Vale quanto pesa
Vale quanto pesa
Todos nós temos algum poder, depende do quanto e como o sabemos. Para mim, depende também do quanto precisamos representá-lo para o mundo.
Ok, novamente a pergunta: Quanto vale o seu prazer?
O meu prazer vale uma gargalhada, um suspiro profundo, a beleza de um olhar verdadeiro, uma acomodação da alma, um pulsar cardíaco além do natural, um aperto no ventre imoral. Vale alguém me pedir o meu sorriso mais aberto e gostoso, vale minhas lágrimas de alegria e a minha certeza em pensar que naquele momento eu morreria feliz.
O meu prazer vale a minha casa em paz e o meu direito de ir e vir resguardado. Vale eu me reconhecer como uma pessoa boa e justa, ainda que defenda o meu ponto de vista sobre Deus e o mundo.
O meu prazer vale me dedicar ao homem que eu amo sem me preocupar se aos olhos do mundo, sou menos alguma coisa que a convenção mundana exige que eu seja.
Mas este é o meu prazer e a moeda que o paga pode ser muito mais valiosa que o dinheiro do mundo e ele pode valer muito mais do que alguém possa pagar. E este é também o meu poder e é a forma como eu o represento para o mundo.
Depois de vivê-lo e me fortalecer nele fico insuportavelmente poderosa. Sou só sorriso e minha criatividade brota do ar. Isso, para mim, é simples e, na maioria das vezes, pouco me importa mostrá-lo ao mundo.
E o seu prazer, quanto vale? Como você pode senti-lo e mostrá-lo ao mundo?
Quanto você pagaria por um gozo, por uma expressão de felicidade, por uma manifestação de amor e de alegria?
Então você é poderoso mesmo? Compra todo o prazer que quer sentir?
É este movimento, a meu ver, que vem tirando das pessoas, hoje em dia, de uma forma mais voraz as possibilidades de sentir o prazer em plenitude. O prazer comprado costuma ser rápido, oco, incompreensível e some da memória na mesma velocidade em que apareceu. Não abastece e você tem, de troco, a solidão.
Não estou falando da compra do sexo com um profissional. Estou falando de ostentar um ser que você não é para impressionar, demonstrando um poder que você nem tem, para atrair alguém que vai te dar fumacinhas de uma satisfação que não vai convencer nem a você, nem a ninguém. E olha você aí, de cara com a solidão novamente. Nem você mesmo está do seu lado. Aliás, estar a sós com você chega a ser dolorido, não é mesmo?
Ah, entendi! Você nem está sozinha? Você tem alguém? Então você é legal mesmo? Boazinha, carinhosinha, amiga? Não contesta nada, aceita qualquer condição. E quanto isso te custa? Quanto custa abnegar de suas feras para mostrar ao mundo que vive uma condição? Custaria, por exemplo, o seu prazer?
Você abriria mão de sua profissão, de sua vocação, de sua independência? Abriria mão de sua opinião sobre o mundo e as pessoas que rodeiam a sua relação amorosa para tentar viver em prazer com o homem que ama? E você teria prazer assim?
Abriria mão de conduzir a sua casa e os seus filhos, da maneira que acha certo, tendo que seguir um modelo de família no qual você nem acredita, instituído pelo seu parceiro, no que ele traz na bagagem como certo, para aparentar viver em prazer?
E para mostrar a você mesma que é feliz, que é amada e que tem prazer. Já encontrou uma moeda que pague isto, que faça isto acontecer? Você, com você mesma, assim: cara a cara? Você tem este poder? Você pagaria por isto?
Quanto vale o seu prazer? O que é prazer para você?
Feliz Ano Novo!
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Jussara Hadadd é filósofa e terapeuta sexual feminina
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