CIA inaugura estátua em homenagem à abolicionista Harriet Tubman nos EUA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A ativista e abolicionista Harriet Tubman ganhou uma estátua na sede da CIA, em Langley, no estado de Virgínia. O monumento foi inaugurado semanas atrás pelo atual diretor da agência de inteligência americana, William J. Burns, em uma cerimônia privada da qual também participou Tina Wyatt, descendente de Tubman, segundo informações do jornal The Washington Post.
De acordo com o veículo, o projeto havia sido proposto por funcionários da CIA depois de uma dinâmica interna em Maryland, onde Tubman cresceu. A obra reproduz, com a permissão do artista original, Brian Hanlon, uma escultura em homenagem à abolicionista localizada no Centro de Patrimônio pela Igualdade de Direitos do Estado de Nova York, em Auburn.
A estátua de Tubman se junta a outras duas no campus da CIA. Uma representa Nathan Hale, espião americano morto pelos britânicos na Guerra de Independência americana (1775-1783); a outra é de William J. Donovan, considerado o fundador da agência.
A princípio, uma ativista de direitos civis que desobedeceu as leis com certa frequência para libertar cerca de 300 escravizados pode parecer uma inspiração inusitada para os contratados da CIA de hoje. Mas Robert Byer, diretor do museu da agência, afirmou ao Washington Post que há muitas coincidências entre o estilo de Tubman e o dos agentes em serviço.
Desde 2018, um dos exercícios dados pela agência a seus funcionários é repetir as missões de Tubman pela "ferrovia clandestina" --nome dado à rota que os indivíduos escravizados usavam para fugir para o norte abolicionista-- na costa leste.
Nessas missões, a ativista guiava os escravizados à liberdade, ações que, de acordo com Byer, a comunidade de inteligência chamaria de "extração a partir de um local proibido". O diretor do museu afirma ainda que as tarefas evocam características compartilhadas por Tubman e pela CIA, como dedicação, sacrifício e uma boa gestão.
Conhecida por seu papel como abolicionista, Tubman também foi uma grande espiã --ou agente de inteligência, nas palavras de Byer, uma vez que não estava roubando informações confidenciais e as repassando a uma entidade estrangeira.
Na Guerra Civil, aos quarenta e poucos anos, ela se tornou a primeira mulher a planejar e liderar uma expedição do Exército americano, se infiltrando na linha inimiga na Carolina do Sul vestida como uma escravizada para colher informações sobre a localização dos torpedos dos Estados Confederados no rio Combahee.
De posse desse conhecimento, barcos da União puderam transitar pelo rio sem serem detectados pelos Confederados e atacar os fortes inimigos. Voltando ao rio, as tropas da União libertaram centenas de escravizados, muitos dos quais se juntaram à sua luta.
Byer ainda reforçou ao Post a importância da diversidade para a agência. "Precisamos dela para exercer nossa missão. Se aqueles escravizados não tivessem confiado em Harriet Tubman, não teriam dado informações a ela", disse.
Na semana passada, o ex-secretário de Estado americano Mike Pompeo havia ido em direção contrária dessa ideia, ao escrever no Twitter que "um Exército 'woke' é um Exército fraco".