Governo da Etiópia e rebeldes do Tigré acertam diálogos de paz após ataque matar mais de 50
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Pela primeira vez em quase dois anos de conflito, o governo da Etiópia e os rebeldes da região separatista do Tigré devem se encontrar para discutir a paz. Os lados acertaram nesta quarta-feira (5) uma reunião na África do Sul, a convite da União Africana (UA), órgão que promove a cooperação entre os países do continente.
Olusegun Obasanjo, alto representante da UA para o Chifre da África, liderará as negociações com o apoio do ex-presidente queniano Uhuru Kenyatta e do ex-vice-presidente sul-africano Phumzile Mlambo-Ngcuka, segundo a carta-convite. A reunião deve acontecer neste fim de semana.
A possibilidade de diálogo se abre no dia em que um ataque aéreo sobre uma escola de Tigré, no norte da Etiópia, deixou mais de 50 mortos, segundo trabalhadores humanitários. O local abrigava pessoas deslocadas pelo conflito entre as forças do governo central e os rebeldes da região.
A contagem de vítimas é ainda pior para o escritório de relações externas do governo regional de Tigré, que informou serem 65 os mortos no atentado.
O ataque na cidade de Adi Daero parece ser um dos mais letais do conflito que já dura quase dois anos. O atentado aéreo anterior mais mortal ocorreu em janeiro deste ano, quando 59 pessoas foram mortas em um campo de refugiados na cidade de Dedebit, no noroeste, segundo o escritório de direitos humanos das Nações Unidas.
Sobreviventes do ataque desta quarta fugiram para a cidade de Shire, a cerca de 25 quilômetros de distância. Segundo eles, ao menos 70 pessoas ficaram feridas.
O governo do país não comentou o ataque.
Os combates na segunda nação mais populosa da África começaram em novembro de 2020 e deslocaram milhões de pessoas, empurrando porções consideráveis da região do Tigré para a fome e deixando um saldo de milhares de civis mortos. Naquele mês, o primeiro-ministro Abiy Ahmed enviou o Exército do país a Tigré para expulsar o governo regional, que vinha contestando sua autoridade há vários meses e que, segundo o Executivo, havia atacado bases militares.
As partes estavam em trégua há cinco meses, mas os conflitos recomeçaram no final de agosto, em um golpe nas esperanças de negociações de paz entre o governo central e a Frente de Libertação Popular do Tigré (TPLF), partido que controla a região separatista.
A disputa opõe o governo sediado em Adis Abeba, chefiado por Abiy Ahmed há quatro anos, e os insurgentes da TPLF ?grupo que liderou a coalizão que governou a Etiópia de 1991 a 2018, numa fase marcada por autoritarismo e denúncias de corrupção.
O TPLF havia dito no mês passado que estava pronto para um cessar-fogo e aceitaria um processo de paz patrocinado pela UA, depois de inicialmente levantar objeções às propostas da entidade.