Presidentes de Portugal, Guiné-Bissau e Cabo Verde estarão no 7 de Setembro no Brasil

Por RICARDO DELLA COLETTA

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - As comemorações do Bicentenário da Independência em Brasília devem ter a participação dos presidentes de Portugal, da Guiné-Bissau e de Cabo Verde. Segundo o Itamaraty, os governos dos três países confirmaram a viagem de seus representantes para o 7 de Setembro.

O Ministério das Relações Exteriores informou que foram convidados os chefes de Estado de todos os países ex-colônias de Portugal, mas os governantes de Angola, São Tomé e Príncipe, Moçambique e Timor Leste não confirmaram presença até aqui.

O convite se deu como parte das celebrações dos 200 anos da Independência. Em declarações recentes, o presidente Jair Bolsonaro (PL) deu indicações de que planeja transformar parte das festividades em atos de seu grupo político --a menos de um mês do primeiro turno das eleições presidenciais.

O principal evento do feriado será um desfile cívico-militar na Esplanada dos Ministérios, ao qual devem comparecer os representantes estrangeiros. A organização está praticamente fechada: serão mais de 5.700 pessoas desfilando a pé, em viaturas ou a cavalo.

A pedido do Palácio do Planalto, ruralistas que apoiam Bolsonaro devem enviar 28 tratores para participar do cortejo, na exibição oficial, representando a pujança do agronegócio --segmento próximo a Bolsonaro.

Um dos convidados que já confirmaram participação, o presidente português Marcelo Rebelo de Sousa esteve no centro de uma recente polêmica com o líder brasileiro. No início de julho, Bolsonaro desmarcou uma reunião com o europeu depois de se irritar por Rebelo ter agendado um encontro com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), principal adversário do mandatário nas eleições.

O líder da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, também esteve recentemente no Brasil. Aliado e admirador do presidente brasileiro, que já o chamou de "Bolsonaro da África", ele foi a Brasília em agosto do ano passado, como convidado de honra para as festividades militares do Dia do Soldado.

A viagem de Embaló ao Brasil chamou a atenção pela falta de anúncios concretos e por uma pauta bilateral de pouca substância. À época, o governo federal ainda enviou um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) para buscá-lo na Guiné-Bissau --sem contar esse traslado aéreo, mais de R$ 300 mil foram gastos.

Questionado sobre os deslocamentos deste ano, o Itamaraty disse que "não houve solicitação formal dos países convidados por transporte oficial da FAB". Além de Rebelo de Sousa e Embaló, quem confirmou presença até aqui foi o cabo-verdiano José Maria Neves. No final de 2021, quando foi eleito, ele deu entrevista ao jornal Folha de S.Paulo com elogios a Lula.

O governo Bolsonaro é alvo de críticas frequentes por ter dado pouca ênfase em sua política externa a países africanos. A gestão é marcada ainda por atritos com Angola diante de um racha da Igreja Universal no país --religiosos locais se rebelaram, acusaram missionários brasileiros de crimes financeiros e tomaram o controle de templos.

Angola e Timor Leste tiveram eleições recentes. Nesta segunda (29), Luanda confirmou a reeleição de João Lourenço; em abril, José Ramos-Horta foi reconduzido à Presidência timorense.

Os líderes estrangeiros devem estar em Brasília em um dia com manifestações pró-governo. Bolsonaro já convocou apoiadores para irem "às ruas pela última vez" no feriado do Bicentenário da Independência.

Tradicionalmente, não há discurso de autoridades no desfile de 7 de Setembro, mas, como há a previsão de atos bolsonaristas, a expectativa entre aliados é a de que o presidente fale em um carro de som após o desfile. Depois, ele deve viajar ao Rio de Janeiro.

Na capital fluminense, haverá outro evento favorável ao governo em Copacabana, onde Marinha e Força Aérea devem realizar exibições.

Outro evento que faz parte das comemorações do Bicentenário em Brasília é a exposição, no Itamaraty, do coração de dom Pedro 1º. O órgão deixou Portugal pela primeira vez em 187 anos a pedido do governo brasileiro; na recepção no Planalto, na semana passada, foi tratado com honras de chefe de Estado.