Rússia elogia e Ucrânia critica proposta de Elon Musk para fim da guerra
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em um dia em que Moscou e Kiev afastaram ainda mais a possibilidade de alguma negociação de paz para encerrar a guerra decorrente da invasão da Ucrânia por Vladimir Putin em fevereiro, coube a um bilionário dado a excentricidades roubar o holofote.
Elon Musk, o americano de origem sul-africana que revolucionou o mercado de veículos elétricos com seus Tesla e é um pioneiro da exploração espacial privada, publicou no Twitter na segunda (3) uma proposta para acabar com o conflito.
Segundo ele, a Crimeia anexada em 2014 deve ser russa por ser uma área histórica de Moscou, mas um novo referendo lá e nas regiões que Putin declarou anexadas na sexta (30) seria feito sob supervisão da ONU para definir o destino delas. Além disso, a Ucrânia se declararia neutra, uma demanda russa desde o começo do conflito, visando evitar a Otan e a União Europeia em sua maior fronteira ocidental.
"A Rússia está fazendo uma mobilização parcial. Eles vão para mobilização total de guerra se a Crimeia estiver sob risco. As mortes dos dois lados serão devastadora. A Rússia tem três vezes mais população que a Ucrânia, então a vitória da Ucrânia é improvável em caso de guerra total. Se você se preocupa com a população da Ucrânia, busque a paz", escreveu.
Sem surpresa, Kiev desancou a ideia. O presidente Volodimir Zelenski foi ao mesmo Twitter promover uma enquete para questionar qual é o Musk preferido, o que ajuda a Ucrânia com críticas a Moscou ou o que "apoia a Rússia".
Musk tem papel ativo na guerra, e não pequeno. Logo no começo do conflito, com dificuldades de comunicação em solo das Forças Armadas ucranianas, ele deslocou satélites de órbita baixa de sua rede Starlink e os colocou à disposição de Kiev, melhorando a conectividade de banda larga no país --essencial para que drones deem posição correta à artilharia, para começar.
Ele até disse temer ser morto pelo Kremlin por isso.
Igualmente de forma previsível, a proposta de Musk foi elogiada pelo Kremlin. "É muito positivo que alguém como Elon Musk esteja buscando uma solução pacífica para a situação. Comparado a muitos diplomatas profissionais, Musk ainda está buscando meios para chegar à paz. E chegar a ela sem preencher as condições da Rússia é absolutamente impossível", disse o porta-voz Dmitri Peskov.
Enquanto Musk levou o tema para o campo da "treta de Twitter", na vida real russos e ucranianos selaram a impossibilidade do diálogo. Zelenski assinou nesta terça (4) um decreto proibindo Kiev de negociar a paz com a Rússia enquanto Putin for presidente, no que foi ridicularizado por Peskov.
Já o presidente russo, segundo seu porta-voz, irá sancionar as leis que oficializam a anexação do Donbass (Lugansk e Donetsk, no leste) e das áreas sulistas de Zaporíjia e Kherson. Ele decretou a medida na sexta, mas nesta segunda e terça as duas Casas do Parlamento a ratificou, uma mera formalidade burocrática num Estado dado a legalismos mesmo de ações universalmente condenadas como ilegais.
Os decretos e as leis não estabelecem as fronteiras exatas pretendidas pela Rússia, uma pegadinha que deixa no ar qual a linha vermelha estabelecida por Putin para ir em frente com sua ameaça de empregar armas nucleares para defender o que considera seu território.