Europa quer novas sanções contra a Rússia e volta a mirar preço de petróleo
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, propôs nesta quarta-feira (28) uma nova rodada de sanções contra a Rússia, impostas em decorrência da Guerra da Ucrânia. As medidas devem incluir restrições comerciais mais severas, penalidades contra empresários e figuras importantes, além da limitação ao preço do petróleo russo.
Se a Comissão Europeia conseguir avançar com as medidas, as novas sanções podem afetar, inclusive, as relações comerciais entre Brasil e Rússia. Isso porque, conforme Von der Leyen, o G7 -grupo das sete principais economias do mundo, excluindo China e índia- definiu que o limite de preços também valeria para países em desenvolvimento.
"Sabemos que alguns países em desenvolvimento ainda precisam de petróleo russo, mas a preços baixos. Assim, o G7 concordou, em princípio, em introduzir um teto de preço do petróleo russo para outras nações", afirmou.
Ainda são incertos os preços que seriam estipulados pelos europeus e o leque de combustíveis alvos das sanções. Seja como for, o pacote poderia atrapalhar as negociações entre o Itamaraty e o Kremlin para que o Brasil compre diesel russo por um preço abaixo do mercado, conforme defendido pelo presidente Jair Bolsonaro.
Outras potências emergentes já seguem esse caminho. É o caso de China, índia e Turquia, que desde a invasão da Ucrânia aumentaram significativamente a compra de combustíveis russos. As transações têm atrapalhado os planos do Ocidente, que tenta esvaziar o caixa do Kremlin.
O movimento, aliás, já vinha sendo criticado por Kiev, que pressiona Bruxelas a combatê-lo. Mais cedo, Oleg Ustenko, conselheiro econômico do governo ucraniano, chamou os contornos adotados por outros países de ridículos e defendeu a necessidade de "todo o mundo civilizado estar unido" contra a guerra.
Embargos semelhantes ao proposto nesta quarta já acometem Cuba, Venezuela e Irã. Nesses casos, os EUA punem empresas ou indivíduos, ainda que não sejam americanos, que comercializam com esses países.
A proposta deve ir ao plenário da União Europeia para ser examinada pelos 27 países-membros. Apesar da pressão sobre a Europa para responder às últimas jogadas de Moscou --o anúncio da mobilização parcial por Vladimir Putin, a ameaça do uso de armas nucleares e o referendo pela anexação de quatro regiões no leste ucraniano--, o aval às sanções pode demorar.
O obstáculo está no requisito de unanimidade no bloco para a aprovação das penalidades -colocar um teto no valor do petróleo russo poderia ser demais para a Hungria, cujo premiê, Viktor Orbán, cultiva laços estreitos com Putin.
No discurso, Von der Leyen ainda disse que a União Europeia punirá aquelas partes que tentarem revender mercadorias ocidentais à Rússia por meio de países terceiros. "Não aceitaremos referendos falsos, nem nenhum tipo de anexação. Estamos determinados a fazer o Kremlin pagar o preço desta nova escalada", disse, estimando que o pacote de retaliação deva custar EUR 7 bilhões (R$ 36,4 bi) aos cofres russos.
As medidas também incluem expandir a lista de bens que não devem ser exportados à Rússia, diminuir a prestação de serviço de empresas europeias a clientes russos e impossibilitar cidadãos de países do bloco de assumir cargos em diretorias das estatais do governo de Moscou.
O novo pacote pode atingir também o chefe da Igreja Ortodoxa Russa, o patriarca Cirilo. Amigo de Putin, ele atua como figura influente de sustentação da guerra dentro do país.
A União Europeia deve iniciar as discussões nesta sexta-feira (30), mas as negociações devem ocorrer efetivamente no próximo encontro de líderes do bloco, previsto para ocorrer na República Tcheca no dia 6 de outubro.