do prazer e fazem isto artisticamente. Um homem atento conhece os verdadeiros sinais, os quais estão muito longe de qualquer manifestação histérica.

Misturando um pouquinho os assuntos para não perder a oportunidade, é importante dizer que ninguém é ruim de cama. Quem nasce sabendo? Não sabemos nem de nós, quem dirá das preferências do outro. Comunicação e calma podem ajudar bastante nessa hora e parceiros cuja química não explodiu no primeiro encontro na cama, podem se revelar amantes invencíveis mais tarde.  Somos plásticos, singulares, únicos e se desejamos compartilhar, nada melhor que conhecer o universo existencial do nosso partilhante.

Muitas mulheres preferem chegar ao orgasmo através de estimulação clitoriana fazendo isto sozinha. Tem as que gostam de fazer com o parceiro olhando. Tem aquelas que preferem que o parceiro faça com a boca ou com a mão dele. Umas gostam com força e outras preferem ser tocadas bem de levezinho. Muitas vezes, ela aprendeu tudo isso, muito cedo, sozinha e se for liberada, na relação a dois saberá dizer para o parceiro, o que fazer.

Ainda tem aquelas que adoram sexo com penetração e só se sentem completas assim. Se forem bem resolvidas, não ficam à espera de um parceiro e adquirem vibradores e pênis artificiais que resolvem suas carências sexuais. Mas, se derem a sorte de encontrar alguém especial, transformam este instante em algo mágico. Se tiver amor então... Umas são tão capazes sexualmente, que mesmo diante de um parceiro com dificuldade de ereção, mas carinhoso, habilidoso e disposto a ver sua parceira satisfeita, conseguem, através das carícias oferecidas por ele, imaginar o sexo com penetração, do jeitinho que ela gosta e... Chega lá.

Tem as mais completas, que gostam de tudo em uma relação. Do simples “papai e mamãe” (com competência é claro), ao sexo anal, passando pelo oral e se possível em todas as posições sugeridas pelo Kama Sutra, conseguindo orgasmos em qualquer brincadeira. 

O que conta muito, mas muito mesmo, é a predisposição a vontade de curtir as delícias do sexo. Porque motivo você vai para cama com alguém? Para tentar superar seus complexos, se autoafirmar, aparentar ser liberada, desafiar seu sistema de criação, se vingar de alguém através da traição?

Não vai gozar mesmo! Esqueça.

Dicas para atingir o orgasmo com mais facilidade
  • Não responsabilize o seu parceiro pelo seu orgasmo
  •  Converse com o seu parceiro 
  • Não se prenda só ao orgasmo, aproveite as preliminares
  • Toque seu próprio corpo, saiba do que gosta 
  • Fale o que você deseja na hora do sexo 
  • Esqueça os problemas e viva o momento
  • Não se preocupe tanto com o que não gosta em seu corpo  
  • Adquira o hábito de contrair a vagina
Como reconhecer que você teve um orgasmo     
  • Podem acontecer contrações involuntárias do canal vaginal
  • O clitóris fica ereto e sensível ao toque 
  • Os lábios vaginais ficam inchados e podem ficar mais escuros 
  • A respiração, a pressão sanguínea e os batimentos cardíacos aumentam 
  • Perde-se o controle muscular voluntário, podendo ocorrer diversas contrações de  músculos do rosto, braços e pernas 
  • Depois do orgasmo, pode aparecer uma sensação de relaxamento e tranquilidade


Jussara Hadadd é filósofa e terapeuta sexual feminina
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