Irmã de Kim Jong-un manda líder da Coreia do Sul calar a boca após oferta de ajuda

Por Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após a Coreia do Sul oferecer ajuda econômica à Coreia do Norte em troca da desnuclearização do país, Kim Yo-jong, a influente irmã do ditador Kim Jong-un, disse que o presidente sul-coreano deveria parar de falar bobagem e calar a boca, descartando qualquer possibilidade de negociações.

Em comunicado divulgado pela agência de notícias estatal KCNA nesta sexta-feira (19), ela afirma que o plano de Yoon Suk-yeol de oferecer comida, energia e infraestrutura ao país é o "cúmulo do absurdo", dizendo ser falsa a premissa de que Pyongyang vai negociar sobre seu programa nuclear.

"Teria sido mais favorável para sua imagem calar a boca em vez de falar bobagem, pois ele [Yoon] não tinha nada melhor a dizer", disse Kim Yo-jong. Segundo ela, a oferta de trocar cooperação econômica por armas nucleares mostra que o presidente sul-coreano é infantil. "Ninguém troca seu destino por bolo de milho", acrescentou.

O ministro da Unificação da Coreia do Sul, responsável pelas relações com o país vizinho, chamou os comentários da irmã do ditador de muito desrespeitosos e indecentes, mas insistiu que a proposta continua de pé. "A atitude da Coreia do Norte não ajuda de nenhuma maneira a paz e a prosperidade da península da Coreia, nem seu próprio futuro. Promove apenas o isolamento", afirmou em comunicado.

Kim Yo-jong tornou-se uma crítica vocal da Coreia do Sul nos últimos anos, sendo vista por alguns especialistas como a representação da "policial má", considerando as declarações mais moderadas de seu irmão.

O comunicado desta sexta marca a primeira vez que um alto funcionário de Pyongyang comenta diretamente sobre o que Yoon Suk-yeol chamou de plano audacioso para promover a desnuclearização. Proposta pela primeira vez em maio, a ideia voltou a ser discutida recentemente durante entrevista que celebrou os primeiros cem dias do presidente no cargo.

Analistas já haviam antecipado as chances reduzidas de sucesso da proposta, uma vez que a Coreia do Norte investe grande parte de sua riqueza no programa militar e deixou claro repetidas vezes que não aceitará uma negociação desse tipo.

O plano econômico de Seul, inclusive, é semelhante a propostas anteriores, incluindo aquelas feitas durante encontro entre Donald Trump -então presidente dos EUA- e Kim Jong-un.

"A iniciativa de Yoon se soma a uma longa lista de ofertas fracassadas envolvendo promessas sul-coreanas de fornecer benefícios econômicos à Coreia do Norte. Essas eram as mesmas suposições que estavam por trás de uma sucessão de esforços fracassados para iniciar as negociações de desnuclearização", disse Scott Snyder, do think tank Council on Foreign Relations.

Para Cheong Seong-chang, diretor do Centro de Estudos Norte-Coreanos no Instituto Sejong, as declarações da irmã de Kim reafirmam que Pyongyang nunca renunciará a suas armas nucleares, acrescentando que Seul precisa rever sua abordagem. "O peso da ameaça nuclear da Coreia do Norte com a qual a Coreia do Sul tem que conviver já superou o nível que consegue suportar", disse à agência AFP.

Antes de sua eleição, em março, Yoon Suk-yeol insistiu em posições duras contra o regime do vizinho do Norte, mas, na quarta-feira (17), o presidente disse que seu governo não buscará adquirir capacidades nucleares de dissuasão.

Em 2022, a Coreia do Norte executou um número recorde de testes de armas, incluindo o lançamento de um míssil balístico intercontinental de pleno alcance pela primeira vez desde 2017. Na quarta, Pyongyang disparou dois mísseis de cruzeiro -um dia após os EUA e a Coreia do Sul realizarem manobras conjuntas em preparação para um grande exercício anual, que Pyongyang considera um treino para invasão.

Washington e Seul têm emitido alertas de que o regime de Kim Jong-un estaria preparando o sétimo teste nuclear de sua história.