Chile condena a 12 anos de prisão ex-policial que cegou senadora durante protesto em 2019

Por Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Justiça do Chile sentenciou o ex-capitão da polícia Patricio Maturana a 12 anos e 183 dias de prisão por ter disparado uma bomba de gás lacrimogêneo que cegou a hoje senadora Fabiola Campillai durante um protesto em 2019. A decisão foi anunciada nesta terça (11).

Maturana havia sido declarado culpado pela agressão em 1º de setembro e aguardava a sentença. À época do episódio, Fabiola estava em um ponto de ônibus, junto com a irmã, para ir ao trabalho --portanto, nem sequer participava da mobilização.

Segundo os relatórios médicos, ela sofreu danos nos globos oculares e um traumatismo cranioencefálico com fraturas nos ossos do rosto e do crânio, o que a deixou cega e a fez perder olfato e paladar.

O caso foi um dos mais notórios em meio à repressão despendida pelo governo contra os protestos que tomaram o país naquele ano e que, anos depois, culminariam na eleição de uma Assembleia Constituinte que esboçou uma nova Carta Magna. O conteúdo, no entanto, foi rechaçado pela população do país na primeira semana de setembro.

Fabiola Campillai, em vídeo compartilhado nas redes sociais, disse estar contente e aliviada. "Nunca vão devolver a vida que tinha antes, mas um pouco de justiça acalma nossos corações", afirmou. Ela também prometeu seguir lutando para que casos semelhantes aos seus sejam punidos nas cortes do país.

A repressão da polícia chilena, criticada por organismos internacionais, deixou dezenas de pessoas cegas. "A Justiça foi feita neste país para os violadores de direitos humanos. Foi firmado um precedente; um antes e um depois", seguiu Campillai.

Em novembro passado, ela foi eleita senadora no país. Ainda que independente, apoiou o atual presidente, o esquedista Gabriel Boric, no segundo turno das eleições, disputado contra o ultradireitista José Antonio Kast, e segue apoiando o governo.

A ONG Anistia Internacional celebrou a sentença do ex-carabineiro, mas também pediu que outros casos semelhantes sejam julgados o mais rápido possível. "Em um contexto no qual menos de 1% das denúncias terminaram em condenações, essa notícia constitui um passo importante para avançar na verdade e na justiça para as vítimas de violações de direitos humanos cometidas em 2019", disse.

Os protestos iniciados em outubro de 2019 terminaram com ao menos 34 pessoas mortas e mais de 460 feridas por projéteis ou bombas de gás lacrimogêneo lançadas por agentes da polícia, de acordo com informações do Instituto Nacional de Direitos Humanos do Chile.

Localmente conhecidos como "estallido social", os atos tiveram início com a insatisfação pelo aumento das tarifas do transporte público, mas depois alargaram sua agenda para críticas à desigualdade social.