Itália elege anti-LGBT para presidir Câmara e fã de Mussolini para chefiar Senado
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um político pró-Rússia e anti-LGBTQIA+ foi eleito presidente da Câmara dos Deputados da Itália nesta sexta-feira (14), um dia depois de um fã de Mussolini se tornar presidente do Senado.
A escolha dos nomes para comandarem o Parlamento sinaliza um perfil mais radical para o virtual governo de Giorgia Meloni, apesar de sua tentativa de passar uma imagem de moderada durante a campanha.
Eleito para chefiar a Câmara com 222 votos de um total de 400, Lorenzo Fontana é filiado à Liga, partido de ultradireita integrante da coligação que elegeu Meloni. Figura controversa na Itália, o político de 42 anos é conhecido por suas posições socialmente conservadoras e eurocéticas. "Precisamos recuperar um pouco do orgulho de quem somos", disse ele ao Parlamento nesta sexta.
Católico e radicalmente contra o aborto, Fontana já ocupou o cargo de Ministro da Família, entre 2018 e 2019. Durante o mandato afirmou que famílias gays não existem e que todas as crianças devem ter um pai e uma mãe, além de defender que filhos de casais homoafetivos nascidos no exterior não fossem reconhecidos na Itália. Ele também afirmou que o casamento gay e a imigração em massa ameaçavam acabar com as tradições italianas.
Fontana já pediu a revogação de uma lei antifascista e antirracista instaurada em 1993 que torna crime propagar ideias baseadas em superioridade ou ódio racial ou étnico.
Ele também admira o presidente russo, Vladimir Putin, a quem disse considerar "uma luz brilhante até para nós no Ocidente". Após a anexação da Crimeia pela Rússia, em 2014, pediu repetidas vezes o fim das sanções impostas pela União Europeia contra Moscou. Anos mais tarde, em referência a Putin, disse ter ficado "favoravelmente impressionado pelo grande despertar religioso cristão visto em seu país".
Já o presidente do Senado, Ignazio La Russa, eleito nesta quinta-feira (13) com 116 votos de um total de 200, é um expoente histórico da ultradireita italiana e cofundador do partido Irmãos da Itália, junto com Giorgia Meloni.
La Russa, 75, foi ministro da Defesa do governo de Silvio Berlusconi (2008 - 2011) e era vice-presidente do Senado desde 2018.
Sua ligação com Benito Mussolini vem de família, dado que seu pai foi secretário do partido fascista do ditador. La Russa -cujo nome do meio é Benito- iniciou sua carreira política na ala jovem do Movimento Social Italiano, partido fundado em 1946 por admiradores do líder fascista. Em um vídeo de 2018, ele mostra a repórteres bustos, fotos, medalhas e mini-estátuas de Mussolini que guarda em casa.
Ao tomar posse, agradeceu aos votos que recebeu, inclusive dos senadores que não fazem parte da maioria da direita na casa, e disse que não se deve temer mudar a Constituição --seu partido pretende mudar o sistema político do país do parlamentarismo para o presidencialismo.
O novo Parlamento da Itália foi inaugurado nesta quinta, com a nomeação dos 400 deputados e 200 senadores eleitos no fim de setembro. "Será um Parlamento claramente deslocado para a direita, com o partido mais forte situado no ponto extremo", disse à Folha Donatella Della Porta, professora de ciência política da Escola Normal Superior de Florença.
Meloni deve ser nomeada primeira-ministra antes do final do mês, depois de ser eleita por um trio de partidos conservadores --seu próprio Irmãos da Itália, a Liga de Matteo Salvini e o Forza Italia, liderado pelo ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi.
Montar um governo, contudo, está se mostrando mais difícil do que o esperado, com Berlusconi particularmente furioso pela recusa de Meloni em satisfazer seus pedidos de cargos importantes no gabinete.
O estado de humor de Berlusconi ficou claro em uma foto de um bilhete escrito por ele no Parlamento, na quinta. "Giorgia Meloni, seu comportamento 1) arrogante, 2) dominador, 3) arrogante, 4) ofensivo. Sem vontade de mudar, ela é alguém com quem você não pode se dar bem", dizia a nota, cuja imagem se espalhou nas redes sociais.