Ataque a Cristina não tem ligação com bolsonarismo, diz senador argentino

Por SYLVIA COLOMBO

SANTIAGO, CHILE (FOLHAPRESS) - Senadores da oposição e do governo da Argentina se uniram em solidariedade a Cristina Kirchner, vítima de um ataque na noite desta quinta-feira (1º). Um deles, Luis Naidenoff, da Unión Cívica Radical -um opositor do peronismo-- afirma que o momento de gravidade que vive a Argentina está relacionado a "uma escalada da violência no debate político que não mede as consequências".

Para Naidenoff, o atentado é uma particularidade da situação argentina. À Folha, o senador diz que está ciente das especulações feitas no Brasil devido à nacionalidade do homem que atacou a vice-presidente, mas descarta outras ligações com o cenário brasileiro. "O ambiente de confrontação que permitiu o terrível incidente corresponde apenas à realidade local", afirma.

"Sabemos que Bolsonaro vem fazendo declarações contra o peronismo, mas daí a associar as atitudes do agressor ao bolsonarismo é precipitado e raso", diz Naidenoff.

Por trás da tentativa de disparo contra Cristina está, segundo o senador, 'uma fricção que tem como lógica a identificação de inimigos". "Quando isso é somado à alta inflação, uma situação de carestia profunda, de uma péssima administração da pandemia, abrimos espaço para que algo assim aconteça", em tom crítico ao governo de Alberto Fernández.

Assim como outros líderes opositores, Naidenoff condenou o atentado, mas não está de acordo com o fato de o presidente ter declarado feriado nacional nesta sexta-feira (2) nem convocado a militância para marchas e manifestações nas ruas de Buenos Aires.

"Nós deveríamos todos estar de pé hoje e trabalhando, tanto opositores como governistas. O presidente se equivoca ao apontar inimigos como fez em cadeia nacional, acusando imprensa, Justiça e opositores de insuflar o discurso de ódio", argumenta Naidenoff. "Em tempos como os que vivemos, é preciso chamar à moderação e à cordura, e isso cabe à classe política, aos dirigentes antes de qualquer um".

O senador argentino descreve como lamentável o silêncio público de Bolsonaro enquanto várias lideranças manifestaram empatia a Cristina Kirchner. "Isso corre por conta dele, mas acredito que, antes de mais nada, é preciso fazer um gesto de solidariedade, mostrar humanidade, nada pode vir antes disso. Depois façamos as críticas políticas".