Tempos modernos
Tempos modernos
Homens e mulheres de todas as idades estão se relacionando livremente, sem nenhum compromisso ou comprometimento. Tudo bem. Nada de mais no que diz respeito a eternizar a relação, coisa antiga e démodé para muita gente, acho que até já para mim, embora ainda não tenha tanta certeza assim.
Contudo, o que ainda me espanta é a falta de delicadeza, doçura, fineza, elegância, postura, limpeza e trato no linguajar.
Espanta-me, ainda, a falta de criatividade, de enredo, de fantasia e de sonho para viver, nem que seja umas poucas horas de sexo. Fico perplexa com o descaso, o pouco caso mesmo, com que as pessoas se tratam. Tenho ouvido cada história.
Nos adolescentes, algo relacionado ao fim do mundo será amanhã, justifica ir para "uma social", beber até dar vexame, "pegar" cinco diferentes, beijar todos e no dia seguinte, passar por um ou outro no meio da rua e nem se lembrar disso.
Nos adultos, um medo devorador que impede homens e mulheres, mais os homens talvez, um gesto de carinho, um convite delicado, um agradecimento e um elogio.
Ora, pois então era para isto que serviria a tal liberdade sexual? Para que as pessoas pudessem exercer, de forma explicita, toda a sua essência mal-educada?
O medo, o maldito medo, explicaria tal comportamento?
Vejamos o caso das mulheres modernas, que mesmo liberadas, preferem ser abordadas. Mulheres resolvidas, dispostas a viver um romance que as faça felizes enquanto durar e os homens morrendo de medo de manifestarem qualquer nível de satisfação ou cavalheirismo. Muitas mulheres não gostam de se manifestarem diretamente. Não se sentem à vontade convidando um homem para sair. Coisa antiga?
Tirando as desequilibradas e as dissimuladas – sujeito que alimenta nosso objeto de pesquisa por se comportarem muito mal e denegrirem assim a espécie feminina – a mulher moderna ainda que liberada, espera alguma gentileza. Está bem, vamos abrir um aparte aqui. Eles estão com muito medo. Eles não acreditam que alguma mulher possa estar falando a verdade, eu sei e vai que uma delicadeza gere um mal-entendido?
As meninas, as moças, as mulheres mais velhas, que cuidam de seu caráter, que cuidam de suas próprias vidas, que cuidam de seus corpos, de serem felizes, sorridentes, interessantes, inteiras, livres... Honestas. Essas moças, as que não radicalizam sobre sua autossuficiência, essas moças também precisam amar.
Moças assim, costumam não se atrever, não invadir não se expor não se atirarem. Coisa antiga? Respeito é coisa antiga? Limite é coisa antiga? Certo. Que não seja por nada disso. Talvez apenas uma forma de dar graça a algo tão maravilhoso quanto o encontro de um casal saudável, lindo e disposto a amar. Talvez uma forma de tirar do recinto da banalidade, o que pode ser de Deus. Respeito, carinho, docilidade, como fetiches, como forma de fazer ser mágico, mesmo que seja sem compromisso.
Moças assim, apesar da capacidade de medirem se um rapaz vale a pena ou não, sim porque, mulher também tem esse direito, após decidirem talvez não consigam manifestar seu interesse por eles, partindo totalmente para o ataque. Telefonando, convidando, propondo meios de estarem juntos. E esperam alguma gentileza, alguma abertura para manifestarem seu interesse em relacionarem-se além do casual.
Esta é uma categoria de mulheres, esta é uma maneira de se comportar, o que pode não ser absolutamente certa, mas talvez um caso a se pensar e neste caso, para estas pessoas, o mundo está de cabeça para baixo, sim.
Acontece que hoje e talvez sempre, vá lá, as pessoas sejam julgadas umas pelas outras. Como o velho e antigo bordão que enfatiza que homem não presta. Muitos homens e muitas mulheres ainda prestam sim e tem direito a alegria do amor e do sexo, ainda que sem promessas de que até a morte os separe.
Demonstração de afeto, de cuidado, de atenção, de amizade e de boa educação ainda tem lugar e não significam ter que ir para o altar.
Se o saca-rolhas não for próprio para a delicadeza de uma mulher, por favor, senhor, se preste ao papel e, por favor, senhora, reconheça o seu lugar, nem que seja para os sonhadores sonharem que com o romantismo existe ainda em algum lugar.
E rapazes, por favor, decidam logo se desejam se relacionar com moças livres e sem problemas, mas educadas, porém ou se na verdade, o que gostam mesmo é daquelas que não dão sossego, que perdem a estribeira, para que assim, vocês possam continuar história a fora, estereotipando-as de malucas, de rampeiras de "chicletes". Isso dá prazer a vocês? Gostaria de entender.
Jussara Hadadd é filósofa clínica, psicoterapeuta, especialista em sexualidade feminina, escritora, palestrante.
Saiba mais clicando aqui.