Quem tem boca vai a Roma
Quem tem boca vai a Roma
Quem tem boca não morre esquecido, não fala batido e não vive sem sentido. Quem tem boca vai onde a sua felicidade está e pede por ela em tom de bondade, em tom de humildade e com sinceridade.
Quem tem boca vai ao colo do ser amado e se entrega sem jogar e sem se prender às armadilhas da vaidade e do medo de errar. Não diminui, não exclui, não repele e não finge, não precisa.
Talvez seja este o mal do século no amor. Os homens estão fingindo não precisar dele e da sua forma mais simples de expressão.
Amar é ser medíocre, pequeno, pouco inteligente? Se entregar com simplicidade e desejo sincero de ser feliz com alguém, é pouco? Precisar do amor de alguém para se realizar sexualmente é coisa do passado, de românticos e de gente atrasada? A ordem é vencer? Vencer quem ou o quê? Vencer pra quê?
Tenho observado casais disputando quem precisa menos um do outro e ridiculamente se expondo a contorcionismos e acrobacias para se realizarem em suas necessidades mais básicas, como a básica necessidade de amar e de sentir prazer e de se satisfazer e se engrandecer perante o equilíbrio de energias que esta maravilhosa atividade humana pode proporcionar.
Tenho observado jovens e marmanjos, homens e mulheres e principalmente os mais desenvolvidos intelectualmente, representarem o papel de seres ilibados como se isto os elevasse a um status de ser humano especial capaz de negar a própria raça. Que loucura.... Sexo é melhor que terapia gente, que dinheiro no banco, que carro novo, que mansões luxuosas, que drogas. Sexo com envolvimento é melhor que comprar gente, é verdade.
O interessante é que estas mesmas pessoas estão comprando sexo desarvoradamente. Vertem-se ao apego louco e desenfreado da aquisição da matéria para tão e somente impressionarem e exercerem seu poder sobre o sensorial. Rodam, rodam, rodam e acabam ali, nos braços de alguém que enxergue nelas, alguém especial, ou melhor. Enriquecem, ficam poderosas de alguma maneira e vão comprar alguma forma de exercerem seus sentidos. É básico, é necessário, é fisiológico, é humano, é espiritual, é de Deus. Ninguém fica sem. Não acreditam? Querem resultados de pesquisas? Uhuuuu, não me obriguem, vocês vão cair de quatro. Vou ter que citar Nelson Rodrigues de novo?
Explodem diariamente, mais e mais bordeis, sex shops, motéis, casas de shows, mulheres e homens especializados em profissionais requintados, drogas para ereção, sons, imagens, texturas, formatos..... Quanta dissimulação, quanta loucura em detrimento a um mundo feliz, só para não ter que dar um pouquinho de carinho, um pouquinho de alegria, um pouquinho de prazer? Quanta preguiça e pretensão a uma vida boa sem nenhum sacrifício.
Quem tem boca vai a Roma e vai mesmo. Quem tem cabeça sabe o que pedir. Que sabe o que quer, não tem retrabalho, não tem que pegar atalho e não fica fora do baralho. O que você quer para sua vida? Honestidade pode ser uma boa pedida.
Fim de ano, época de rever valores e conceitos já há muito superados pelos mais simples e dispostos à felicidade e ainda tão enraizados por outros tantos complexos e confusos que a tudo contestam.
E agora, essa mania de não precisar do outro, esse modismo que vem disfarçando o medo e o pavor que a modernidade tem de se envolver e se doar. O egoísmo e o egocentrismo, superando a básica necessidade de amar. Você não precisa de nada disso? Parabéns. Você venceu!
O que você gostaria de verdade que o Papai Noel te trouxesse de presente este ano? É de sentir, é de comer, é de beber? Tem luz vermelha, estrelinhas, sai fumacinha, apita? Vai com você para a eternidade ou na manhã do dia 26 você nem vai se lembrar porque pediu aquilo?
Feliz Natal e um Ano Novo de verdade para você. Do que seja a verdade para você, do que te faça a pessoa mais feliz do mundo. Não importa o que.
Muito obrigada por mais este ano. Eu adoro estar aqui.
Jussara Hadadd é filósofa e terapeuta sexual feminina
Saiba mais clicando aqui.